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Coluna Vitor Vogas

Análise: os três caminhos de Audifax no 2º turno da Serra

Decisão do ex-prefeito pode ajudar a definir o próximo prefeito da maior cidade do ES. O que pode levá-lo a apoiar Weverson? O que pode levá-lo a optar por Muribeca? Respondemos e analisamos aqui os prós e contras de cada alternativa. Uma coisa é certa: neutralidade será eutanásia política

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Sergio Vidigal, Audifax Barcelos e Pablo Muribeca. Foto: Reprodução

Após ser derrotado no 1º turno e amargar o revés mais inesperado destas eleições municipais no Espírito Santo, o ex-prefeito Audifax Barcelos (PP) anunciará nesta quarta-feira (9), às 15 horas, seu posicionamento no 2º da disputa pela Prefeitura da Serra. Mais que ajudar a decidir a eleição no próprio reduto, o posicionamento de Audifax no princípio do 2º turno virou, inegavelmente, questão de sobrevivência política para ele mesmo.

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A neutralidade é um caminho? Sim, não deixa de ser. Mas, na minha avaliação, corresponderia à eutanásia política. Mais provável que Audifax marque posição (ainda que seja um “apoio crítico”) a favor de um dos candidatos finalistas: Weverson Meireles, do PDT (39,5% no 1º turno), ou Pablo Muribeca, do Republicanos (25,2%).

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Do ponto de vista do próprio Audifax, quais são os possíveis prós e contras dos dois caminhos que se abrem diante dele nessa encruzilhada em que se encontra? É o que passamos a analisar.

O que pode pesar a favor de Weverson

Em primeiro lugar, sei de fonte segura, seguríssima, que, até o ano passado, ainda na fase preparatória da sua campanha, Audifax manifestava, muito reservadamente e a interlocutores muito próximos, seríssimas restrições a Muribeca e preocupação sincera com eventual chegada do deputado e ex-vereador à Prefeitura da Serra. As preocupações estavam ligadas à dimensão da ética.

Isso foi há muitos meses. A campanha estava longe de começar. Não quer dizer que haja um veto de Audifax ao nome de Muribeca, tampouco que ele esteja necessariamente mais propenso a se posicionar ao lado de Weverson. Mas é um ponto a se considerar. Um primeiro fator, portanto, que pode levar o ex-prefeito a declarar apoio (ou “apoio crítico”) ao candidato de Sergio Vidigal (PDT) é uma possível preocupação sincera relacionada ao campo ético.

Um segundo ponto é o seguinte: pragmatismo em estado puro. Se há uma “verdade” sedimentada ao longo dos anos na política serrana, com uma alta dose de ironia, é que Vidigal e Audifax são políticos de perfis parecidos, não obstante a rivalidade política que os separa e as pequenas diferenças de estilo (este um pouco mais gestor, aquele um pouco mais sensível à voz das ruas…). O que quero dizer com isso é que na prática, por mais irônico que seja, o eleitorado dos dois também tem perfil parecido.

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O eleitor que gosta de Audifax também gosta de Vidigal. O eleitor que vota em Vidigal também vota em Audifax. Esse mesmo eleitor, aliás, deve ter quase pirado em 2012 e 2016, quando os dois se enfrentaram diretamente nas urnas (com Audifax levando a melhor nas duas oportunidades).

E não percamos de vista: Weverson é o “candidato de Vidigal” e foi vendido exatamente assim ao público por seu marketing durante toda a campanha. Portanto, o que tende a fazer agora esse eleitor de Vidigal que votou em Audifax porque não tinha Vidigal na urna ou esse eleitor de Audifax que também simpatiza com Vidigal? Agora, na ausência de Audifax, esse eleitor tende a correr para Vidigal… e, ao procurar Vidigal, quem é que ele vai encontrar? Weverson Meireles.

Atenção: esse movimento migratório, ou melhor, esse refluxo de eleitores de Audifax para Weverson/Vidigal, já começou a se observar justamente nos dias finais do 1º turno, desaguando nas urnas no domingo. Os pontos percentuais que inflaram Weverson no sprint final saíram, na maior parte, das intenções de voto de Audifax.

O ex-prefeito com certeza sabe disso. Sabe que seu “eleitor raiz” se identifica muito mais com Vidigal do que com Muribeca… e sabe que, exatamente por isso, a maior parte do seu eleitorado tende a afluir para Weverson (não por causa deste, mas por causa de Vidigal).

