fbpx

Alexandre Brito

Crianças obedientes demais podem sofrer em silêncio

Em entrevista à BandNews FM, o psicólogo Alexandre Brito alerta que crianças muito quietas e comportadas podem maquiar um sofrimento interno

Publicado

em

Em entrevista à BandNews FM Espírito Santo, o psicólogo Alexandre Brito trouxe um tema importante: as crianças que aparentam ser sempre comportadas, mas que podem carregar um sofrimento silencioso. Essas crianças, muitas vezes elogiadas por não “darem trabalho”, podem enfrentar dificuldades emocionais que nem sempre são fáceis de identificar.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Alexandre explica que essas crianças, frequentemente vistas como exemplos de comportamento, podem estar lidando com problemas internos por não saberem ou não se sentirem à vontade para expressar seus sentimentos. “Elas tentam agradar a todos e se tornam incapazes de colocar seus desejos em primeiro lugar. Isso pode criar adultos com dificuldade em dizer ‘não'”, ressalta.

Esse comportamento pode ser reflexo de um medo de incomodar ou de ser visto como um peso pelos pais. Muitas vezes, essas crianças observam os desafios enfrentados pela família e optam por não expor suas próprias dificuldades. “Elas não querem ser mais um problema”, acrescenta Alexandre.

Sinais de alerta em casa e na escola

Na escola, essas crianças podem passar despercebidas, já que os educadores tendem a se concentrar mais em alunos que apresentam comportamentos desafiadores. No entanto, Brito ressalta que sinais físicos e comportamentais podem indicar sofrimento: “Comer unhas, arrancar fios de cabelo, isolamento social e até enurese são manifestações que merecem atenção.”

Ele também reforça que o comportamento bom não é necessariamente um sinal de saúde emocional. Crianças naturalmente têm energia, são criativas e expressivas. Quando há uma contenção excessiva ou adaptação constante às expectativas, é preciso investigar o motivo.

Como abordar crianças que sofrem em silêncio?

A psicoterapia é uma ferramenta eficaz para ajudar essas crianças a desenvolverem autonomia e aprenderem a expressar suas vontades. Alexandre explica que autonomia não significa fazer o que quiser, mas compreender e respeitar seus próprios desejos. “Perguntar o que ela gosta de brincar ou qual cheiro prefere pode abrir caminhos para conversas mais profundas, conectadas ao universo infantil”, sugere.

O psicólogo também destaca a importância do diálogo contínuo em casa e de um olhar atento por parte dos educadores. Nem sempre a origem do sofrimento está em situações graves, como abusos ou negligência. Pequenas mudanças no ambiente familiar, como o nascimento de um irmão, podem impactar emocionalmente a criança.

Fique atento aos sinais

Se não tratada, a dificuldade de expressar emoções pode acompanhar essas crianças na vida adulta. “Muitos se tornam adultos que priorizam sempre os outros, caem em relações abusivas ou sentem dificuldade em estabelecer limites”, alerta Alexandre. Ele reforça que buscar ajuda não é egoísmo e que o acompanhamento psicológico pode transformar esse cenário.

Crianças que parecem calmas demais podem estar enfrentando desafios internos. Prestar atenção aos detalhes, criar um espaço de acolhimento e, quando necessário, buscar a ajuda de um profissional, são passos fundamentais para garantir o bem-estar emocional.


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui

Alexandre Brito

Alexandre Vieira Brito é psicólogo e mestre em Psicologia Institucional pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Possui especialização em Filosofia e Psicanálise pela Ufes, bem como em Políticas Públicas e Socioeducação pela Universidade de Brasília (UnB). Possui experiência em saúde mental, formação profissional, políticas públicas e socioeducação. Realiza atendimento clínico desde 2010. Também é professor universitário e palestrante, articulando a psicologia em suas interfaces com outros saberes. Colunista da BandNews FM todas as segundas-feiras 17h40, ao vivo, e participa de entrevistas no Estúdio 360 da TV Capixaba para falar de psicologia e comportamento.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.