Coluna Vitor Vogas
Como está a disputa pelo comando do PT no Espírito Santo
Já foi oficialmente deflagrado o processo para eleição direta do próximo presidente do partido no Estado. Saiba quem está (ou não) no páreo

Da esquerda para a direita: Contarato, João Coser, Jack Rocha e Helder Salomão
O Partido dos Trabalhadores (PT) decidirá quem será seu próximo presidente no Espírito Santo, no dia 6 de julho. No Processo de Eleição Direta (PED), os filiados ao partido votarão para escolher o presidente e a Comissão Executiva Estadual, um ano antes das próximas eleições gerais no país e no Espírito Santo.
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O PED se dará simultaneamente em todos os níveis. No mesmo dia, será eleita a nova direção nacional e as direções nos estados e municípios, que terão mandato de quatro anos. A votação é direta e secreta.
Oficialmente, o processo já foi deflagrado. O pontapé inicial foi dado na manhã da última terça-feira (18), em reunião da atual Executiva Estadual, para organização do processo. Foi formada uma Comissão de Organização Eleitoral Estadual, presidida por Marlene Binda, secretária estadual de Organização do PT.
O prazo para inscrição de candidaturas já está em andamento. Nos municípios, é de 12 de março a 14 de abril; no Estado, de 11 de março a 28 de abril.
Esse é o primeiro PED realizado desde 2019. Nos últimos seis anos, o partido de Lula é presidido no Espírito Santo pela hoje deputada federal Jack Rocha, da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), a mesma do presidente da República. Em 2019, Jack, que não tinha mandato, derrotou o deputado federal Helder Salomão em disputa apertadíssima, realizada em congresso estadual e decidida por incríveis dois votos.
Helder representa um campo alternativo formado pela corrente dele, a Resistência Socialista, e por outras como a Articulação de Esquerda, da deputada estadual Iriny Lopes. No triunfo de Jack sobre o deputado em 2019, foi determinante a aliança da corrente dela, a CNB, com a do hoje deputado estadual João Coser, chamada Alternativa Socialista (AS). Desde então, essas duas forças internas, juntas, formam a maioria e hegemonizam o órgão diretivo estadual. Até hoje, a aliança se mantém no Estado. Até hoje.
Inicialmente, o mandato de Jack Rocha na presidência iria até 2023, mas, naquele ano, a cúpula nacional do PT decidiu estender automaticamente por dois anos os mandatos então vigentes, para não acirrar disputas internas num momento em que a prioridade era manter a unidade após o retorno ao poder central.
Agora, nos bastidores do partido, dois nomes circulam como possíveis candidatos à presidência: justamente, os de Coser e de Jack.
A atual presidente pode ser considerada uma “candidata natural” à reeleição, pela CNB. Ela mesma ainda não fala em candidatura. Aliados dela, sim.
Por sua vez, Coser com certeza é candidato à presidência. O ex-prefeito de Vitória prefere não abordar o assunto a esta altura do jogo, mas fontes ligadas a Coser asseguram que ele é o candidato da sua corrente, a AS, e que já está se movimentando para isso. O objetivo estratégico é construir unidade, ou seja, Coser e seu grupo almejam que ele seja o candidato de consenso de todas as correntes, da hoje aliada CNB às, por assim dizer, mais distantes, reunidas no campo de Helder e Iriny.
Na última segunda-feira (17), Coser e outros membros da AS estiveram com integrantes da CNB. Foi a primeira reunião dos dois grupos para discutir a eleição interna. Antes disso, o deputado estadual já havia tido conversas com integrantes do campo Para Voltar a Sonhar – Helder incluído.
Segundo um interlocutor de Coser, a possibilidade de um acordo com o campo de Helder já estaria bem encaminhada.
Quanto à CNB, se Jack Rocha decidir pleitear a reeleição, pode se desenhar uma quebra da aliança com a corrente de Coser e uma disputa entre os respectivos líderes dos dois grupos que, unidos, controlaram o PT nos últimos anos no Espírito Santo – desde os tempos de Bolsonaro no poder.
Uma fonte da corrente de Coser alude a um suposto acordo de bastidores que teria sido firmado no último PED, em 2019, e que teria sido determinante para a vitória de Jack Rocha naquela disputa interna com Helder: a Alternativa Socialista, de Coser, teria topado apoiar a candidata da CNB sob a condição de receber de volta o apoio da CNB na eleição seguinte. Em outras palavras, eles teriam combinado um revezamento. Ninguém na CNB confirma isso.
Uma penúltima questão, que ainda jaz sem resposta, é se o campo de Helder, Para Voltar a Sonhar, lançará seu próprio candidato ou se desta vez apoiará outro companheiro, em nome da unidade do partido. Os membros do campo têm plenária marcada para esta quinta-feira (20), justamente para discutirem o PED.
Indagado pela coluna, o próprio Helder, figura eminente do partido e cotado até para concorrer a governador, diz que, a princípio, não pretende se candidatar. E faz um discurso na linha de que o mais importante no momento é a unidade partidária e a busca de “um nome de consenso”:
“A princípio, não sou candidato a presidente estadual do PT. Vamos ouvir todas as forças do partido na Grande Vitória e no interior e vamos buscar ter um nome de consenso. Deverá haver mais de um nome na disputa, mas estamos tentando diminuir ao máximo a possibilidade de uma disputa mais acirrada”.
Por fim, é preciso ainda saber quem é que Contarato apoiará nesse processo. Hoje o político mais proeminente do PT capixaba, o senador ingressou no partido em 2022 e, desde então, não aderiu a nenhuma tendência interna. Faz, por assim dizer, uma militância mais fluida, desvinculada de correntes. Mas sua palavra no processo pode ter um grande peso.
Questionado por nós sobre seu posicionamento no PED, o senador afirma que não será candidato e defende uma autocrítica e uma revisão na condução do PT estadual. Para ele, o próximo presidente, seja ele quem for, tem uma tarefa a cumprir:
“Não penso em colocar meu nome à presidência do partido. Mas penso que o partido precisa fazer uma autoanálise. O PT precisa ser fortalecido nos 78 municípios capixabas. Vou lutar para que quem quer que esteja à frente do partido, a Jack ou algum outro companheiro, promova esse fortalecimento”.
No dia 6 de julho, poderão votar no PED todos os filiados ao PT registrados até 28 de fevereiro.
