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Coluna André Andrès

Vinho e vida: vinícola revelação do Chile surgiu de um desastre

O mundo do vinho tem histórias impressionantes, como a da Maturana Winery, escolhida como a vinícola revelação do ano pelo Guia Descorchados

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José Ignacio e Sebastián Maturana se uniram em torno da vinícola da família no Chile

José Ignacio e Sebastián Maturana se uniram em torno da vinícola da família no Chile. Foto: Reprodução/Instagram

Como se sabe, é comum grandes vinhos surgirem de uvas nascidas em terrenos ruins. As raízes penetram no solo, esgueiram-se entre as pedras, percorrem a terra até encontrar água e nutrientes necessários para sua sobrevivência. A bebida é resultado da luta e resiliência da fruta. Não é diferente da vida e da lida de quem trabalha nas vinícolas. Nelas, a busca também é para conseguir tirar o sustento da terra, mesmo quando ela foi literalmente arrasada, como ocorreu com a propriedade da família Maturana, revirada pelo terremoto de 2010, um dos mais fortes já registrados no Chile.

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O tremor sacudiu o país, matou mais de 500 pessoas, destruiu prédios, casas e sonhos. No terreno de Javier, patriarca dos Maturana, havia uma cultura básica de uvas. Pouco tempo depois, quando a estrutura ainda estava sendo reconstruída, um incêndio fez voltar à estaca zero os planos de recuperação da propriedade. José Ignacio, filho de Javier, na época trabalhava com o grande enólogo Mario Geisse na Casa Silva, uma das maiores casas chilenas. Ele se viu diante da necessidade de sair em socorro da família. Começava, em 2011, uma história de reerguimento e sucesso…

Um vinho simbólico
“Inicialmente, eu me juntei ao meu pai para começar tudo de novo. Mais tarde, meu irmão se juntou a nós”, contou, anos atrás, José Ignacio, numa daquelas noites de muita conversa e vinho na Zanatta Wine, como já foi relatado na coluna. A conversa teve a companhia do Kula, vinho básico da vinícola. Básico e simbólico: “kula” significa “três” na língua mapuche, ou seja, o rótulo representa a união do pai e dos dois filhos na busca da construção da Maturana Winery.

José Ignacio tinha jornada dupla, atuando na Casa Silva e nas terras familiares. Em 2014, assumiu definitivamente o projeto da Maturana. E fez isso juntando a experiência adquirida com Mario Geisse e os ensinamentos de sua passagem pela Borgonha, em 2011. O resultado dessa equação é uma mescla de tradição e inovação. A tradição vem do uso de antigos vinhedos existentes na região central do Chile, de onde saem cepas patrimoniais como País, Torontel, Semillón e San Francisco. A inovação surge dos diferentes métodos de produção, com o uso de concreto em diferentes tamanhos e formas, ânforas de argila e também o carvalho francês.

Os prêmios
A família trabalhou muito. E trabalhou bem. O seu primeiro ícone, o MW Carménère, é um excelente tinto. A mesma qualidade pode ser encontrada na linha de vinho laranja, com Viognier e Parellón. Em pouco mais de dez anos, a Maturana alcançou respeito e credibilidade, com várias premiações concedidas por publicações especializadas. Talvez o maior desses prêmios tenha saído agora: a Maturana foi eleita a vinícola revelação do Chile pelo Guia Descorchados de 2024, o mais respeitado da América do Sul. Na nota do guia assinado por Patrício Tapia, a Maturana é apontada como dona de “um catálogo onde sempre há surpresas e vinhos cheios de personalidade”. A avaliação resume bem essa história. Afinal, a Maturana surgiu de surpresas, boas e ruins. E se consolidou a partir da personalidade dos integrantes da família, tão fortes e resilientes como as melhores uvas chilenas…

Alguns dos vinhos da Maturana Winery

Puente Austral é um rótulo da linha clássica da Maturana Winery. Foto: Divulgação

Puente Austral Reserva Privada Cabernet Sauvignon – Um dos rótulos da linha clássica produzida pela vinícola. Produzido no Vale do Colchagua. Tinto com passagem de seis meses por barricas francesas de vários usos. Em outras palavras, a madeira é pouco pronunciada, aparecem mais as características da fruta, com alguns toques de chocolate e amora. Vinho bem gostoso, fácil de beber.
Quanto? R$ 90

O Maturana Pa-Tel, vinho elogiado no Guia Descorchados. Foto: Divulgação

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Maturana Pa-tel – Uma mescla curiosíssima e absolutamente incomum. Mais tradicional uva do Chile, a País recebe a companhia de 10% de Semillon e 5% de Riesling. Em outras palavras, é uma mescla de uva tinta e uvas brancas. Na definição de Patricio Tapia, “um tinto leve e suculento feito com País, um pouco de Riesling e Semillón, todas provenientes de vinhas muito antigas em Paredones, o mesmo local de origem de Parellón e que hoje é uma das principais fontes para Maturana”. É a tal da mescla de tradição e inovação, segredo do sucesso da vinícola.
Quanto? R$ 145

O vinho Naranjo, produzido pela Maturana Winery. Foto: Divulgação

Torontel Naranjo – Feito com a uva Torontel de vinhedos com mais de 80 anos da região de Loncomilla, no Maule. O vinho laranja ganha esse nome por conta da cor e também pelo fato de passar por processos específicos de produção, com as cascas ficando mais tempo com o mosto (daí sua coloração), a fermentação em ânforas ou grandes vasilhames de concreto e por aí afora. O Naranjo foi 100% fermentado em barricas com as cascas e amadurecido por nove meses em ovos de concreto. Foi escolhido como o melhor vinho laranja do Chile pelo Guia Descorchados 2020, com 95 pontos. Precisa dizer mais?
Quanto? A partir de R$ 165

O vinho Anbordu, produzido pela Maturana Winery. Foto: Divulgação

Anbordu Limited Edition – Um vinho bastante conhecido por aqui, embora grande parte dos consumidores desconheça a sua origem. É produzido pela Maturana no vale do Cachapoal, em Millahue. Trata-se de uma mescla de Carménere, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc. Passa 18 meses em barricas de carvalho. Tem 15% de graduação alcoólica, daí seu toque um pouco adocicado no paladar. É um vinho estruturado, tem potencial de guarda de bons anos. Ótima opção.
Quanto? R$ 320

O vinho Maturana MW, ícone da vinícola. Foto: Divulgação

Maturana MW – É um colecionador de prêmios e de altas pontuações. Pode ser escalado facilmente na prateleira dos melhores vinhos chilenos. Tem produção limitada, variando conforme o ano. Produzido em Marchigue, no Vale de Colchagua, feito totalmente com Carménère. O processo de produção mostra as inovações adotadas pelos Maturana: 25% do vinho passa por ovos de concreto por 14 meses, os outros 25% do vinho passam por 14 meses em barris de carvalho francês de primeiro uso de 500 litros e os 50% restantes passam por barris de carvalho francês de 225 litros. Após engarrafado, descansa por 18 meses antes de ir ao mercado. É um grande vinho.
Quanto? R$ 500


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