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Coluna Vitor Vogas

Saiba quem é o médico cotado para substituir Nésio Fernandes na Sesa

Quem é e quais são as credencias do ginecologista indicado por Ricardo Ferraço cujo nome está em análise por Casagrande neste momento? E mais: o que pode mudar na condução da Sesa se ele for mesmo escolhido?

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Remegildo Gava Milanez é ginecologista e obstetra. Foto: Reprodução Facebook

O ginecologista e obstetra Remegildo Gava Milanez é o nome mais cotado para substituir Nésio Fernandes (PCdoB) como secretário estadual de Saúde no próximo governo Casagrande (PSB). O nome de Remegildo está na mesa do governador, à espera de uma decisão. Fontes governistas confirmam que, até por falta de concorrência, ele é, no momento, o candidato mais forte à vaga de Nésio – que não continuará na equipe de Casagrande após dezembro.

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O próprio Remegildo, em conversa com a coluna na noite desta terça-feira (6), confirmou essa possibilidade e garantiu que, se o convite for concretizado pelo governador, ele aceitará o cargo. Ou seja, ele topa ser secretário.

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O médico acrescentou ter sido indicado a Casagrande por ninguém menos que o vice-governador eleito, Ricardo Ferraço (PSDB). Ele também conta com o apoio de setores da classe médica capixaba – em particular, no sistema privado de saúde, onde construiu toda a sua trajetória profissional.

“Tive duas reuniões com Ricardo na casa dele, e ele me fez o convite”, relata Remegildo. “A princípio, confesso que disse não. Mas meu grupo médico me disse que seria interessante, até para distender a corda. A partir desse estímulo, mudei de ideia. Na segunda conversa, Ricardo me disse: ‘Casagrande aceitou seu nome!’ Eu perguntei a ele quem me indicou. ‘Fui eu mesmo’, respondeu o Ricardo.”

Perguntei ao possível futuro secretário por que Ricardo o indicou para Casagrande. Ele reproduziu as palavras do vice-governador eleito:

“Ricardo me disse: ‘Você é um cara que navega bem por todos os lados. Foi diretor de hospital por muitos anos, sabe conversar com toda a classe médica e política, tem experiência técnica’. Então Ricardo me disse: ‘O governador vai te ligar’. E é isso. Estou em compasso de espera. Se o convite realmente for feito, eu decidi que vou aceitar. Se eles entenderem que precisam e que meu nome pode agregar, estou pronto para colaborar.”

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Com 60 anos, Remegildo Milanez tem uma sólida carreira construída na rede privada hospitalar do Espírito Santo. Atualmente, além de manter consultório próprio na Enseada do Suá, ele atende no Hospital Meridional Serra (antigo Hospital Metropolitano), além de responder pelas relações institucionais do grupo Athena Sudeste, que gere o Vitória Apart Hospital, também na Serra.

Por 16 anos, ele presidiu o Hospital Metropolitano, até sua venda, em 2018. De 2007 a 2011, foi membro do Conselho de Administração da Unimed Vitória. De 2011 a 2019, fez parte da diretoria da mesma cooperativa, primeiro como diretor de provimentos de saúde (2011-2015), depois como diretor comercial (2015-2019). Antes disso, entre 1990 e 1993, foi diretor clínico da maternidade Pró-Matre.

Nascido em Linhares e morador de Vitória, Remegildo também tem engajamento no movimento empresarial da Serra. No biênio 2015-2016, enquanto presidente do Metropolitano, também presidiu a Associação dos Empresários da Serra (Ases).

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Embora nunca tenha exercido um mandato eletivo, Remegildo também já teve atividade político-partidária. Em possível prova do “navega bem por todos os lados” que ele diz ter ouvido de Ricardo, cultiva boa relação tanto com o prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT), quanto com o ex-prefeito do município Audifax Barcelos (sem partido). Já esteve mais próximo de Vidigal. Atualmente, está mais próximo de Audifax.

Ele revela inclusive que sua amizade com o ex-prefeito foi um dos fatores que, inicialmente, o fizeram hesitar em aceitar a sondagem feita por Ricardo. “Sou muito ligado a Audifax. Fiquei preocupado de ele ficar triste. É um amigo pessoal. Mas estou aí para ajudar.”

O ex-prefeito da Serra foi candidato a governador este ano, em oposição a Casagrande. Ficou no 1º turno, com menos de 7% dos votos válidos. No 2º turno, desfiliou-se da Rede Sustentabilidade e apoiou a candidatura de Manato (PL), derrotado por Casagrande.

Remegildo foi filiado à Rede (a convite de Audifax) e, antes disso, ao PDT (a convite de Vidigal). Sem sucesso nas urnas, disputou duas eleições, ambas pelo PDT: a deputado estadual em 2006 e como suplente de João Coser (PT) na eleição para o Senado em 2014.

