Coluna Vitor Vogas
Será possível? Audifax anuncia meta mais que ousada de combate à violência
Em entrevista à BandNews FM, ex-prefeito da Serra estabelece meta de redução de homicídios que não só ele como qualquer candidato a governador teria muita dificuldade em cumprir

Imagem: João Vitor Gomes
Em entrevista à rádio BandNews FM na manhã desta terça-feira (20), o candidato da Rede ao Governo do Estado, Audifax Barcelos, estabeleceu uma meta para lá de ousada – para não dizer inexequível – relacionada a um dos maiores problemas enfrentados pelos capixabas: a violência.
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Segurança pública é o principal ponto da plataforma de campanha de Audifax. Instado a fixar uma meta de redução de homicídios, o ex-prefeito da Serra afirmou que pretende diminuir a taxa anual de assassinatos do Espírito Santo em 70% durante sua administração, se for eleito governador. Atenção: não é reduzir para 70% do número atual, mas em 70%.
Para exemplificar, se o Espírito Santo fechar 2022 com exatos 1.000 homicídios, Audifax tem por meta deixar o Estado com 300 homicídios por ano até 2026, quando acabará a próxima gestão.
“Eu tenho uma experiência na Serra. Na Serra, daquilo que nós pegamos, houve uma diminuição de 70%. Eu tenho experiência com isso. Quando eu cheguei na Serra, nosso número de homicídios foi 450 [em um só ano], no meu primeiro mandato [de 2005 a 2008]. E o desafio que eu tinha era de menos de 150 [por ano] e, graças a Deus, a gente conseguiu. Não fiz isso sozinho. Então, houve uma redução de 70% na cidade da Serra. Então, a minha meta é chegar a 50% a 70% nos meus primeiros quatro anos de governo. Diminuir em 70%, como fiz na cidade da Serra. Essa é a minha meta.”
A intenção é louvável, mas a missão é impossível em tão curto espaço de tempo. É trabalho para mais de um governo e para mais de quatro anos. E o governador que lograr essa façanha entrará automaticamente para os livros de História.
Para estabelecer essa meta, Audifax citou a sua experiência como prefeito da Serra e os números alcançados no município, que de fato experimentou uma grande diminuição do índice de assassinatos ao longo da última década. Vale fazer duas ressalvas, contudo.
A Serra não chegou a menos de 150 homicídios por ano na primeira administração de Audifax, mas na terceira (de 2017 a 2020). E a queda observada pela cidade mais populosa do Estado acompanhou um movimento de redução ocorrido em todo o Espírito Santo no mesmo período.
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Em 2008, o Espírito Santo chegou a atingir o vergonhoso posto de 2º estado com a maior taxa de homicídios dolosos do país, menor apenas que a de Alagoas. No ano seguinte, o Estado bateu na pior marca da sua série histórica: naquele ano, segundo dados oficiais da Secretaria Estadual de Segurança Pública, o Espírito Santo registrou 58,3 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes. Nessa época, o Estado registrava uma média de 2 mil homicídios dolosos por ano. Enquanto isso, a Serra chegou a figurar negativamente entre os municípios mais violentos do Brasil inteiro.
De lá para cá, apesar do longo caminho ainda a ser percorrido, estado e município evoluíram.
Em 2021, de acordo com dados do Observatório da Segurança Cidadã (Secretaria de Estado de Segurança Pública e Instituto Jones dos Santos Neves), o Espírito Santo registrou 1.060 homicídios dolosos, o que corresponde a uma taxa de 25,8 homicídios intencionais por grupo de 100 mil habitantes.
A Serra, de forma isolada, teve praticamente o mesmo resultado: foram registrados 138 homicídios dolosos no município, ou seja, 25,7 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes (considerando a população de 536.765 pessoas projetada pelo IBGE para a Serra em 2021).
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Ainda há muito a melhorar
Em 2021, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Espírito Santo foi o 13º estado mais violento do país entre as 27 unidades federativas, tomando-se por base o índice de mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes.
O conceito de “mortes violentas intencionais” usado pelo estudo inclui homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte, policiais civis e militares vítimas de conflitos violentos letais intencionais (CVLI) e mortes decorrentes de intervenção policial (a serviço ou fora de serviço).
Somando tudo, o Espírito Santo registrou 1.160 mortes violentas intencionais em 2021, o equivalente a 28,2 mortes do tipo para cada 100 mil habitantes. Estamos no meio do ranking. Doze estados têm taxa ainda mais alta (ou pior) que a nossa. Outros 14 têm taxa melhor (ou menos ruim). Somos o 13º mais violento, ou o 15º menos violento.
Quanto à Serra, estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) divulgado em 2021 apontou o município como o 71º mais violento do Brasil. Outras quatro cidades capixabas ficaram entre as 120 mais violentas do país: Cariacica (25º lugar), Linhares (53º), Vila Velha (82º) e Vitória (104º).
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