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Coluna João Gualberto

O cristianismo conservador

Desde o início desse século XXI, a representação dos interesses mais conservadores tem sido confundida com as teses e práticas morais das igrejas evangélicas

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Nós, no Brasil, de uma forma geral, temos utilizado de forma abusiva o termo Evangélico. Ele tem sido usado para denominar um contingente de pessoas que se comporta de forma conservadora na religião, na sociedade. Temos utilizado também, na mesma direção, a expressão “bancada evangélica” para tratar de vereadores, deputados e senadores que agem, nos parlamentos, na defesa de normas e leis que se apoiam em princípios morais rigorosos e até mesmo fundamentalistas. Tais princípios, no entanto, me parecem comuns às igrejas cristãs de uma forma geral, e ao catolicismo, inclusive. Vou explicar.

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Desde o início desse século XXI, a representação dos interesses mais conservadores tem sido confundida com as teses e práticas morais das igrejas evangélicas, de forma especial as chamadas neopentecostais como Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus, Evangelho Quadrangular, Renascer em Cristo, Igreja Mundial do Poder de Deus e muitas denominações nascidas da Assembleia de Deus, para citar apenas algumas. Na verdade, todas as igrejas até aqui citadas são mesmo conservadoras. Elas não evitam o adjetivo. O que me parece, entretanto, digno de nota, é que o cristianismo brasileiro foi, na maior parte de tempo e na maior parte dos lugares, de corte também muito conservador e não somente os evangélicos.

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Vamos pensar um pouco na história. Quando os europeus atravessaram o Oceano Atlântico, no século XVI, para colonizar a América, estavam ainda imersos na ordem social medieval. Os portugueses que para aqui vieram praticavam um catolicismo totalmente imerso na ideia de cristandade. Como muito bem me explicou em conversa culta e agradável o professor Edebrande Cavalieri, Doutor em Ciências da Religião, vinham com a ideia de que as religiões que aqui encontrassem e praticadas pelos indígenas deveriam ser combatidas. A única fé aceita seria aquela praticada e ensinada pela igreja católica. Ela excluía as novas práticas trazidas pela Reforma Protestante, a fé judaica, e também as crenças que tinham os escravizados trazidos da África.

O catolicismo era religião oficial, obrigatória e organizada pelo Estado Português. O fim da fase colonial nada mudou na organização religiosa, já que o império brasileiro manteve a religião de estado e o culto obrigatório do catolicismo. As funções civis de registro de nascimentos, casamentos e mortes também eram privativas da Igreja Católica, no jovem país que se tornara independente. Foi assim, até o advento da república, já no fim daquele século.

Nossas práticas religiosas cristãs, desde sempre estiveram muito mais vinculadas aos patamares conservadores e fortemente ligadas ao poder e ao estado. Não é por acaso que ainda no início do século, o Cristo Redentor já guardava e protegia a capital da nossa república e várias cidades do interior do Brasil.

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A Ação Integralista Brasileira, uma espécie de fascismo tropical, cresceu no Brasil dos anos 1930, fortemente ligada à igreja católica. Os padres de milhares de paróquias brasileiras eram os maiores cabos eleitorais do partido de direita e conservador que era dirigido por Plínio Salgado. Essa é apenas uma evidência do que estou tentando argumentar. Temos outras, como as marchas com Deus pela Pátria e pela Família, que deu sustentação ao movimento militar de 1964, é outra evidência do que estou expondo.

Acho que não preciso ir mais longe. O cristianismo brasileiro é majoritariamente conservador. Atribuir todo conservadorismo cristão aos evangélicos é um erro que eu mesmo já cometi. A representação desse cristianismo conservador não pode ser atribuída somente aos evangélicos. Não acredito que os católicos tentem discordo do conservadorismo da maioria dos fiéis.


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João Gualberto

João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política.

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