Coluna Inovação
Deeptechs: startups de base científica são a nova onda
Entenda como as deeptechs moldam o futuro, unindo ciência, inovação e mercado em um ciclo transformador para a economia brasileira
Venho participando da mentoria de 150 deeptechs dentro do programa Catalisa ICT do Sebrae Nacional. Deeptechs são startups com tecnologias baseadas em avanços científicos saídos normalmente das bancadas de pesquisadores acadêmicos e capazes de transformar ou estabelecer novas indústrias. Essas 150, selecionadas de um universo de 1000 projetos acadêmicos que responderam a um edital, foram capacitadas em empreendedorismo, gestão, marketing, captação de investidores, marcas e patentes e acesso a mercados, entre inúmeros cursos, palestras e participação em feiras e congressos. Aprenderam a se relacionar com investidores, participar de desafios de grandes empresas, apresentar pitches profissionais, calcular valuation e tudo mais necessário para entrar no mercado.
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A maior parte dessas deeptechs são agtechs ou healthtechs, com projetos sensacionais, não fossem todos PhDs de universidades de todo o Brasil. Muito gratificante ver projetos com base científica do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Amazonas e Goiás, entre outros. Pena que apenas dois do Espírito Santo, número incompatível com a posição do estado nos indicadores de desenvolvimento.
No convívio com esses pesquisadores dá para observar os problemas enfrentados heroicamente por cada um para conseguir chegar no mercado. As deeptechs de saúde precisam passar por uma barreira necessária, porém burocraticamente angustiante para se registrar na ANVISA. Dois anos de espera é pouco e o custo dos testes sufocantes para quem nem pode oferecer seus produtos ainda no mercado. Mas eles são craques em participar de editais de subvenção econômica(antigo fundo perdido) que garantem a sobrevivência e que são oferecidos à rodo no atual governo, depois de um contingenciamento inconsequente no governo passado.
Os fundos de venture capital são limitados para deeptechs, principalmente pelo maior tempo de maturação dos projetos e o custo de desenvolvimento, como no caso das biotechs, fortes demandantes de laboratórios. E também não é fácil captar investidores para esses fundos com os juros reais de quase 7% na renda fixa.
Até para captarem no exterior é complicado, conforme relatado por algumas empresas de VC no Brasil. Se falam em captar para deeptechs brasileiras em saúde, são vistas de lado pela pouca tradição em tecnologia nessa área, ao contrário da captação para deeptechs do agro, onde o Brasil é referência.
Mas as startups do agro também padecem na burocracia do MAPA(Ministério da Agricultura) com seus longos processos de aprovação, exigindo caros acompanhamentos de consultores, verdadeiros despachantes burocráticos.
Se é gratificante ver deeptechs de todo o país, é também promissor ver a espetacular atuação da Fapesp(Fundo de Amparo à Pesquisa de SP) com programas de apoio dirigidos especialmente às deeptechs, que incluem pagar pessoal de marketing, apoiar PoC(Provas de conceito), além do puro desenvolvimento de tecnologia. Aliás, fundamental também para as deeptechs o pagamento de bolsas para sócios das deeptechs feitas pelo programa Catalisa do Sebrae, o que ajuda a aguentar o tempo mais longo de desenvolvimento das empresas.
Enfim, há que se perceber que deeptechs são a nova onda de startups e que devem ser atendidas por projetos específicos pelo alto potencial de impacto transformador na economia. Uma Nova Indústria Brasil, como é denominada a política industrial atual, deve ter forte componente em C&T indo para o mercado, e assim parece dirigida.
O Sebrae Nacional prepara uma nova rodada do programa Catalisa ICT para 2025. Que o Espírito Santo trabalhe para emplacar um número de deeptechs condizente com sua colocação no ranking de desenvolvimento do país. Mecanismos existem: fundo soberano, MCI, Funcitec, Sebrae/ES. Não é difícil aparecer bem nessa foto.
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