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Coluna Vitor Vogas

Guerino e Manato anunciam compromisso de aliança no 2º turno

Em comício para eleitores evangélicos na noite desta quinta (1º), os dois candidatos declararam que aquele que passar para o 2º turno terá o apoio do outro. Guerino ainda chamou Magno Malta de “nosso futuro senador”

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Guerino Zanon e Carlos Manato se abraçam ao anunciar acordo. À direita, Magno Malta

Os candidatos a governador Guerino Zanon (PSD) e Carlos Manato (PL) anunciaram publicamente na noite desta quinta-feira (1º) um compromisso mútuo: entre os dois, aquele que passar para o 2º turno contra o atual governador, Renato Casagrande (PSB), terá seguramente o apoio do outro. Guerino e Manato tornaram público o acordo diante de eleitores evangélicos, no Espaço Patrick Ribeiro (Novo Aeroporto de Vitória), em comício organizado pelo Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política (Fenasp).

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Na mesma oportunidade, Guerino praticamente declarou seu apoio eleitoral ao ex-senador Magno Malta (PL), chamando-o, diante do próprio, de “nosso futuro senador da República”. Guerino até então não havia declarado apoio a nenhum candidato ao Senado.

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Guerino e Manato discursaram, nesta ordem, para pastores e fiéis de várias denominações evangélicas. Foram sucedidos no palco por Magno, o único candidato a senador convidado pela Fenasp. Os três são apoiados pelo fórum e assinaram uma carta elaborada pela entidade, comprometendo-se com nove princípios defendidos pela Fenasp (que apoia Bolsonaro à Presidência), incluindo uma “aliança conservadora contra partidos e coligações de esquerda”.

Primeiro a falar, Guerino iniciou seu discurso chamando Manato de “meu querido amigo” e firmando em público o acordo com o adversário – que concorre com ele dentro do mesmo campo, o da direita bolsonarista e conservadora, e disputa os mesmos votos evangélicos:

“Quero abrir minha fala externando de público nosso compromisso que, no primeiro minuto após as 18 horas de sair o resultado [no dia 2 de outubro], se nem você nem eu ganhar a eleição no 1º turno, com o desejo do povo que um dos dois vá para o 2º, o outro bate a ligação, nem precisa bater, para saber que estaremos juntos até o final.”

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Também logo no início do seu pronunciamento, Manato corroborou o acordo, dedicando a Guerino palavras cordatas:

“Guerino Zanon, sempre muito educado, muito competente, já deixou claro: no segundo turno, independentemente de qualquer coisa, ou ele ou eu, nós estaremos juntos. O importante é retirar a esquerda.” No final, ainda reforçou: “Não tem negociata entre nós. É ligar e marcar o horário da entrevista, para anunciar que estamos juntos. Esse é o nosso compromisso”.

Em seu turno, Magno Malta cimentou ainda mais a aliança entre os dois candidatos ao governo, opinando: “Temos um adversário único. Temos que entender que não somos adversários, porque temos um inimigo em comum, que é a esquerda. E nós precisamos desapeá-los do poder [no Espírito Santo]. Louvável o que disse Guerino. Louvável o que disse Manato”.

Segundo o presidente da Câmara de Vitória, Davi Esmael (PSD), a Fenasp, presidida no Espírito Santo pelo Pastor Romerito, teve participação decisiva na construção da aliança de 2º turno entre Guerino e Manato, o que teria envolvido inclusive o presidente Jair Bolsonaro (PL) – numa prova da influência desse fórum formado por pastores evangélicos. Pré-candidato a deputado estadual pelo partido de Guerino, Davi apoia o ex-prefeito de Linhares para o Palácio Anchieta, tem grande inserção no meio evangélico e por muito pouco não se tornou o seu candidato a vice-governador.

Em suas falas, tanto Guerino como Manato fizeram acenos bem fortes ao segmento evangélico, adotando – com destaque para o primeiro – um discurso compatível com o que agrada a esse eleitorado, situado principalmente na faixa neopentecostal.

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O discurso de Guerino: “ES tem que virar à direita”

O norte do discurso de Guerino foi traçar uma polarização entre “conservadores de direita” (ele, Manato, Magno, todos ali presentes) e “socialistas” (implicitamente, Casagrande, Lula, o PT). Mais de uma vez, o ex-prefeito de Linhares afirmou que “socialistas não são democráticos”.

“Socialista não é democrático. Não é. É ditador na sua essência”, disse. “Nós, conservadores, somos democráticos e respeitamos as diferenças, coisa que os socialistas não fazem. A Bíblia nos ensina isso, nos ensina a respeitar as diferenças. Um governador respeita as diferenças quando não impõe a sua ideologia. Foi o que Jesus nos ensinou”, também comparou, em um exemplo da sua retórica que misturou acirrada disputa ideológica com forte teor religioso.

