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Coluna Inovação

Gambiarras e hardtechs: engenharia no agro

Hardtechs e deeptechs lideram a neoindustrialização tecnológica no ES, transformando desafios do agro e da indústria em soluções inovadoras

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Neoindustrialização tecnológica. Foto: Arquivo Pessoal

Neoindustrialização tecnológica. Foto: Arquivo Pessoal

A imensa maioria das startups trata de dores que podem ser resolvidas por software, exigindo pouca gente e alguns notebooks.
Dois tipos de startups, entretanto, podem ter um efeito muito maior na solução de grandes problemas, dores mais difíceis de sanar, mas exigem maior conteúdo tecnológico e pessoal com maior formação científica ou técnica. Falamos de hardtechs e deeptechs, muitas vezes referidas como sinônimos. Façamos aqui uma diferença, nem sempre aceita por todos.

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Deeptechs são startups saídas das bancadas de pesquisadores, normalmente com tecnologias inovadoras. Hardtechs poderiam ser restritas ao desenvolvimento feito por engenharia, novas máquinas baseadas em mecânica, hardware e automação, principalmente, embora sempre incluam software. Na realidade crescente da robótica, drones e veículos autônomos em geral vamos sentir ainda mais as diferenças.
Os fundos de venture capital têm mais dificuldade de investir em deeptechs e hardtechs. Os projetos são mais demorados, exigem mais recursos para desenvolvimento e pessoal mais escasso.

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No Brasil percebemos que, apesar da importância do país em mineração e agropecuária, não temos tradição de desenvolvimento das máquinas necessárias para a sua produção. Somos bons de commodities, mas pecamos na falta de cientistas e engenheiros. O número de pessoas formadas por ano nos países, nas áreas de STEM, que envolve ciência, tecnologia, engenharia e matemática, revela a distorção. A China com 3,5 milhões (15 vezes mais que Brasil), Índia 2,5 milhões (10 vezes mais que Brasil) e Estados Unidos 800 mil.

Startups surgem normalmente da percepção das dores observadas no mercado. Mas a profundidade dessa capacidade de percepção depende da formação das pessoas. Um engenheiro bem formado, atualizado na tecnologia, consegue olhar um equipamento ou um processo industrial e perceber uma oportunidade. Alguém sem formação vai perceber dores mais óbvias, que envolvam solução apenas em software.

A indústria metal-mecânica no ES se expandiu do atendimento dos grandes empreendimentos e acabou por se especializar na execução de projetos específicos. Tal modelo consome praticamente a totalidade dos recursos de gestão das empresas do setor na constante busca de contratos para viabilizar sua sobrevivência, não deixando espaço para a criatividade em novas frentes de negócios.

Um projeto inovador do Cdmec – Centro Capixaba de Desenvolvimento da Metal-Mecânica, apoiado pela MCI – Mobilização Capixaba pela Inovação, usa engenheiros observadores para identificar nas indústrias típicas do estado, rochas, móveis, vestuário etc., peças e equipamentos utilizados que poderiam ser objeto de desenvolvimento por empresas locais. O projeto apoia um EVTE(Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica) e a contratação de um projeto de engenharia a ser disponibilizado para uma empresa interessada em produzir.

No ambiente do agronegócio, é possível identificar grande quantidade de verdadeiras gambiarras, feitas por produtores criativos e movidos pela necessidade de resolver uma dor. Pode ser um dispositivo a mais em um trator ou uma engenhoca feita para atender um processo de secagem ou colheita. Para organizar essa inventividade amadora e outras carências, e engenheirar as gambiarras quando viáveis, está sendo organizado um ecossistema de inovação no agro, a partir de várias instituições coordenadas pela Seag e pelo Senar, a partir de uma demanda oportuna do MAPA.

Uma das intenções é o surgimento de novas hardtechs, deeptechs e startups em geral, que ampliem o número de agritechs, além das 30 identificadas por um trabalho do Ibef Agro no estado. Que o Espírito Santo possa vir a ser ator relevante em inovações para pequenas propriedades, organização típica no estado e que se desenvolva uma indústria de equipamentos para o agronegócio. A neoindustrialização é sobre isso.

Evandro Milet

Evandro Milet é consultor, palestrante e articulista sobre tendências e estratégias para negócios inovadores. Possui Mestrado em Informática(PUC/RJ) e MBA em Administração(FGV/RJ). É Conselheiro de Administração pelo IBGC, Membro da Academia Brasileira da Qualidade-ABQ, Membro do Conselho de Curadores do Ibef/ES e membro do Conselho de Política Industrial e Inovação da Findes. Foi Presidente da Dataprev, Diretor da Finep e do Sebrae/ES, Conselheiro do Serpro e Banestes. Tem extensa atuação como empresário, executivo e consultor em inovação, estratégia, gestão e qualidade, além de investidor e mentor de startups, principalmente deeptechs. Tem participação em programas de rádio e TV sobre inovação. É atualmente Presidente do Cdmec-Centro Capixaba de Desenvolvimento Metal-Mecânico.

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