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Coluna Vitor Vogas

Terror nas ruas de Vitória bota mais fogo na disputa de Manato com Casagrande

“Bandido não vai se criar aqui. Vamos pra cima!”, afirmou Casagrande. Manato pediu reunião com ministro da Justiça e Segurança Pública, mediada por Magno Malta

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O dia de caos e terror que foi esta terça-feira (11) em Vitória e na Serra, com um ônibus metralhado, outros seis incendiados, um veículo da TV Tribuna depredado e o cinegrafista agredido por bandidos, colocou ainda mais fogo na disputa eleitoral entre o governador Renato Casagrande (PSB) e seu oponente, Carlos Manato (PL).

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Em coletiva de imprensa concedida por volta das 19h30, Casagrande declarou que seu governo não vai se deixar intimidar e que “vai pra cima” da bandidagem: “Bandido não vai se criar aqui. […] Vamos partir pra cima e resolver, pra dar segurança à população capixaba”. Ele destacou que, até aquele momento, dez suspeitos de participar dos ataques a coletivos já haviam sido presos, que o policiamento ostensivo nas ruas foi reforçado e que a população poderá seguir sua vida normalmente no feriado desta quarta-feira (12).

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Perto das 21 horas, a coordenação da campanha de Manato enviou à imprensa uma nota informando que o candidato pediu ao senador eleito Magno Malta (PL) para mediar uma reunião emergencial com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Gustavo Torres, a fim de “buscar a ajuda e a inteligência da União para, de pronto, dar uma resposta à sociedade que clama por segurança”. De acordo com a nota, a campanha de Manato interrompeu todas as atividades políticas, e o candidato se solidariza com a população capixaba.

Nesta terça-feira (11), seis ônibus do sistema Transcol sofreram ataques sem vítimas nos bairros Bonfim, Santo Antônio, Centro, Enseada do Suá e Praia do Suá (todos na Capital), e um na Rodovia do Contorno, na Serra. A ação criminosa ocorreu após Jonathan Candida Cardoso, 26 anos, morrer em um confronto com a Polícia Militar na noite desta segunda-feira (10). O homem é apontado como segurança de Fernando Moraes Pereira Pimenta, conhecido como Marujo, um dos líderes do tráfico de drogas da Grande Vitória.

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As declarações de Casagrande

Na coletiva de imprensa de Casagrande, uma repórter perguntou a ele como a situação chegou a esse ponto. “Chegou a esse ponto por causa da tentativa de intimidação diante do trabalho da polícia”, respondeu o governador.

“É uma tentativa de intimidação. Mas a nossa polícia está muito bem preparada, a Polícia Militar e a Polícia Civil. Estamos trabalhando com inteligência. Isso nunca intimidou, não está intimidando e não intimidará a polícia. Nossas forças estão nas ruas de Vitória, na Grande Vitória, para que a gente possa controlar a situação que a gente está vivendo neste momento e para a gente ir pra cima desse grupo criminoso”, disse Casagrande.

Ainda segundo ele, a inteligência da Secretaria Estadual de Segurança Pública já sabe de onde partiu o comando para execução dos atos de terror nas ruas e a polícia está trabalhando para alcançar os mandantes da operação criminosa. “Nunca perdemos esse jogo”, completou.

Casagrande afirmou ainda que mais de 350 homens, entre policiais civis, policiais militares e guardas municipais, estão atuando nas ruas de Vitória, “para que a gente possa dar tranquilidade e segurança às pessoas”.

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A nota de Manato

Confira abaixo a íntegra da nota assinada pela coordenação de campanha de Manato:

“Diante do terror vivido pelo povo capixaba nesta terça-feira (11), em plena capital do nosso Estado, Manato, candidato ao governo, já acionou o senador eleito, Magno Malta, para intermediar uma reunião emergencial com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Gustavo Torres.

A ideia é buscar a ajuda e a inteligência da União para, de pronto, dar uma resposta à sociedade que clama por Segurança. O ministro se colocou à disposição do Governo do Estado para ajudar nas ações contra a organização criminosa que aterrorizou o dia do capixaba, quando coletivos foram queimados, a imprensa ameaçada e o cidadão se viu acuado.

A equipe de campanha do candidato Carlos Manato suspendeu todas as suas atividades políticas. O candidato Manato ainda diz que confia plenamente no trabalho das forças policiais capixabas e reitera o desejo de que a normalidade seja logo reestabelecida.

Manato se solidariza com a população que teve seu retorno para a casa tumultuado e prejudicado com o caos na segurança pública instaurado pelo crime organizado no Espírito Santo.”