E, por isso, talvez prevaleça em Audifax a conclusão de que…

1) Weverson, neste momento, passou de azarão a favorito. Não foi por acaso, nem por outro motivo, que já em meados de julho Vidigal afirmava a esta coluna: “O nosso maior desafio é levar Weverson para o 2º turno. Se ele chegar ao 2º turno, será o novo prefeito da Serra”;

2) O eleitor do ex-prefeito, também simpatizante de Vidigal, pode até estranhar eventual apoio dele a Muribeca, precisamente o maior opositor do atual prefeito, com perfil radicalmente diferente ao de Vidigal e Audifax (não tanto pela idade como pelo jeito de fazer política);

3) Por tudo isso, não adianta remar contra a maré, sob pena de contrariar os próprios eleitores que lhe restam (perto de 60 mil) e pelos quais precisa zelar muito se ainda nutre alguma aspiração política nos próximos anos.

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Em tempo, se Audifax declarar apoio a Weverson, o candidato de Vidigal – ainda que seja um “apoio crítico” e sem entrar pessoalmente na campanha –, o fato em si já será histórico o bastante.

Eventual apoio de Audifax ao “candidato do Vidigal” poderá não necessariamente significar uma reconciliação política, mas, no mínimo, será uma trégua e uma aproximação em prol de uma visão compartilhada: a união, ainda que pontual, para derrotar um adversário em comum, enxergado por ambos como uma “ameaça maior” ao município. Já será histórico o bastante.

Agora, se Audifax chegar a literalmente pisar no palanque de Weverson, o que acho muito difícil, aí, meus amigos e amigas, testemunharemos a história sendo escrita diante dos nossos olhos.

O que pode pesar a favor de Muribeca

Se Audifax se manifestar a favor de Muribeca, terá muito maior poder de barganha e muito maior probabilidade de participação e influência real em eventual governo do deputado do Republicanos na Serra.

Poder de barganha maior porque, largando bem de trás no 2º turno, Muribeca precisa neste momento do apoio de Audifax muito mais do que Vidigal e Weverson o necessitam. Maior probabilidade de participação e influência no governo porque, justamente por precisar mais, Muribeca pode estar disposto a ceder mais ao ex-prefeito, politicamente falando.

Já do lado de Weverson, mesmo que haja uma aproximação eleitoral para derrotar Muribeca, é muito difícil imaginar Audifax participando da gestão do pupilo de Vidigal e tendo qualquer tipo de protagonismo no próximo governo do PDT. Será uma aproximação eleitoral, circunstancial, e ponto. Dificilmente irá além.

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Ademais, o partido de Audifax, PP, está bem mais próximo hoje, no plano estadual, do grupo político de Muribeca, assentado no Republicanos. Já o grupo de Weverson e Vidigal está atrelado ao governo Casagrande (PSB) e vinculado ao movimento político liderado pelo governador, principal apoiador e cabo eleitoral de Weverson, depois do próprio Vidigal.

Audifax rompeu com Casagrande em 2022. Ficará do mesmo lado dele agora na Serra?

Em outras palavras, pensando do modo mais pragmático e pessoal possível, Audifax pode avaliar que tem muito mais a ganhar em eventual vitória de Muribeca com o seu apoio do que em eventual vitória de Weverson com o seu apoio.

Priorizando o próprio futuro político, o ex-prefeito pode concluir que tem mais frutos a colher na política local e estadual se ficar do lado de Muribeca, ainda que isso signifique ir para um risco muito grande, e do lado do movimento agora capitaneado pelo Republicanos, contra o grupo de Casagrande, com vistas às próximas eleições estaduais, em 2026.

É um movimento que desemboca no Palácio Anchieta e que passa também por Vitória e por eventual candidatura do prefeito reeleito da Capital, Lorenzo Pazolini, ao Governo do Estado…

Também por isso, não será surpresa alguma se o próprio Pazolini, com a sua reeleição já resolvida, entrar de algum modo na campanha de Muribeca para ajudar o correligionário a chegar ao poder na Serra. Aí ninguém segura o Republicanos em seu projeto de expansão política no Espírito Santo. Mas isso é assunto para outra análise.

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Em tempo… e o PP?

Uma coisa é o apoio de Audifax, filiado ao Progressistas (PP) no fim do ano passado, para disputar esta eleição, e sem vínculo forte com o partido nem cargo na direção interna. Outra coisa é o posicionamento oficial do próprio PP.

Para qual lado rumará o partido presidido no Espírito Santo pelo deputado federal Josias da Vitória?

Ele é muito próximo politicamente de Marcelo Santos (União Brasil). No Big Four da Grande Vitória, o presidente da Assembleia Legislativa ganhou com Pazolini em Vitória, com Arnaldinho em Vila Velha e com Euclério na sua Cariacica… para completar o full house, só lhe falta a vitória de Muribeca, apoiado por ele na Serra.

Do Big Four, aliás, a Serra foi o único município onde Marcelo e Da Vitória estiveram em palanques diferentes no 1º turno.

No 1º turno.


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