Coluna Vitor Vogas
Audifax: do “tô vivo” em 2016 ao “preciso sobreviver” agora
Após não ter feito sucessor, ter perdido para governador em 2022 e ter ficado fora do 2º turno agora na Serra, ex-prefeito respira por aparelhos na política
A eleição à Prefeitura da Serra em 2016 entrou para os livros de história política do Espírito Santo e para os manuais de marketing eleitoral como um case. Por décadas, será lembrada por conta da virada antológica de Audifax Barcelos sobre Sergio Vidigal. No auge da campanha, Audifax mergulhou em um quadro grave de pneumonia e passou semanas internado num hospital, entre a vida e a morte. O então prefeito chegou a ser desenganado. Mas sobreviveu.
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Sobreviveu, mas precisava provar à população da Serra que havia sobrevivido. Muitos duvidavam do “milagre”. Era o que as pessoas se perguntavam nas ruas, o que todos queriam saber – e alguns precisavam ver para crer. Então, em estado comovente, fisicamente em frangalhos, Audifax foi posto, sentado, no alto de um trio elétrico, e passou a reta final do 1º turno a circular pelas ruas e repetir ao microfone, dando “prova de vida” e testemunho vivo do “milagre”: “Serra, estou vivo! Tô vivo!”
Numa campanha que acabou sendo regida pela comoção e ganhando um tom quase bíblico, Audifax passou ao 2º turno e derrotou de virada Vidigal, impondo a segunda e inesperada derrota eleitoral seguida à sua nêmesis. É óbvio que não foi nada planejado. Audifax não escolheu quase morrer. Mas, astutamente, sua campanha fez do limão uma limonada: o fato de ter quase morrido, mas, principalmente, o de ter sobrevivido para contar a história, além da compaixão gerada pelo drama: tudo isso acabou se revertendo em seu benefício.
Ter sobrevivido fisicamente, enfim, ajudou-o a manter-se prefeito. Isso foi há oito anos.
Duas eleições municipais depois, Audifax goza de boa saúde – e oxalá assim continue. Mas a questão de “sobrevivência” que se coloca para o ex-prefeito agora é de outra ordem. O que está em jogo agora é a sua sobrevivência política.
O economista já foi prefeito da Serra por três mandatos, de 2005 a 2008 e, depois, de 2013 a 2020. Mas, desde 2020, está sem cargo eletivo. Tentou ser governador em 2022, mas não teve sucesso, sendo timidamente votado e perdendo a eleição até na Serra. Este ano, candidatou-se de novo à prefeitura da maior cidade capixaba.
Em entrevista ao EStúdio 360, no dia 17 de setembro, perguntamos ao ex-prefeito se voltar ao cargo seria, também, uma questão de “sobrevivência política”. Ele o negou com veemência. Audifax, àquela altura, liderava as pesquisas eleitorais com relativa folga.
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Ao longo de quase toda a campanha, Audifax manteve-se firme, em todas as pesquisas, do Ideb para a Rede Gazeta e da Futura para a Rede Vitória, na casa dos 35% de intenções de voto nos cenários estimulados. Seus dois principais adversários, Weverson (PDT) e Pablo Muribeca (Republicanos), mal apareciam em seu retrovisor, não chegando a 25%.
No sábado, véspera do 1º turno, a última pesquisa do Ipec para a Rede Gazeta revelou indícios de mudanças. Pela primeira vez em todo o processo eleitoral, Audifax deu sinais de queda, enquanto seus dois principais adversários subiram, aproximando-se dele perigosamente.
No domingo, veio a reviravolta: no mais surpreendente resultado destas eleições no Espírito Santo, Audifax, que liderara de ponta a ponta até a véspera, sofreu um inesperado revés: com 23,96% dos votos válidos, nem sequer passou ao 2º turno. Ficou em 3º lugar, vendo seus dois principais rivais irem juntos para a fase decisiva.
Com 25,20% dos votos válidos (3.047 votos a mais que Audifax), o deputado do Republicanos chegou em segundo. O primeiro foi Weverson Meireles (PDT), o candidato de Sergio Vidigal, que largou lá de baixo, mas atropelou na linha de chegada.
Weverson, que não chegava a 10% das intenções de voto em agosto, acabou atingindo 39,66% dos votos válidos no domingo – graças à transferência de votos e prestígio de Vidigal, a uma campanha bem executada e, não se pode ignorar, ao forte uso da máquina pública nas ruas.
Audifax, a princípio, verá o 2º turno de casa. Mas não necessariamente.
Durante a campanha, quando ainda era favorito para passar ao 2º turno, ele ainda podia negar – como de fato fazia – que sua candidatura estivesse também relacionada a uma questão de sobrevivência política. Agora derrotado, parece-me não caber a menor dúvida. Politicamente, mais que nunca, Audifax respira por aparelhos.
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Após não ter conseguido fazer seu sucessor (Fabio Duarte) em 2020, ter sido mal votado para governador em 2022 e não ter conseguido nem passar ao 2º turno desta vez, o ex-prefeito entrou em estado de agonia política.
Até poucos anos atrás, Audifax não sabia o que era sofrer um dissabor eleitoral. Entre 2004 e 2016, obteve quatro vitórias consecutivas nas urnas (três para prefeito e uma para deputado federal, como o mais votado do Espírito Santo). Em 2020 a maré favorável virou e, nos últimos quatro anos, foram três derrotas seguidas (uma com Fabio Duarte e duas pessoalmente).
