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Coluna André Andrès

Grupo de jovens enólogos quer renovar cenário do vinho nacional

Valorização do vinho nacional e divulgação de novas propostas são a base do trabalho do “Jovens Talentos”. Grupo reúne seis enólogos do sul do país

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Vinho nacional: os integrantes do grupo Novos Talentos. Foto: Divulgação

O grupo de seis novos enólogos, representantes de vinícolas do Sul do país. Foto: divulgação

O vinho é, quase sempre, o resultado de uma mescla de trabalho, dedicação, talento e… tempo. Quem conhece um pouco da história do vinho português sabe da trajetória dos Douro Boys. Trata-se de um grupo formado por cinco produtores de enorme capacidade. Sabedores da qualidade dos vinhos secos da região, eles decidiram encarar a tarefa de “mostrar ao mundo o potencial do vinho de mesa” feito no Douro. Na prática, queriam demonstrar como a região vai muito além do Vinho do Porto. Pois o Brasil acaba de ganhar sua versão dos Douro Boys. Neste caso, a missão é comprovar como o vinho nacional pode ser muito bom e, também, como ele vai além de seus rótulos clássicos e já conhecidos.

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Denominado Jovens Talentos, o grupo é formado por seis jovens enólogos do Rio Grande do Sul. Não são tão ambiciosos quanto os portugueses e sua intenção de conquistar o mundo, mas a tarefa é igualmente honrosa, porque ela também embute a ideia de demonstrar a união de trabalho, talento e dedicação…

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Se os Douro Boys queriam mostrar seus rótulos ao mundo, os seis enólogos gaúchos pretendem mostrar o vinho nacional para os brasileiros. A missão guarda um paradoxo. Por um lado, ela é fácil. Por outro, é bem complicada. Uma parcela, ainda pequena, dos consumidores tem curiosidade e chega a dar preferência para os tintos e brancos produzidos por aqui. No entanto, a maioria olha para os rótulos nacionais com preconceito e até com “pós-conceito”, como explica Alan Larroza, da Bodega Iribarrem: “Há quem aprove o vinho nacional em prova às cegas, sem saber exatamente qual vinho está bebendo. Depois, quando o rótulo é revelado, volta atrás, e aponta uma série de defeitos. O preconceito é ruim, o pós-conceito é bem pior”.

Os guris e gurias do vinho nacional

Alan Larroza, da Iribarrem, integra o grupo com mais cinco enólogos: Natália Taffarel (Cave Antiga), Bruna Cristofoli (Cristofoli Vinhos de Família), Andrei Bellé (Garbo Enologia Criativa), Vagner de Vargas Marchi (Monte Sant’Anna) e Lucas Foppa (Tenuta Foppa & Ambrosi). Na prática, eles pretendem sair pelo Brasil divulgando o trabalho dessas vinícolas, e, também, a riqueza ainda inexplorada dos sabores e aromas da produção nacional. Querem ser didáticos. Por exemplo: ao longo deste ano vão promover eventos, treinar profissionais e conduzir degustações em diversas partes do país.

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Uma dessas degustações aconteceu há poucos dias em Vitória, Espírito Santo. Campinas e Ribeirão Preto, em São Paulo, serão visitadas dentro de pouco tempo. E assim os jovens enólogos vão trabalhar como apóstolos do vinho nacional. Vão bater às portas e perguntar: “Posso lhe oferecer algo capaz de abrir sua visão para um novo mundo?”

Curiosamente, a intenção do grupo em usar esses encontros para divulgar o vinho brasileiro repete a estratégia dos Douro Boys. Enólogos e produtores consagrados, como Cristiano Van Zeller, Dirk Van Der Niepoort e Tómas Roquette saíram pelo mundo “para fazer apresentações, seminários e degustações profissionais”, como diz o site dos portugueses. Eles colocaram o Brasil na rota e também passaram por cidades como Vitória e outras, de outros estados.

Ousadia, teu nome é juventude

Os vinhos apresentados pelo grupo traduzem os desejos dos jovens enólogos. Não esquecem o passado ao utilizar castas muito bem adaptadas à Serra Gaúcha, como a Merlot e a Marselan. Oferecem a oportunidade de conhecer uma uva curiosíssima, como a Arneis, uma das melhores cepas brancas da Itália. Ousam com mesclas incomuns, como a adição de uvas brancas para dar o equilíbrio desejado a um vinho tinto. Juntam, enfim, passado e presente, tradição e ousadia para oferecer um painel tão rico quanto saboroso.

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É o início de um trabalho. Longo, talvez. Os Douro Boys estão nessa estrada há mais de 20 anos. Colheram frutos e lucros. Os brasileiros têm tudo para ir no mesmo caminho. Afinal, eles têm um aliado poderoso: o tempo, senhor de todos os destinos, especialmente generoso com jovens talentosos como são os guris e as gurias do vinho…

Alguns dos vinhos dos Jovens Talentos

Tinto Iribarrem. foto: Divulgação

Iribarrem Merlot

– A Bodega Iribarrem tem poucos anos de vida. A primeira colheita, por exemplo, ocorreu há quatro anos. A estrutura da vinícola foi montada no Vale dos Vinhedos, bem perto da Miolo. Tem uma linha de entrada muito curiosa, chamada Basco Loco, referência ao dono da bodega, nascido no País Basco. Esse Merlot, bem estruturado e equilibrado, passa 18 meses em barricas de carvalho francês. Ele integra a linha reserva, complementada por outros varietais: Chardonnay, Tannat, Pinot Noir e Touriga Nacional. Por fim, a Iribarrem tem ainda uma linha superior, de alta gama e, assim como bons vinhos, certamente tem muita vida pela frente.

