Coluna Vitor Vogas
Eleições 2026: “Atendi à convocação pro Senado”, diz Rose de Freitas
Análise: as dificuldades e obstáculos no caminho da ex-senadora para viabilizar a pré-candidatura e como ela responde a cada um

Rose de Freitas foi senadora entre fevereiro de 2015 e janeiro de 2023. Foto: Divulgação (Senado)
“Se você estiver disputando uma vaga no seu jornal e tiver mais alguém, você vai desistir?”, perguntou-me, com bom humor, a ex-senadora Rose de Freitas, devolvendo minha pergunta com outra. Respondi que não, que lutaria pela vaga. “Sou da sua família!”, replicou Rose, espirituosa. Minha pergunta à ex-senadora havia sido se sua pré-candidatura ao Senado estava mantida. Rose iniciou desse jeito sua resposta para enfatizar: não vai desistir. Está determinada a lutar, politicamente, para ser uma das candidatas ao Senado, daqui a menos de um ano, na coligação majoritária do governo de Renato Casagrande e de Ricardo Ferraço.
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Mais que a um “chamamento”, Rose diz ter atendido a uma “convocação”:
“Essa coisa de você ‘querer’ é uma coisa individual. Mas política não é individual. Política é coletiva. Quando as pessoas se manifestam, e isso é em todo lugar, me sinto um pouco irresponsável se eu não for capaz de responder. Pedi um tempo. Me deram um tempo. Pensei, analisei, e o Senado é muito importante para o Espírito Santo. Cada voto no Senado vale muito. Não vou dizer que temos perdido espaço. Vou dizer que é preciso lutar por mais coisas pelo Espírito Santo. E aí vieram frases, veio uma campanha, veio pra mim um chamamento que eu analisei, ponderei, ouvi muita gente. Então topei: coloquei o nome à disposição. Não é chamamento. É convocação, porque as pessoas dizem: ‘Queremos ver o Senado atuando em favor do Espírito Santo’”.
Rose responde que só pensa em ser candidata por seu atual partido, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), pelo qual chegou ao Senado em 2014 e no qual tem uma longa trajetória. Após breve passagem pelo Podemos, ela refiliou-se ao MDB em princípios de 2021 e, por dois anos e meio, exerceu a presidência estadual da legenda, comandada no Espírito Santo por Ricardo Ferraço desde outubro de 2023.
A ex-senadora afirma já ter conversado sobre o assunto com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, e que tem nele um dos incentivadores de sua pré-candidatura. “Sim, já falei com ele. Se você me perguntar se foi como uma ‘satisfação’, não foi. Foi uma conversa que ele me chamou pra ter, sobre a importância do Senado. Ele é um dos incentivadores, inclusive.”
Rose também declara que não pensa em ser candidata a deputada federal – cargo exercido por ela ao longo de seis mandatos, espalhados por quatro décadas (entre 1986 e 2014). Em 2022, sob a presidência de Rose, o MDB não conseguiu lançar chapa à Câmara dos Deputados no Espírito Santo. No momento, sob o comando de Ricardo, o partido tem o desafio de conseguir montar uma.
“Eu vi as pesquisas. Todas elas: as verdadeiras e as falsas. E a que me convocaram foi a questão do Senado Federal… porque tem muita gente defendendo uma anistia, defendendo aí pena de morte, defendendo restrições às vagas de mulheres. Tomei a posição com aqueles que me convocaram ao Senado”, reitera a ex-senadora, antecipando alguns dos posicionamentos defendidos por ela – contra a anistia a participantes da trama golpista, por exemplo – e motivações para querer retornar ao Senado.
Ela também reergue aquela que é por certo sua maior bandeira parlamentar, sedimentada ao longo de seus sete mandatos no Congresso Nacional: “Você sabe que eu sou municipalista. Fui a primeira parlamentar do Brasil a falar essa palavra e acho que ela tem fundamento mesmo”.