Por isso o seu posicionamento agora, no princípio do 2º turno, virou, sim, irrefutavelmente, uma questão urgente de sobrevivência política para ele.
Com essa inesperada derrota, Audifax pode ficar oito anos, pelo menos, sem mandato – até 2028. É tempo demais na planície. O eleitor não costuma ter memória de tão longo alcance.
Até a próxima eleição municipal, haverá a estadual de 2026. Mas, estando ele em viés de baixa, uma nova candidatura de Audifax a governador soa improvável. Para o Parlamento (deputado estadual, federal ou senador), ele até pode concorrer… Mas, com perfil de gestor, já demonstrou não sentir vocação para o Legislativo. Pessoalmente, não curtiu sua curta experiência como deputado federal, de 2011 a 2012.
Audifax vive, portanto, um momento crítico, nestas primeiras 72 horas pós-totalização dos votos. Precisa se salvar minimamente. Para tanto, não pode se permitir errar no movimento a ser feito. Este deverá ser muito bem medido, calculado e, principalmente, acertado. O que significa, neste caso, fazer o “movimento acertado”?
Significa escolher o “lado certo”.
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Sem nenhum juízo de valor, moral etc. e com o maior pragmatismo possível: escolher o lado certo, neste caso, é escolher o lado vencedor. Mais ainda: ajudar pessoalmente um dos dois candidatos a vencer a eleição. Assim ele poderá, ao menos, dizer que “ajudou a eleger o próximo prefeito” e manter alguma influência sobre o cenário eleitoral da Serra, durante o 2º turno e depois.
A neutralidade, neste caso, não me parece uma opção para ele, pensando justamente na necessidade premente de salvar a si mesmo e preservar seu capital político.
Não acredito em “jogo zerado”. É óbvio que Weverson, tendo sido o mais votado no 1º turno e vindo em viés de alta, entra no 2º turno com maior probabilidade de vitória – aliás, muda radicalmente de condição, passando de azarão no 1º turno a favorito no 2º. Daí a dizer que a eleição na Serra esteja decidida, vai uma grande diferença.
A eleição está aberta: os 39,6% de Weverson não são mais de 50%, assim como os 25,2% de Muribeca não são mais de 50%. Os 58.643 votos de Audifax são capital político valiosíssimo, que ele deve saber valorizar (e “precificar”) ao máximo. Seus 23,9% de votos válidos, se levados para um lado ou para o outro, podem ajudar a decidir esta eleição. Podem até ser um fator determinante a favor de A ou B.
A campanha de Weverson sabe disso. A de Pablo Muribeca, idem. Nenhum dos dois o admitirá abertamente, para não passar a mensagem de que está se humilhando e com isso se apequenar, mas é certo que, nos bastidores, emissários dos dois farão contatos, no mínimo sondagens, para atrair o apoio de Audifax.
Do ponto de vista do próprio Audifax, quais são os possíveis prós e contras dos dois caminhos que se abrem diante dele nessa encruzilhada em que se encontra? É o ponto que analisaremos mais detidamente aqui, em uma próxima publicação.
O fato é que a bola agora rolou para os pés do ex-prefeito. E, da sua definição, pode depender não só o desfecho da eleição na Serra, mas, acima de tudo, sua própria sobrevivência na política capixaba.
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Derrotas dolorosas para o PP, Da Vitória e Vandinho
Estamos nos concentrando muito na pessoa de Audifax. É até natural, já que ele mesmo, por óbvio, foi quem mais perdeu com a própria derrota. Mas ele não perdeu sozinho.
A derrota do ex-prefeito na Serra também é, fundamentalmente, uma grande e sonora derrota para o Progressistas (PP) e, por extensão, para o deputado federal Josias da Vitória, presidente estadual do partido.
O PP, é verdade, acumulou a prefeitura de 12 cidades capixabas (segundo melhor desempenho nesse quesito, só atrás do PSB), incluindo duas de maior importância: Cachoeiro (vitória de Ferraço) e Aracruz (reeleição do Dr. Coutinho). Mas não cabe a menor dúvida de que a eleição de Audifax na Serra foi não só a maior aposta política como o maior investimento financeiro: o PP pôs nada menos que R$ 2,2 milhões do Fundo Eleitoral na campanha do ex-prefeito.
O gasto se justifica. É proporcional à influência política que o PP poderia alcançar no contexto regional em caso de triunfo de Audifax.
Somando a população das 12 cidades que serão administradas pelo PP a partir de janeiro, o partido governará menos de 500 mil cidadãos nesses municípios. Só a Serra tem mais de 550 mil habitantes (fonte: projeções do IBGE para 2024).
A derrota de Audifax também se estende para o PSDB, que tinha sua candidata a vice, Nilza Cordeiro, e para o deputado estadual Vandinho Leite, presidente estadual do partido e fiador político dessa aliança na Serra. É bem verdade que o PSDB elegeu quatro prefeitos no Espírito Santo, mas todos em cidades pequeninas do interior. Vandinho perde solidariamente com Audifax, no próprio reduto do deputado.
Derrota também na Câmara da Serra
Dos 23 candidatos a vereador eleitos para a próxima legislatura na Serra, só quatro vieram pela coligação de Audifax: duas do PP (Andrea Moreira e Raphaela Moraes) e dois do PSDB (Rafael Estrela do Mar e Leandro Ferraço).
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