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Coluna André Andrès

O “vinho de R$ 1.650” vale mesmo tudo isso?

O caso do grupo de amigos num restaurante viralizou. Eles pediram um vinho de R$ 1.650 pensando que custava R$ 165. Mas o Pera-Manca Branco vale isso?

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O 'vinho de R$ 1.600', Pera Manca Branco, da Cartuxa

O ‘vinho de R$ 1.650’, Pera Manca-Branco, é encontrado por R$ 800 nas lojas. Foto: Divulgação

O caso ganhou as redes sociais e foi muito comentado… Um grupo de amigos foi jantar em um restaurante de Salvador, pediu um vinho branco de R$ 165, gostou, pediu mais um. A conta chegou e só então eles notaram o erro: o vinho custava, na realidade, R$ 1.650. A conta superou os R$ 4 mil. Eles ficaram abismados com o valor, fizeram um vídeo e viralizaram nas redes sociais. Além da situação curiosa (e custosa), as pessoas começaram a se perguntar qual vinho tinha sido escolhido e, principalmente, por que ele custa tanto. Bem, dá para acrescentar outra pergunta: o Pera-Manca Branco, servido no jantar, vale tanto assim?

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Pera-Manca é um famoso rótulo produzido na região portuguesa do Alentejo. Curiosamente, sua fama é maior aqui, no Brasil. “Não sei por que os brasileiros dão tanta importância a este vinho. Em Portugal não é assim.” A frase já foi dita mais de uma vez por mais de um grande enólogo português em passagem por aqui. Puxado por essa fama, a garrafa de um Pera-Manca Tinto de safra recente custa algo em torno de R$ 5 mil. Preço de loja, não de restaurante, é bom deixar claro. O vinho é produzido pela Cartuxa, casa de grande renome no Alentejo, com castas típicas: Aragonês e Trincadeira.

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O vinho é cercado de histórias e lendas. Suas origens remontam a mais de 500 anos. Teria saído dessa área de produção o vinho trazido por Pedro Álvares Cabral em sua viagem de descoberta do Brasil.

E o vinho de R$ 1.650?

As garrafas provadas pelo grupo de amigos eram de Pera-Manca Branco. Os rótulos de Branco e Tinto são bem parecidos. O vinho também é produzido com típicas castas portuguesas, Antão Vaz e Arinto. Na prática, o Branco tenta tomar emprestado o prestígio alcançado pelo seu irmão, Tinto. E consegue! Trata-se de um ótimo branco? Sim, sem dúvida. Porém, há quem encontre qualidades um tanto exageradas no Pera-Manca Branco. Afinal, rótulo e origem nobre fazem parte desse vinho. O preço também ajuda a criar uma certa aura de branco excepcional, principalmente para quem leva isso em alta conta. Nas lojas, o Pera-Manca Branco custa, em média, R$ 800.

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No entanto, se alguns enólogos portugueses levantam questionamentos quanto à fama do rótulo no Brasil, outros partiram para mostrar, na prática, como seus vinhos, de preços inferiores, podem ter qualidade igual ou superior ao famoso vinho do Alentejo. Numa prova às cegas, pouco tempo atrás, em Vitória (ES), o Pera-Manca Branco foi colocado ao lado de outros brancos. Foi superado, por exemplo, pelo Conde D’Ervideira Private Selection, de custo bem inferior, em média R$ 450. O Conde D’Ervideira também é produzido no Alentejo, com as mesmas castas do Pera-Manca Branco.

Vinho branco português branco. Foto: Reprodução

O Guru, exemplo de qualidade do trabalho do casal Jorge Serôdio e Sandra Tavares. Todo: Reprodução

Não para por aí. Há quem não troque jamais o grande Guru, premiadíssimo vinho produzido por Jorge Serôdio e Sandra Tavares no Douro, por uma garrafa do vinho de R$ 1.650 consumido pelo agora conhecido grupo de amigos no restaurante de Salvador.

Por que os amigos erraram?

O erro aconteceu por um motivo simples: a carta de vinhos do Mistura não está em ordem crescente de preços. Antes do Pera Manca, de (absurdos) R$ 1.650, aparece um outro branco, Eugênio Almeida, também produzido pela Cartuxa, de R$ 192. E depois do Pera-Manca, a lista traz o Herdade do Peso Sossego, de R$ 210. Ou seja, colocaram um vinho de mais de R$ 1.600 entre dois vinhos de preço bem menor. Os amigos não prestaram a atenção devida e pensaram estar escolhendo um vinho na casa de até R$ 200.

Enfim, os amigos poderiam ter economizado um bom dinheiro e provado vinhos tão bons ou melhores. Pelo menos eles não ficaram totalmente no prejuízo. A direção do Mistura, lógico, ficou sabendo de toda a história. E ofereceu um jantar gratuito para os dois casais. Resta saber qual vinho eles vão escolher desta vez…

 


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André Andrès

Há mais de 10 anos escrevo sobre vinhos. Não sou crítico. Sou um repórter. Além do conteúdo da garrafa, me interessa sua história e as histórias existentes em torno dela. Tento trazer para quem me dá o prazer da sua leitura o prazer encontrado nas taças de brancos, tintos e rosés. E acredite: esse prazer é tão inesgotável quanto o tema tratado neste espaço.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.