 

Espumante moscatel da Cave Antiga: sucesso no exterior.

Cave Antiga Espumante Moscatel

– Há um mistério ainda não desvendado no mundo do vinho nacional: por que o espumante moscatel produzido aqui faz tanto sucesso no exterior e é tão menosprezado pelos consumidores brasileiros? Tanto as vinícolas tradicionais como as mais novas exibem com orgulho os prêmios conseguidos no exterior. No entanto, o moscatel nunca está entre os preferidos no Brasil. O espumante da Cave Antiga é ótimo exemplo dessa qualidade. Fresco e com o adocicado na medida certa. A Cave Antiga fica em Farroupilha. Ela surgiu no final dos anos 90 e ocupa um casarão de 1947. A vinícola tem uma linha completíssima, com espumantes, brancos, tintos, licoroso e até um brandy.

Vinho Cristofoli Instinto Chardonnay

Cristofoli Instinto Chardonnay

– Bruna Cristofoli faz parte da quarta geração da família, envolvida com a produção de vinhos desde o final do século XIX. No entanto, o consumo era apenas informal. A tarefa passou a ser encarada de forma comercial há bem menos tempo. A Cristofoli investe em vinhos de alta gama. O Instinto Chardonnay, por exemplo, tem produção limitada. A safra 2021 teve apenas 1.350 garrafas. A Chardonnay passa dez meses em barricas de carvalho francês. Vinho muito estruturado, equilibrado, bastante gostoso. Ótimo exemplo do trabalho elaborado em Bento Gonçalves.

Vinho Garbo Duo, feito com as castas Chardonnay e Arneis

Garbo Duo Chardonnay e Arneis

– Inquieto é o nome de uma linha da vinícola Garbo. Inquieto também define o espírito dos enólogos responsáveis por esses brancos e tintos. São vinhos, no mínimo, incomuns. Um exemplo é essa mescla de Chardonnay e Arneis, casta vinda do Piemonte e pouco conhecida por aqui. A Arneis é colhida na Serra do Sudeste, enquanto a Chardonnay é plantada na Serra Gaúcha. Já o Inquieto tinto é uma mistura de Merlot com 7% de Sauvignon Blanc. A intenção dos enólogos foi emprestar mais acidez ao Merlot. O uso de uvas brancas para “temperar” tintos é um recurso utilizado por outras vinícolas, embora não seja frequente. Menos frequente é uma participação tão importante como essa: 7% de Sauvignon Blanc num vinho tinto é difícil de achar. Os vinhos merecem ser provados. Seja por curiosidade ou pura inquietação.

Vinho Monte Santa'Ana Savoir Merlot e Marselan

Monte Sant’Ana Savoir

– Mais um exemplo do trabalho de novas vinícolas do Rio Grande do Sul. A Monte Sant’Ana é uma propriedade localizada em São Marcos, na Serra Gaúcha. A produção efetiva começou há pouco mais de 10 anos, baseada em quatro castas: Giallo, Moscato, Merlot e Ancelotta. O Savoir branco é feito apenas com Giallo e é um vinho muito aromático. Já o tinto é produzido com uvas de safra e terroir diferentes. A Merlot é de São Marcos e a safra é 2021 (44% da mescla) e 2022 (28%). A Marselan, vinda de Veranópolis, é de 2022 e completa o blend. O resultado é tão interessante quanto surpreendente.

Insolito, da vinícola Foppa e Ambrosi

Foppa e Ambrosi Insólito

– A história dos amigos Lucas Foppa e Ricardo Ambrosi é recente e riquíssima. Começa nos estudos de enologia, quando se conheceram, em Bento Gonçalves. Passa pela produção de vinhos de garagem (eles realmente começaram fazendo vinhos em uma garagem, assim como ocorreu com grandes vinhos franceses), um estágio em Napa Valley e o retorno para produção de vinhos em Garibaldi. A produção efetiva da Foppa e Ambrosi teve início em 2018. Os amigos são ousados e ambiciosos. A ousadia pode ser constatada pelo fato de eles produzirem uma linha de vinhos nos Estados Unidos. Trata-se da American Collection Syrah. A dupla tem métodos muito peculiares de produção. O Insólito, por exemplo, é uma mescla diferente a cada ano, com mistura de vinhos de várias safras e regiões. Ou seja, um vinho realmente único em cada safra. Criativo como seus criadores.


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André Andrès

Há mais de 10 anos escrevo sobre vinhos. Não sou crítico. Sou um repórter. Além do conteúdo da garrafa, me interessa sua história e as histórias existentes em torno dela. Tento trazer para quem me dá o prazer da sua leitura o prazer encontrado nas taças de brancos, tintos e rosés. E acredite: esse prazer é tão inesgotável quanto o tema tratado neste espaço.

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