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Coluna João Gualberto

Os empresários e a política

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Há quase um século, quando Getúlio Vargas conduziu o seu vitorioso movimento pelo fim da Primeira República, ele precisava se apoiar em novos atores políticos na sociedade. Um dos grupos que deram suporte ao Governo Vargas, em seu início, foi o dos comerciantes organizados em associações comerciais, afinal elas eram as mais legítimas representantes dos interesses dos empresários, naquela época.

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Carlos Lindenberg, que depois seria governador do nosso estado e senador da república, era então o presidente da Associação Comercial de Vitória. Foi essa instituição que, sob sua liderança, deu sustentação política ao novo governo entre os empresários do Espírito Santo. O comércio, afinal, era o grande pilar da economia urbana em nosso estado, como praticamente em todo o país. Esse apoio foi fundamental para o novo governo, que iria pôr fim à república dos coronéis. 

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Um bom retrato do papel histórico dos empresários, reunidos em suas associações comerciais, foi dado, na ficção, por Jorge Amado. Em seu romance Gabriela, Cravo e Canela, mostrou como o personagem Mundinho Falcão, um jovem empresário idealista, operou os ideais de progresso de Ilhéus através desse tipo de associação, na mesma época. Assim também foi feito pelos empresários capixabas, por meio da Associação Comercial de Vitória, quando colaboraram para o enraizamento dos interesses modernizantes da Era Vargas.

Na segunda metade do século XX foi a vez da atuação da Federação das Indústrias, a Findes, criada pelo dinâmico Américo Buaiz, em 1958, o mesmo criador da Federação do Comércio, em 1954. A Federação das Indústrias foi celeiro de novas ideias, produziu inúmeros debates e discussões em torno da nossa industrialização. O tema era urgente e importante, pois estávamos passando pela equivocada erradicação dos cafezais, a qual desorganizado totalmente a economia capixaba. Era preciso ir ao encontro da modernidade e de novos patamares econômicos.

Não foi pouco o que fez a Findes pelo nosso estado na segunda metade dos anos 1960. Para ficar apenas no exemplo mais contundente, essa Federação contratou, com uma empresa de consultoria de renome nacional, o nosso plano de desenvolvimento e o ofereceu, sem custos, para o então governador Christiano Dias Lopes, já que o governo estadual não dispunha de recursos para tal contratação.

Seguir esse plano com rigor e disciplina foi uma das chaves do sucesso do novo governo estadual. Tanto nos anos 1930 quanto nos anos 1960 os empreendedores capixabas, reunidos em suas associações representativas, deram enorme contribuição ao nosso processo de desenvolvimento. 

Quero com isso dizer que todas as vezes em que nossa economia e a nossa política estiveram ameaçadas, os empresários mostraram que têm capital social e colocaram suas forças a serviço do Espírito Santo. Foi assim também no início do século XXI, quando mais uma vez nuvens sombrias pairavam em nossos céus e muitos setores sociais organizaram-se em defesa dos interesses coletivos ameaçados.  Surgiu então o movimento empresarial Espírito Santo em Ação.

Também o ES em Ação deu sua contribuição à normalização do funcionamento de nossas instituições e muito tem colaborado na construção de uma sociedade com maior capacidade de gestão de seus recursos, para o bem de todos. Mais uma vez os capixabas demonstraram possuir capital social e souberam se organizar coletivamente para vencer as dificuldades, construindo a prosperidade. Ao longo de quase 20 anos, vêm contribuindo política e financeiramente para a construção de planos de desenvolvimento, como o Espírito Santo 500 anos, recentemente entregue à população. 

Temos dado exemplos ao Brasil, sobretudo com o mencionado Plano da Findes dos anos 1960 – o primeiro plano de desenvolvimento brasileiro construído pelo setor privado para o universo público – e mais recentemente os três que foram realizados com a participação do ES em Ação, além daqueles dos governos estaduais. A instituição, desse modo, mostra que sua atuação independe de disputas partidárias e querelas políticas. 

Agora, quando se aproximam as eleições de 2026, mais uma vez torna-se necessário colaborar com o sistema político na escolha de novos caminhos, de novas lideranças capazes de levar adiante o progresso que nos foi proporcionado nos seis últimos governos estaduais por meio de seus líderes, sejam do poder executivo, sejam do poder legislativo.  É preciso estar atento em tempos de calmaria, para evitar as tormentas.

João Gualberto

João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.