Coluna Vitor Vogas
Uma correção importante: o real motivo da saída de cena de Nésio Fernandes
Secretário da Saúde tirou férias durante o 2º turno a pedido de Casagrande. Governador cedeu a um reclame de prefeitos aliados descontentes com a atuação de Nésio, por “dificuldades de relacionamento”

Secretário Nesio Fernandes. Foto: Sesa/Divulgação
Como informado aqui no último dia 9 de outubro, o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes (PCdoB), tirou férias no dia 7 de outubro, válidas até o dia 31 – praticamente coincidindo com o período de campanha no 2º turno. O que não ficou corretamente explicado foi o motivo das férias neste momento. Inicialmente, informei que Nésio tiraria esse período para mergulhar na campanha pela reeleição de Renato Casagrande (PSB). Na verdade, ele foi mergulhado estrategicamente pelo próprio governador, a pedido de prefeitos que apoiam a sua reeleição e que estavam descontentes com o secretário.
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Em um momento decisivo e de certa vulnerabilidade eleitoral, na primeira semana de um 2º turno inesperado por sua campanha, Casagrande achou por bem tirar de cena seu secretário, parceiro durante os momentos mais críticos da pandemia, para agradar a prefeitos cujo apoio é imprescindível para ele no duelo contra Manato (PL), aliás, para mandar aos prefeitos aliados um sinal de que está disposto a ouvir suas queixas e a fazer concessões em favor deles.
Nésio, então, foi sacrificado. Atender aos prefeitos foi, para Casagrande, uma forma de prestigiá-los e não perdê-los para a campanha adversária.
Tudo começou em um momento-chave da campanha no 2º turno: o grande encontro promovido por Casagrande na manhã do dia 6 de outubro (uma quinta-feira), no hotel Golden Tulip, em Vitória, com representantes de 73 dos 78 municípios, entre prefeitos e vice-prefeitos. Na ocasião, alguns prefeitos externaram reclamações com relação a Nésio.
O coro dos descontentes foi puxado pelo prefeito de Barra de São Francisco, Enivaldo dos Anjos (sem partido), ex-líder de Casagrande na Assembleia e um dos seus principais aliados na região Noroeste. Com queixas diretas sobre Nésio, citado nominalmente por ele, a fala de Enivaldo foi muito aplaudida pelos presentes.
Outros alcaides também se manifestaram nesse sentido, como o de Baixo Guandu, Lastênio Cardoso. Neste caso, há uma questão política também, pois o adversário local do prefeito é Neto Barros, ex-prefeito da mesma cidade e companheiro de Nésio no PCdoB.
E qual é o motivo da insatisfação? A resposta é uma mistura de questões ideológicas por parte de prefeitos bolsonaristas com alegados problemas de relacionamento.
No primeiro aspecto, é aquela coisa de que Nésio é “comunista” e que estudou Medicina em Cuba (a meu juízo uma bobagem, pois partido e ideologia não definem competência técnica, e Cuba na verdade é uma ilha de excelência em medicina da família, especialidade do secretário). Mas isso nem foi o principal.
O motivo maior foi o segundo. Alguns prefeitos alegaram problemas de relacionamento, dificuldade em serem atendidos, que “conseguem falar com o governador, mas não com o secretário” e por aí vai… É aquela coisa: político gosta de se sentir prestigiado.
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Um dirigente de partido que apoia Casagrande usou uma metáfora tirada da medicina para ilustrar a situação:
“O governo saiu do 1º turno com a imunidade baixa. Quando você está com a imunidade baixa, aparecem alguns problemas de saúde no seu organismo. Foi o que aconteceu. Prefeitos aproveitaram a oportunidade, aproveitaram que o governador precisava deles mais que nunca, para expor algumas coisas que estavam represadas há algum tempo. Outras questões foram colocadas, mas o principal foi o Nésio. Ele foi o Judas malhado dessa vez.”
O timing da saída de cena reforça a conclusão sobre uma relação de causa e consequência. No mesmo dia, ao final do expediente, o subsecretário estadual de Planejamento da Saúde, José Tadeu Marino (PSB), foi informado por Nésio e, em seguida, pelo próprio governador sobre a necessidade de substituição. Na edição do dia seguinte (7) do Diário Oficial do Estado, foi publicada a designação de Marino até o dia 31.
No dia 8, indaguei à assessoria da Secretaria de Estado da Saúde os motivos oficiais da troca. A pergunta ficou sem resposta.
Sou da opinião de que, na gestão da pandemia, Nésio foi um secretário muito importante. Tanto nas medidas sanitárias como na vacinação, teve atuação louvável, realizando um trabalho responsável, correto e cientificamente embasado (o que, em tempos de loucura negacionista, não é pouco). Mostrou ainda grande preocupação em orientar, conscientizar e comunicar detalhadamente cada medida à população, com a ajuda da imprensa.
Agora, o pior da pandemia passou, o governo tem uma eleição a ganhar, aliados estão insatisfeitos… ele precisou pagar o preço.
Nenhuma das fontes governistas com quem abordei o tema arriscou dizer se ele voltará ao cargo, independentemente do resultado eleitoral. Há sérias dúvidas quanto a isso. As férias podem ser definitivas.
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Sem resposta
O próprio Nésio foi procurado por Whatsapp para comentar as informações apuradas pela coluna. Até a publicação deste texto, ele não fez comentários. Se houver resposta, o texto será atualizado.
NOTAS
O núcleo duro de Casagrande
No QG do Palácio Anchieta, diferentemente do 1º turno, no qual o marketing eleitoral de Casagrande ficou mais concentrado nas mãos do sociólogo argentino Diego Brandy, as decisões estratégicas sobre a propaganda do candidato estão mais compartilhadas no 2º turno.
A superintendente estadual de Comunicação, Flávia Mignoni, entrou para valer na campanha – o que ajuda a explicar o tom mais ofensivo adotado por Casagrande após o dia 2 de outubro. Flávia coordenou a campanha do governador contra Paulo Hartung em 2014.
Ao núcleo também foi incorporado o ex-secretário de Governo Tyago Hoffmann (PSB), eleito deputado estadual.
A chefe de gabinete, Valésia Perozini (PSB), e o chefe da Casa Civil, Davi Diniz, já estavam ali e continuam. Diniz se encarrega mais dos contatos políticos.
> A batalha dos números de urna entre Casagrande e Manato
“Pobreza externa”?!?
Tenho advertido aqui: desde o 1º turno, candidatos estão falando de fome, pobreza e extrema pobreza, mas por vezes demonstrando não compreender direito os conceitos e as classificações. Um exemplo ruim foi visto na propaganda eleitoral de Manato exibida no último sábado (22).
O locutor falou de “fome, miséria, pobreza e pobreza externa [sic]”. Também foi escrito assim na legenda. Em primeiro lugar, por definição, miséria e pobreza extrema são a mesma coisa. “Pobreza externa” não faço a menor ideia do que seja… talvez a pobreza observada em outros estados ou países.
Plenário entregue às traças
Quatro minutos! Foi esse o tempo que durou a sessão plenária da tarde desta terça (25) na Assembleia.
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