Casagrande: “Não deixaremos milícias comandarem o nosso território”

Após a publicação deste texto, o governador foi às redes sociais para postar, em vídeo, o que pode ser interpretado como uma “réplica” a Manato e a outros adversários que estariam buscando tirar proveito político da situação. Dirigindo-se aos capixabas, o governador afirmou:

“Podem ter certeza que, assim como tivemos a elucidação de outros fatos, nós vamos elucidar esse episódio e punir os responsáveis. Infelizmente, a gente tem que assistir lideranças políticas, de forma leviana, tentando usar esse fato para um interesse eleitoral. Pessoas que deveriam estar ajudando no enfrentamento ao crime tentam tirar só proveito da cena do crime, da cena do fato. Podem ter certeza: enquanto eu for governador, nós não deixaremos milícias nem grupos criminosos comandarem o nosso território como acontece no Rio de Janeiro. Vamos continuar combatendo o crime organizado no estado do Espírito Santo.”

Além do próprio Manato, a quem Casagrande pode estar se referindo? Vejamos:

Os coadjuvantes

À tarde, o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), adversário político de Casagrande, postou um vídeo atribuindo à Guarda Municipal de Vitória a apreensão de dois adolescentes com galões de gasolina que seriam usados para atear fogo em coletivos. Em sua coletiva de imprensa, por volta das 19h30, Casagrande citou a Polícia Civil e a Polícia Militar como responsáveis por dez prisões e apreensões de menores ao longo do dia, mas não a Guarda Municipal.

Já à noite, vestindo colete à prova de bala, Pazolini divulgou outro vídeo, em que, sem citar o governador pelo nome, insinua que ele passou o dia ausente por estar envolvido em atos de campanha:

“Infelizmente, mesmo com essa série de ataques e tudo o que aconteceu hoje, nós sentimos falta das demais autoridades. Muita gente envolvida em outras atividades, atividades políticas no dia de hoje, e que não estavam ao lado da população. Lamentamos por tudo isso. Enquanto o Espírito Santo passa por este momento difícil, infelizmente alguns se omitem, não estão presentes, estavam envolvidos em outras atividades, talvez políticas. E a população pode ter certeza que nós da Prefeitura de Vitória e todos os agentes da Guarda sempre vão estar ao lado do nosso povo.”

O vereador Armandinho Fontoura (Podemos), presidente eleito da Câmara de Vitória e também opositor do governo Casagrande, gravou um vídeo, também vestindo colete, próximo a um ônibus que pegava fogo na Enseada do Suá, para dizer que pediu ao Ministério da Justiça que mande a Guarda Nacional ao Espírito Santo para garantir a lei e a ordem no Estado: uma intervenção federal.

Por sua vez, o senador eleito Magno Malta, citado na nota de Manato como o “intermediador” da conversa com o ministro da Justiça, publicou um vídeo em que afirma já ter conversado com Anderson Gustavo Torres, que teria colocado as forças nacionais à disposição do Espírito Santo. Magno enfatizou que só o governador tem a autoridade para solicitar oficialmente uma intervenção desse tipo ao governo federal e exortou Casagrande a fazer isso. Ou seja: jogou mais pressão ainda no colo do governador.

Calma, gente…

Calma, muita calma nesta hora… Intervenção federal é medida extrema, muito séria e muito grave. Não é como montar uma blitz da Lei Seca ali na esquina. Só para se ter uma ideia, em 2002 o crime organizado estava verdadeiramente infiltrado nos três Poderes do Espírito Santo (não chefes de boca de fumo, mas criminosos de colarinho branco), a seção federal da OAB pediu ao governo FHC uma intervenção federal… e o pedido foi recusado. Mandou-se a missão especial que começou a virar a página da história do Espírito Santo.

A sucessão de episódios ocorridos nesta terça, sobretudo em Vitória, é extremamente grave, e o governo Casagrande tem a obrigação de dar efetivamente a resposta rápida e implacável prometida pelo governador. A sociedade capixaba não espera menos. Que ele cumpra a sua palavra empenhada de combater o crime, de maneira intransigente, enquanto estiver na cadeira.

Por outro lado, o instrumento da intervenção federal não pode ser banalizado assim nem deveria ser utilizado como arma de campanha, para perseguição de fins eleitorais. É preciso tomar muito cuidado com discursos e gestos que, de tão apressados, de tão precipitados, deixam no ar aquela ponta de suspeita sobre possível “aproveitamento político” de uma situação muito delicada – mais ainda porque realizados num momento como este, em plena fervura do segundo turno nacional e estadual.

Esperemos o dia de amanhã. E que o fogo desta terça-feira seja controlado e, literalmente, abaixado.


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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 38 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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