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Coluna Vitor Vogas

Do Val pode se colocar em isolamento político, avalia Casagrande

“Sempre que você começa a arrumar confronto com muita gente, acaba talvez correndo o risco de isolamento”, diz governador. Senador conseguiu desagradar a bolsonaristas e a apoiadores do governo Lula

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O senador Marcos do Val (Podemos) pode colocar a si mesmo em situação de isolamento político, inclusive no Senado, por ter contrariado, ao mesmo tempo, bolsonaristas e apoiadores do governo Lula (PT). A avaliação é do governador Renato Casagrande (PSB), em resposta a um questionamento da coluna na manhã desta segunda-feira (6).

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“Sempre que você começa a arrumar confronto com muita gente, acaba talvez correndo o risco de isolamento. Esse é um risco que ele corre. É um risco que ele tem que calcular se existe ou não. Mas quem está de fora pode de fato fazer essa avaliação do risco que ele está correndo em relação ao isolamento”, opinou Casagrande.

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O governador não quis opinar se o senador pode ter praticado algum ilícito ao participar da reunião, relatada por ele mesmo à revista Veja, em entrevistas coletivas e em depoimento à Polícia Federal na tarde da última quinta-feira (2). 

“Não sei. É difícil a gente fazer uma avaliação superficial de assuntos que a gente não vivenciou. Reuniões que ele diz terem acontecido a gente não tinha informação. São informações que ele traz a público, em alguns momentos contraditórias, então é muito difícil a gente fazer uma avaliação”, disse Casagrande.

O chefe do Executivo estadual afirmou ter conversado com Do Val na semana passada, antes da eleição da Mesa Diretora do Senado, mas não ter voltado a falar com o senador após as revelações de Do Val virem a público. 

Eleito para o Senado em 2018 pela coligação liderada por Casagrande, Do Val pode ser considerado um aliado do governador. Inclusive, declarou apoio à reeleição do socialista no ano passado, apesar de também ter defendido a reeleição de Bolsonaro para a Presidência. Foi um dos expoentes do voto “Casanaro” no Espírito Santo. 

“Não temos tido relacionamento próximo, mas não temos problema no relacionamento”, afirmou o governador, sem no entanto negar as divergências ideológicas a separá-los:

“Sim, claro, há divergência ideológica. Mas, como sei conviver com quem pensa diferente, convivo com ele e trato dos temas de interesse do Estado na hora em que é preciso”.

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Já Do Val, embora recuse a classificação “bolsonarista”, é um senador assumidamente de direita e muito alinhado a bandeiras clássicas do bolsoanarismo, como a pauta armamentista e a defesa enfática do “tratamento precoce” para a Covid-19, com uso da hidroxicloroquina, no auge da pandemia do novo coronavírus.

Como o próprio senador declarou à imprensa na última quinta-feira (2), ele estava em vias de se filiar ao Partido Liberal (PL), sigla de Bolsonaro, a convite do presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto. Na manhã de sexta-feira (3), em uma live, chamou de “parceiraços” o senador Flávio Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filhos do ex-presidente.  

Entenda o caso

Segundo o próprio Do Val, ele reuniu-se no dia 9 de dezembro com o então deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) e com Jair Bolsonaro (PL), a convite do então presidente, no Palácio da Alvorada. 

No encontro, de acordo com o senador, ele ouviu uma proposta para participar de uma “missão” que “salvaria a nação”: pedir audiência com o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, e usar um grampo ilegal durante a conversa para registrar alguma fala comprometedora do ministro. 

O objetivo era levar Moraes à prisão, anular as eleições vencidas por Lula (PT) e manter Bolsonaro no poder: um golpe de Estado. Do Val “declinou da missão”. 

Foi o que o próprio senador relatou à revista Veja. De acordo com essa primeira versão, o plano teria sido apresentado a ele pelo próprio Jair Bolsonaro. Na madrugada de quinta-feira, em live com o MBL, Do Val disse que o então presidente o coagiu para ajudá-lo a dar um golpe de Estado e que ele logo denunciou o plano. 

Já na manhã de quinta-feira (2), porém, o senador começou a mudar a própria narrativa. Desde então, já  deu várias versões conflitantes. A maior contradição diz respeito ao grau de participação de Bolsonaro nos eventos.

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Da manhã de quinta em diante, após conversar com filhos de Bolsonaro, o senador passou a atenuar o envolvimento do então presidente na conspirata. Sem desmentir a reunião de 9 de dezembro no Alvorada, passou a afirmar que a ideia e a exposição do plano partiram de Daniel Silveira e que, durante a conversa, Bolsonaro permaneceu em silêncio.

Na última sexta-feira (3), em entrevista à CNN, Do Val anunciou sua intenção de protocolar na Procuradoria-Geral da República pedido de suspeição do ministro Alexandre de Moraes para seguir presidindo o inquérito que apura os atos golpistas. Isso porque o senador teria levado os planos golpistas de Silveira e Bolsonaro ao conhecimento do ministro. 

Na tarde de sexta-feira, Moraes instaurou novo inquérito para apurar especificamente os relatos de Do Val e investigar o senador pela possível prática dos crimes de falso testemunho e denunciação caluniosa.

O governo Lula e aliados do presidente desconfiam que no fundo o objetivo de Do Val sempre foi atingir Moraes, colocando-o sob suspeição, e o atual governo petista, dando elementos para a instauração de uma CPI sobre atos golpistas no Congresso, com viés contrário à atual administração. O verdadeiro alvo desde o início seriam esses, e não Bolsonaro. Por essa perspectiva, Do Val na verdade estaria a serviço do ex-presidente. 

Essa é a suspeita mantida, por exemplo, pelo ministro das Relações Institucionais do governo Lula, Alexandre Padilha (PT).

Na noite de quinta-feira, Do Val chegou a postar em seus stories no Instagram a foto de um calendário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), dizendo se tratar de um relatório com o qual cairiam Lula e o atual ministro da Justiça, Flávio Dino (do PSB, partido de Casagrande). Posteriormente apagou a publicação.

Luís Roberto Barroso: “democracia militante”

A avaliação de Casagrande foi emitida no Palácio Anchieta, nesta segunda-feira (6), após palestra do ministro do STF Luís Roberto Barroso no Salão São Thiago. O ministro preferiu não comentar os episódios narrados por Marcos do Val:

“Só julgo nos autos. Portanto, o dia em que chegar alguma coisa nesse sentido para eu eventualmente julgar, você vai saber minha opinião. Antes disso, é uma mera especulação. Aí é um tema para os comentaristas políticos.”

O ministro saiu, todavia, em defesa do seu colega na Corte Alexandre de Moraes:

“Acho que  o ministro Alexandre tem desempenhado, e bem, o papel que lhe tocou, com o apoio do tribunal. Portanto, é um momento histórico brasileiro, e a circunstância histórica brasileira é que exigiu uma democracia militante para enfrentar uma situação excepcional. E acho que ele se sai muito bem e tem podido fazer tudo isso porque tem o apoio do tribunal.”

 


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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 38 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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