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Elogios e preocupações

Pelo que pude apurar com fontes que preferiram o anonimato, o nome de Remegildo como possível sucessor de Nésio Fernandes na Sesa divide opiniões.

Por um lado, ninguém questiona nem sua competência nem sua longa experiência como médico e como executivo na área da saúde – frise-se: na rede privada. Como ginecologista e obstetra, ele é um médico muito respeitado pelos colegas, reconhecido no meio como um excelente profissional. “Nome excelente, está muito bem no setor privado”, atesta um político que também é médico.

Por outro lado, é visto com cautela o fato de sua carreira, por mais lustrosa que seja, ter sido inteiramente edificada no sistema privado de saúde. Posto de outra forma, na palavra final de Casagrande, pode pesar contra ele a falta de experiência como gestor na rede pública e de conhecimento relativo à gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) – algo fundamental para qualquer secretário municipal de Saúde, que dirá para um secretário estadual.

Claro, a experiência no setor privado pode compensar um pouco isso, mas apenas um pouco. A diferença entre ser gestor na esfera privada e sê-lo na esfera pública não é desprezível em nenhuma área, mas é especialmente verdadeira na área da saúde. O SUS é um universo à parte.

“Remegildo é um médico muito qualificado. Mas creio que, para o lugar do Nésio, é necessário um gestor que conheça o chão de fábrica do SUS, a realidade e as engrenagens do sistema. A realidade do sistema privado é muito distinta. A Secretaria de Estado da Saúde se relaciona com o Ministério da Saúde, com os municípios, com os hospitais filantrópicos, com os hospitais privados… Existe toda uma demanda política, uma cobrança dos prefeitos, dos secretários municipais, dos diretores dos filantrópicos. Há toda uma relação de poder, uma relação federativa e institucional. Isso sem falar nas dificuldades de orçamento e no subfinanciamento que o SUS atravessa hoje”, enumera um médico vinculado à Sesa.

“Não pode ser um aprendiz de SUS, que precise de seis meses para aprender. Isso em saúde é tempo demais”, opina a mesma fonte.

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Mudança de perspectiva política

Dentro do governo Casagrande, é difícil encontrar quem acredite que o governador dará, no próximo mandato, uma guinada na condução atual da Secretaria de Saúde. De malas prontas para trocar o governo Casagrande pelo governo Lula a partir de janeiro, Nésio Fernandes imprimiu, em seus quatro anos à frente da pasta, uma marca muito forte de defesa do SUS e de gestão a partir do olhar de um autêntico técnico do Sistema Único de Saúde.

Um médico e executivo do setor privado que eventualmente substitua Nésio aportará, na certa, um olhar diferente, de alguém que pode contribuir introduzindo e adaptando boas práticas da rede privada à gestão da Sesa.

Certamente também abrirá um espaço maior para as cooperativas médicas e uma melhor interlocução com elas. E seguramente ajudará a minar resistências mantidas por parte da classe médica capixaba ao governo Casagrande – seja por questões ideológicas, seja por conta da gestão de Nésio, seja pela soma dos dois motivos.

Nesse sentido, ao patrocinar a nomeação de Remegildo, Ricardo pode estar procurando fazer, junto à classe médica, o que ele mesmo está se encarregando de fazer junto à empresarial: dirimir resistências. Parece-me inclusive que está aí a chave de compreensão para a frase “seria interessante, até para distender a corda”, dita pelo próprio Remegildo lá no início desta prosa.

Por outro lado, Casagrande não há de querer dar cavalo de pau na condução da Sesa. Se concretizada a nomeação de Remegildo, haverá sem dúvida alguma uma mudança do ponto de vista político, isto é, de relacionamento político. Afinal, ele é o “relações institucionais”, o cara que “navega bem por todos os lados” e que pode “distender a corda”, enquanto Nésio, segundo muitos prefeitos, não tem entre seus atributos um bom jogo de cintura político, para dizê-lo de modo sutil.

Relacionar-se melhor com a classe médica foi um dos recados das urnas no 1º turno que Casagrande e seus estrategistas precisaram assimilar no susto e na correria, trocando o pneu com o carro em movimento, durante o 2º turno. O mesmo vale para os segmentos empresarial e evangélico – o que, aliás, o chefe da Casa Civil, Davi Diniz, já até admitiu em recentíssima entrevista à coluna.

Esse é o aspecto político.

Porém, do ponto de vista técnico, seguindo as pegadas de Nésio e o legado do “sanitarista raiz” que liderou a pasta no último quadriênio, o próximo secretário da Saúde deverá dar continuidade à política de priorização total do SUS e de fortalecimento da rede pública. Pessoas ligadas ao governo acreditam que essa há de ser uma premissa inegociável, seja quem for o sucessor de Nésio na Sesa.

Se for mesmo Remegildo, ele terá de virar a chave e aprender rapidamente.

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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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