Guerino fez questão de frisar seu posicionamento a favor de Bolsonaro e disse que o Espírito Santo precisa guinar à direita. Também insinuou que Casagrande está escondendo o PT e Lula no palanque: “Eu não escondo aliados como andam fazendo por aí. Sou de direita, conservador. Já declarei meu voto em Jair Bolsonaro, que também foi meu candidato na última eleição”, afirmou, arrancando aplausos e lembrando que esteve pela primeira vez ao lado do presidente naquele mesmo palco, em evento que antecedeu a Marcha para Jesus em Vitória, no dia 23 de julho.

“Voto nele porque ele defende o projeto que eu defendo e que nós defendemos. Ele é o nosso representante. Está na hora de o Espírito Santo virar definitivamente à direita, assim como viramos em 2018 com a eleição de nosso presidente.”

Em seguida, Guerino explicitou o que antes só havia insinuado a respeito de Casagrande: “Ele está aliado ao Lula, é aliado daquele que provocou o maior abismo na sociedade e na economia do país. E está envergonhado de abrigar o PT no seu palanque, mas quer o voto deles”.

O candidato também criticou o secretário estadual de Educação, Vitor de Angelo (sem filiação partidária): “O secretário de Educação, que quer implantar ideologia a todo momento, é o coordenador da campanha do atual governador. É assim que eles tratam educação, de forma partidária, com a ideologia do partido, e não com respeito à família. Isso é típico dos socialistas: suas decisões são sempre as certas e são as únicas”. Segundo ele, “é papel da família educar seus filhos com seus princípios e valores”: “É nisso que eu acredito”.

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Dizendo algo muito parecido com o cerne da pregação do Pastor Romerito – que o antecedeu no palco –, Guerino exortou os cristãos conservadores a participar mais ativamente da política e do processo eleitoral. “‘Orai e vigiai’. Por algum tempo, quero ser crítico de nós mesmos, só oramos. Esquecemos de vigiar. Mas agora é hora de agir. E estamos fazendo isso a partir deste momento. Com todo o respeito, tenho pedido aos pastores: vamos à luta defender a nossa crença.”

Sem ser mais específico, o candidato também alardeou que “nossas instituições estão sob ameaça”. E ainda sublinhou que, em Linhares, no auge da pandemia, ele não pediu a ninguém para fechar igrejas nem estabelecimentos comerciais. Em certos meios evangélicos – inclusive no comício em questão –, tem sido difundida entre fiéis uma onda de medo relacionada a um suposto risco de “fechamento de igrejas” em caso de vitória nas urnas de candidatos de esquerda.

“Quero ser o governador de todos os capixabas”, encerrou Guerino – curiosamente, ecoando o slogan da propaganda eleitoral de Manato. Ele pediu “o voto da direita segura”: “Se não for pra mim, que seja para um candidato cristão e conservador”.

O discurso de Manato: “Eu cozinhei pra ele”

Congruente com o discurso de Guerino em muitos aspectos, o de Manato diferiu do adversário por um detalhe fulcral: o esforço do candidato em se distinguir de Guerino e de qualquer outro concorrente por sua relação de maior proximidade política e até pessoal com Jair Bolsonaro.

“Deus, pátria, família e liberdade”, foram as primeiras palavras de Manato para o público, reverberando o lema do presidente, seu correligionário: “Fui convidado por Jair Bolsonaro para entrar no PL e ser candidato a governador”.

“Diferentemente do Guerino”, frisou Manato, “quero dizer que Bolsonaro veio ao Espírito Santo três vezes, a primeira delas em 2016. Nas três ele ficou na minha casa, e eu cozinhei pra ele”.

Manato também tocou em temas muito caros àqueles eleitores neopentecostais, como a rejeição ao aborto (“Como médico, fiz milhares de partos, mas não fiz um aborto”) e ao que eles chamam de “ideologia de gênero”: “Eu e Magno Malta combatemos desde 2011 a ideologia de gênero no Congresso. No meu governo, não vai ter. Sexualização de crianças de seis anos na escola não vai acontecer”.

O ex-deputado federal ainda prometeu que, se for eleito, seu governo vai potencializar com recursos e infraestrutura os projetos sociais já mantidos por igrejas, como cursos de qualificação profissional, recuperação de dependentes químicos e doação de cestas básicas.

Ele encerrou pedindo votos para a “trinca”: Manato governador, Magno Malta senador e Bolsonaro presidente. E reforçou a aliança com Guerino: “Nosso compromisso é com você, Guerino, de marcharmos juntos no segundo turno”.


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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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