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Coluna Vitor Vogas

Análise: pesquisa Ipec/Rede Gazeta só deu boas notícias para um candidato

O detalhamento dos números, os riscos que Casagrande não precisa assumir na última semana de campanha e as possíveis explicações para a vantagem expressiva com que ele chega aos dias decisivos

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Candidatos a governador do ES

Bring the baby back home.” Em livre tradução, “traga o bebê de volta para casa”. Para quem não costuma assistir a corridas de Fórmula-1 (é na Band, hein!), a frase é dita com frequência por diretores de equipes, pelo rádio, na última volta da prova, ao piloto que lidera com folga, muita folga, frente a todos os adversários. Não quer dizer que ele precise se descuidar e tirar totalmente o pé do acelerador. Mas pode e deve adotar uma direção conservadora ao máximo, evitando qualquer risco desnecessário até a linha de chegada, com o mesmo cuidado de quem carrega um bebê no colo.

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A esta altura da corrida ao Palácio Anchieta, esta é mais ou menos a situação de Renato Casagrande (PSB). Com base no que revela a mais recente pesquisa realizada pelo Ipec a pedido da Rede Gazeta, o atual governador e candidato à reeleição chega à última volta da campanha no 1º turno com vantagem tão larga sobre todos os adversários que não precisa (e na certa não há de) correr nenhum risco inútil.

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Para Casagrande, esse último Ipec só rendeu boas notícias. E rendeu boas notícias somente para Casagrande. Aos demais, preocupações. Divulgado pelos veículos da Rede Gazeta na última quinta-feira (22), o terceiro levantamento da série mostra um quadro praticamente estático em relação ao anterior, publicado 20 dias antes, em 2 de setembro.

Significa que, em praticamente três semanas de campanha, com exposição intensa dos candidatos nos meios de comunicação de massa, redes sociais, rádio, TV, maratona de entrevistas etc., o cenário seguiu inalterado. E a estaticidade, como sempre, favorece quem está bem à frente.

No cenário estimulado, na pesquisa do dia 2, Casagrande liderava com 56% das intenções de voto. Na da última quinta-feira (22), oscilou para 53%.

Manato (PL) tinha 19%. Passou para 18%.

Guerino Zanon (PSD) e Audifax (Rede), que tinham 5% na anterior, passaram para 7% cada um.

Como a margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais para mais ou para menos, todas as oscilações verificadas se deram dentro da margem de erro. O filme rodou, mas seguiu no mesmo frame.

Acrescendo o 1% obtido pelo Capitão Vinícius Sousa (PSTU), todos os oponentes de Casagrande, somados, atingem 33% das intenções de voto, contra os 53% do atual governador. Isso quer dizer que a soma de todos os concorrentes não chega a dois terços da marca de Casagrande. Para cada três votos tendenciais em Casagrande, os demais não chegam a dois.

Mesmo levando-se em conta os entrevistados que não responderam ou que indicaram voto branco ou nulo, Casagrande segue com mais da metade das intenções de voto (53%). Excluindo-se aqueles que não indicaram nenhum candidato (como fará a Justiça Eleitoral na apuração, em 2 de outubro), o governador teria 61% dos votos válidos, contra 21% de Manato e menos de 10% dos demais. É uma vantagem não só ampla como, de novo, inalterada.

> Por que Ricardo Ferraço não aparece na propaganda eleitoral de Casagrande?

E as boas notícias para o socialista vão além.

Na espontânea, com a campanha há mais tempo na rua, Casagrande oscilou fora da margem de erro, de 32% para 37%. Manato passou de 10% para 12% (dentro da margem de erro). Guerino obteve 5% e Audifax, 4%.

Na medição da rejeição, por incrível que pareça, o maior tempo de exposição ao público parece ter gerado efeito negativo para Manato e absolutamente nulo para Casagrande. O percentual de entrevistados que não votariam no governador em nenhuma hipótese permaneceu igual: 22%. Já o de Manato subiu de 22% para 26%.

Assim, foi Manato, e não Casagrande, quem sofreu o maior prejuízo com a superexposição da campanha, e agora o principal desafiante do governador é quem ostenta sozinho a maior rejeição.

Nesse cenário, seja na propaganda eleitoral, seja em debates e entrevistas, a tendência é que o atual governador mantenha o seu plano de rota (prestação de contas e propostas). Não deve responder a nenhum ataque, não deve morder nenhuma isca… Ah, e pedir votos para Lula (PT) certamente está fora de questão, por mais que isso desagrade a petistas.

E para não desagradar ainda mais aos companheiros à esquerda, Ricardo Ferraço (PSDB), seu candidato a vice, deve seguir fora até o fim de sua propaganda de TV e rádio.

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Os desafios dos desafiantes

A inalteração do quadro sinaliza que as muitas críticas e ataques feitos a Casagrande pelos oponentes ao longo da campanha não surtiram o menor efeito, pelo menos até agora.