Por sinal, a entrevista de Rose foi dada no Salão São Tiago, o principal do Palácio Anchieta, na tarde de quinta-feira (30), logo após lançamento de livro do deputado federal Gilson Daniel (Podemos). Antigo aliado de Rose, o deputado também tem feito um mandato “municipalista” na Câmara. Seu livro instrui gestores municipais sobre algo em que Rose é uma notória especialista: como prospectar recursos federais em Brasília.
Ao atender a imprensa, no meio de um salão lotado de agentes políticos do interior, Rose foi bastante tietada. A entrevista foi intercalada por selfies, abraços e frases como “saudades de você” e “bom te rever”.
Análise: as grandes dificuldades no caminho de Rose (e uma alternativa)
Rose, como se vê, está irredutível, mas a viabilização de sua pré-candidatura não é fácil, muito menos garantida. Dentro do mesmo grupo político, há concorrentes pesados – e este é um dos fatores que justificam minha primeira pergunta, acima, feita à ex-senadora. Na grande coligação partidária desenhada no Palácio Anchieta, só haverá, pela lógica, dois candidatos ao Senado. O primeiro deles, muito provavelmente, será o próprio Renato Casagrande, pelo PSB. Restará uma vaga, a ser disputada por aliados governistas, como Rose.
Além dela, o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, pôs o bloco na rua em agosto, está em plena pré-campanha ao Senado e já até afirmou que não tem volta: vai renunciar em abril para se candidatar à Câmara Alta, enquanto sua vice, Shymenne de Castro (PSB), já disse estar preparada para assumir o cargo de prefeita. Euclério tem dito que, para ser candidato, pode até mudar de partido, mas hoje está no MDB, mesma agremiação de Rose, o que o torna um concorrente interno para a ex-senadora.
Isso sem mencionar a pré-candidatura do ex-prefeito de Vitória, Luiz Paulo, já anunciada por ele, pelo PSDB – que estará na coligação governista –, e a possível candidatura do deputado federal Josias da Vitória (PP) nessa chapa, se a Federação União Progressista ficar no projeto de Casagrande e Ricardo.
O vice-governador, aliás, é a principal aposta do Palácio Anchieta para encabeçar tal coligação, como candidato a governador. Ricardo é o presidente estadual do MDB e já declarou que só será candidato pela sigla (a mesma de Rose). Tecnicamente é possível, mas, do ponto de vista político, é improvável que o MDB ocupe duas das três candidaturas majoritárias na mesma chapa. Mais provável que o segundo posto de candidato/a ao Senado seja usado para atrair e prestigiar outro partido na coligação.
Como analisado aqui anteriormente, Rose não pode ser subestimada. Mesmo há quase três anos sem mandato, tem a popularidade e o capital político consolidados, próprios de alguém que passou quase quatro décadas no Congresso. É ainda muito celebrada por prefeitos, vereadores etc., sobretudo os de cidades do interior capixaba, devido à sua intensa atuação municipalista enquanto foi congressista. Em 2022, perdeu a reeleição para Magno Malta (PL), mas foi por pouco, tendo obtido quase 800 mil votos. E ninguém pode duvidar de sua tenacidade: quando traça um objetivo, ela de fato luta por ele até o fim.
Seja como candidata, seja como cabo eleitoral (de Ricardo Ferraço, por exemplo), a ex-senadora na certa cumprirá papel relevante nas eleições estaduais de 2026. A tietagem sobre ela no Salão São Tiago na quinta-feira prova o prestígio que ela preserva junto a uma parcela expressiva da classe política capixaba.
Isso posto, é preciso admitir que uma candidatura de Rose ao Senado, hoje, soa bastante difícil, haja vista a conjuntura político-eleitoral do Espírito Santo e a fortíssima concorrência pela mesma posição dentro do mesmo grupo político. Rose já não está no auge de sua forma política. Como dizem, “a fila anda”, e tem muita gente na mesma fila, gente com menos tempo de política, ansiosa por uma chance de também chegar aonde a ex-senadora já esteve.
O MDB procura e precisa urgentemente de um(a) puxador(a) de votos em sua chapa de candidatos a deputado federal, que pode ter até 11 postulantes. Não se pode descartar eventual candidatura de Rose a deputada federal – ainda que, no momento, ela prefira não cogitar a alternativa.