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Enriquecer não significa empobrecer o outro
Especialista destaca que enriquecer é resultado da criação de valor e inovação, não da perda de terceiros, contrariando a ideia da soma zero

Análise mostra que enriquecer é fruto de trocas voluntárias e liberdade econômica, e não da exploração do próximo. Foto: Freepik
Não é incomum ouvir a narrativa de que os ricos só enriquecem às custas dos pobres. Principalmente no discurso político, essa sedutora ideia é transmitida e reforçada, pois atende a um apelo emocional fácil, ainda que equivocado e explicado pela falácia da soma zero: a crença de que a riqueza é um jogo de ganha-perde. Ao contrário disso, a realidade econômica confirma que essa é uma visão ultrapassada e, pior, prejudicial ao progresso coletivo.
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No livro Fatos e Falácias da Economia, Thomas Sowell, ao explicar o erro de se acreditar economicamente na soma zero, diz: “Muitas falácias individuais na economia baseiam-se na mais ampla e geralmente implícita, falsa suposição de que transações econômicas são um processo de soma zero, em que tudo que alguém ganha é perdido por outra pessoa.”
A economia é um sistema dinâmico em que a riqueza pode ser criada continuamente. Se não fosse assim, as transações econômicas voluntárias (entre empregador e empregado ou inquilinos e proprietários, por exemplo), não continuariam a existir se não fosse bom para ambos. Logo, quando um indivíduo inova, empreende ou investe e contrata, ele não está subtraindo de outro, mas oferecendo algo novo ao mercado. E quanto mais liberdade houver para produzir, vender e trocar, mais oportunidades surgem.
Um exemplo prático e concreto: uma diarista que cobra entre R$ 500 e R$ 1.500 por faxina deixou de ser algo raro. Ela representa o reflexo direto de um mercado no qual pessoas com maior renda demandam serviços e estão dispostas a pagar bem por qualidade e confiabilidade. Enquanto a diarista prospera como pequena empreendedora, seus clientes obtêm um serviço que valoriza seu tempo. A relação é voluntária e mutuamente benéfica!
Outro exemplo quanto ao real impacto do capital em circulação, está no funcionamento de uma simples padaria em um bairro de alto padrão. Nela, o lucro do empreendedor financia os salários de atendentes, padeiros, faxineiros, fornecedores e motoristas de entrega. Cada centavo movimentado beneficia diretamente dezenas de famílias. A riqueza se multiplica porque está inserida em uma rede de valor.
Esse é o mecanismo central do mercado: trocas voluntárias, que geram valor para ambos os lados. O mesmo ocorre quando um pequeno fornecedor vende para grandes empresas ou quando uma startup supre uma necessidade local. A riqueza gerada em cada ponto da cadeia retroalimenta toda a estrutura produtiva.
Entretanto, muitos não percebem isso porque a atuação do Estado acaba distorcendo essas relações. Ao taxar excessivamente os mais produtivos, dificultar o empreendedorismo com burocracia e transformar a liberdade econômica em privilégio de poucos, o Estado intervencionista se torna o verdadeiro obstáculo à prosperidade.
No livro O Homem Mais Rico da Babilônia, há um trecho que sintetiza com clareza o equívoco comum de associar a riqueza de alguns à pobreza de outros. Em um diálogo revelador, o rei Sargon questiona seu chanceler sobre o motivo de tantos cidadãos viverem em miséria enquanto poucos concentram a riqueza. O chanceler, então, responde que o ouro está com aqueles que aprenderam a acumulá-lo. Diante disso, o rei indaga:
– Por que deveriam tão poucos homens serem capazes de adquirir todo o ouro?
– Porque sabem como fazê-lo. Não se pode condenar um homem por ter sabido atrair o êxito. Tampouco se pode com justiça tirar de um homem que construiu honestamente sua fortuna para dividir com outros que não tiveram tal capacidade.
No mesmo sentido caminha o discurso de governantes populistas. Eles, frequentemente, reforçam a ideia de que a solução é “tirar dos ricos para dar aos pobres”. Todavia, a prática brasileira evidencia que o dinheiro retirado dos empreendedores raramente chega às mãos dos mais necessitados. Ele, na verdade, é consumido pela máquina pública, perpetuando o assistencialismo e desincentivando a busca por independência financeira.
Portanto, a prosperidade não nasce da imposição estatal, nem da inveja travestida de justiça social, mas da liberdade de empreender e da excelência em servir ao mercado. Para que o livre mercado funcione de forma justa e duradoura, é essencial resgatar valores como responsabilidade e respeito ao mérito. Só uma sociedade com valores sólidos é capaz de gerar uma economia realmente livre, em que ricos e pobres convivem e crescem juntos, não por imposição, mas por colaboração e liberdade.
Quando se entende que riqueza pode ser criada, e não apenas redistribuída, muda-se a postura diante do sucesso alheio. Ao invés de ataques, busca-se aprender com quem auferiu boa renda, reconhecendo que o crescimento individual pode inspirar caminhos para o progresso coletivo. Nesse novo olhar, o sucesso do outro deixa de ser ameaça e passa a ser possibilidade.
O verdadeiro progresso social não está em nivelar todos por baixo, mas em criar condições para que mais brasileiros possam ascender. Uma economia floresce quando indivíduos são livres para prosperar e moralmente guiados para usar essa liberdade com justiça. Esse é o caminho para uma nação mais próspera, sólida e verdadeiramente rica.
Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.
* Teuller Pimenta é Advogado, Especialista em Direito e Processo Tributário, membro do Núcleo de Tributação Empresarial do IBEF-ES e do IBEF Academy.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.