Nesse quesito, como já dissecamos aqui, Guerino e Audifax têm praticado estratégias parecidas. Tanto o ex-prefeito de Linhares como o da Serra procuram pintar Casagrande como um mau administrador, apresentando-se, por contraste, como gestores públicos bem mais capacitados para realizar uma “gestão de verdade” e fazer “muito mais pelo Espírito Santo”.

Ao mesmo tempo, ambos têm surrado aquela tecla de que Casagrande teria sido irresponsável – e até “desumano”, como têm afirmado – por ter guardado bilhões no caixa do Tesouro Estadual – o número varia, mas de fato há pelo menos R$ 3 bilhões livres, além do Fundo Soberano –, em vez de investi-lo para aplacar as necessidades prementes de uma população que está empobrecendo.

Como mostram os números da pesquisa, o que ocorreu foi uma destas três opções: ou esse argumento não chegou de fato às pessoas; ou chegou, mas as pessoas não se importam; ou, simplesmente, a contra-argumentação de Casagrande tem sido eficaz para neutralizar esse discurso.

Nesse aspecto, o que ele tem respondido é mais ou menos: “Que bom que me acusam por ter sido responsável com as finanças do Estado! Por acaso preferiam que eu tivesse sido irresponsável e raspado o tacho para quebrar o Espírito Santo, como fizeram no Rio e em Minas?”

Além disso, Casagrande tem repetido que poupou dinheiro para que o Estado possa fazer frente a eventos inesperados (dando como exemplo as chuvas de 2020 e a pandemia) e que nem por isso deixou de fazer “os maiores investimentos da história do Espírito Santo”.

Quanto a Manato, ele também bate nessa tecla, mas sua campanha explora outro ponto, que deve até ser intensificado nesta última semana de campanha: a tentativa de associar Casagrande ao PT (aliado do governador) e aos esquemas de corrupção dos governos Lula e Dilma.

Nos últimos dias, em algumas inserções, a campanha de Manato passou a abordar também alguns episódios de corrupção que podem ter ocorrido no próprio governo Casagrande e que estão sob investigação, como os da Operação Volátil e da Operação Decanter.

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Como explicar a vantagem de Casagrande?

Em primeiro lugar, como já vastamente abordado aqui, Casagrande não só tem de longe a maior coligação partidária como, por consequência, ficou sozinho com praticamente dois terços de todo o tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV, seja nas inserções, seja nos blocos do horário eleitoral. Este virou praticamente “The Big House Show”.

Recursos de campanha não lhe faltam. Muito menos apoio político. Além dos mais de dez partidos coligados (quase todos muito fortes), ele conta com a adesão dos representantes do Executivo de 74 dos 78 municípios. Foi o número de governos municipais que se fizeram representar em recente reunião com ele, entre prefeitos e vice-prefeitos.

Mas o principal fator que explica tal vantagem encontra-se em outra página da mesma pesquisa: a da avaliação do atual governador. No levantamento anterior do Ipec, publicado por A Gazeta em 2 de setembro, Casagrande já despontava com 56% de “ótimo” e “bom” entre as menções dos entrevistados, o que, como expusemos aqui, destacou-o como o governador mais bem avaliado do país na série do Ipec até então.

No novo Ipec/Rede Gazeta, publicado na última quinta (22), a aprovação oscilou para 54%, dentro da margem de erro. A soma de “ruim” e “péssimo” não passa de 14%.

Como já argumentei aqui, derrotar um governador que está no cargo, que tem a máquina do governo nas mãos e que busca renovar um mandato tão bem avaliado, já seria tarefa hercúlea para qualquer desafiante. Mais ainda quando esse governador quase monopoliza a propaganda eleitoral, lidera uma coligação Godzilla e tem quase todos os prefeitos do Estado à sua sombra.

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Por fim, a campanha está legal

Finalmente, a propaganda eleitoral de Casagrande – conduzida com competência pelo marqueteiro argentino Diego Brandy – parece ter acertado o tom. Coroada por um jingle extremamente pegajoso no capixabíssimo ritmo do congo do quase homônimo Renato Casanova, sua campanha está animada e “pra cima”.

Além da longa prestação de contas do atual mandato, os programas passaram a apresentar propostas para o próximo, em caso de vitória, como uma rede especial de crédito para financiar negócios de egressos dos cursos do Qualificar ES.

O protagonista é o governador, mas ele não monopoliza a cena. Surge visitando e batendo papo com pessoas comuns beneficiadas por alguma medida do governo. Elas contam as suas histórias, e os relatos soam honestos e espontâneos.

A campanha está conseguindo transmitir os conceitos norteadores, tais como capacidade de diálogo, equilíbrio, empatia, serenidade e preocupação com as pessoas, aliados à coragem e à capacidade de execução atribuídos ao candidato. Para neutralizar a acusação de “mais do mesmo”, o lema “novas ideias para novos desafios”.


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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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