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Coluna Vitor Vogas

Grande Vitória formou “cordão de segurança” e garantiu a reeleição de Casagrande

Além disso, campanha do governador teve êxito em cumprir a estratégia de não deixar Manato ampliar vantagem em redutos bolsonaristas no interior nem levar todo o espólio de Guerino Zanon

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Casagrande em carreata em Vila Velha, entre Arnaldinho Borgo e Victor Linhalis. Foto: Hélio Filho

Em meados da campanha no 2º turno, perguntei a um colaborador do governador Renato Casagrande (PSB): “E aí? O que você acha que vai dar?” A fonte me confidenciou a seguinte previsão: “A Região Metropolitana vai nos dar a vitória. Os eleitores da periferia, onde o governo fez muitas entregas, reconhecem isso. A Grande Vitória formou um cordão de segurança para a nossa campanha, principalmente na Serra e em Cariacica. No interior, vamos segurar as pontas”.

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A análise do mapa da votação no Espírito Santo prova que, apesar da “suspeição”, o “vidente” acertou em cheio. Simplificando a conclusão que os números evidenciam: a Grande Vitória de fato garantiu a reeleição de Casagrande.

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Reeleito no domingo (30) com um total de 1.171.288 votos (53,8% dos votos válidos), Casagrande derrotou Manato (PL) com uma vantagem relativamente confortável, de 165.267 votos, considerando a apuração em todo o Espírito Santo.

Mas a maior parte dessa vantagem foi construída na Grande Vitória. Somente na região, o governador obteve 107.520 votos a mais que o adversário.

Portanto, só na Grande Vitória, Casagrande botou uma frente de mais de 100 mil votos sobre Manato, o que lhe deu a folga necessária para se reeleger.

Na região, que concentra aproximadamente metade dos eleitores do Espírito Santo, Casagrande obteve um total de 579.831 votos, contra 472.311 de Manato. Tomando-se a Grande Vitória de forma isolada, o atual governador obteve 55,1% dos votos válidos, ante 44,9% de Manato – desempenho superior aos 53,8% obtidos por ele na totalidade do Estado.

No interior – ou seja, na soma das demais regiões –, Casagrande também derrotou Manato, mas por uma margem bem menor: fora da Grande Vitória, ele teve 57.747 votos a mais que o oponente. Excluindo-se da totalização os sete municípios metropolitanos, Casagrande fica com 52,6% dos votos válidos, contra 47,4% de Manato.

A Região Metropolitana da Grande Vitória é composta pelos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Viana, Guarapari e Fundão. Na região, a única cidade onde Casagrande perdeu para Manato foi Guarapari. Ali, o candidato do PL venceu com uma frente de 6.716 votos.

Na Serra, maior colégio eleitoral do Espírito Santo, Casagrande colocou sobre Manato uma frente de 39.466 votos.

Em Vitória, ele ganhou do bolsonarista com uma vantagem de 36.743 votos.

Em Cariacica, a vantagem de Casagrande foi de 20.659 votos.

Em Vila Velha, segundo maior colégio eleitoral do Estado, o governador obteve 10.095 votos a mais que Manato.

Em Viana, ele venceu por 4.746 votos; em Fundão, foram 2.527 votos a mais.

> Análise: o que permitiu a Casagrande derrotar o bolsonarismo no ES? 

O caso especial de Vila Velha

Na minha avaliação, merece destaque a vitória obtida em Vila Velha, cidade que despertava preocupação especial na campanha de Casagrande. Mesmo não tendo sido a vitória mais dilata, foi, possivelmente, a mais difícil e mais emblemática na Região Metropolitana.

Isso, em primeiro lugar, porque no 1º turno Casagrande até conseguiu derrotar Manato em território canela-verde, mas por margem muito pequena: no dia 2 de outubro, ele ficou com 43,8% dos votos válidos no município, contra 42,5% de Manato – uma vantagem de apenas 3.303 votos.

Em segundo lugar porque, se você circulasse por Vila Velha durante o mês de outubro, principalmente na região central e na orla de Itapoã e Praia da Costa (regional 1 da cidade), tinha a impressão de que estava a trafegar no Bolsonaristão, ou na capital nacional do bolsonarismo, tamanha a quantidade de veículos de passeio com adesivos do atual presidente e de Manato.

Mas Casagrande conseguiu furar esse bloqueio e na verdade, no 2º turno, em vez de perder para Manato em Vila Velha, derrotou-o com uma vantagem ainda maior que no 1º. Ganhou, portanto, mais votos que o opositor de um turno para o outro.

Acredito que esse crescimento tenha se dado principalmente na periferia do município e que a ajuda do prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos), mergulhado de cabeça na campanha, tenha sido fator determinante para a configuração desse placar.

> Casagrande realizou um feito que ninguém mais conseguiu no Brasil inteiro.

Os municípios chave no interior

Ao mesmo tempo, a campanha de Casagrande foi muito exitosa no cumprimento de outro objetivo estratégico: “contenção de danos” em municípios fundamentais do interior.

Em São Mateus, como no 1º turno, a vitória do governador foi ampla.

Mas a campanha sabia desde o início que vencer Manato no 2º turno em Cachoeiro, Colatina e Linhares era um sonho muito distante, realisticamente inalcançável. Os dois primeiros porque se consolidaram desde 2018 como colégios muito bolsonaristas; Linhares, devido ao potencial de transferência de votos do ex-prefeito Guerino Zanon (PSD), candidato a governador mais votado na cidade no 1º turno e apoiador de Manato no 2º.

Com os pés no chão, a campanha de Casagrande traçou a meta de minimizar danos ali, isto é: se não podiam ganhar, que pelo menos não deixassem Manato ampliar a vantagem nesses redutos estratégicos.

Também esse objetivo foi cumprido, particularmente em Cachoeiro, como provam os números.

Na maior cidade do Sul do Estado, Manato atingiu no 1º turno a expressiva marca de 58.343 votos (57,32% dos válidos). No 2º, chegou a 62.400 votos (58,10%). Portanto cresceu muito pouco, cerca de 4 mil votos, de um turno para o outro.

Enquanto isso, Casagrande recebeu 38.258 votos no 1º turno (37,59% dos válidos). No 2º, atingiu 45.006 (41,90%), quase 7 mil a mais. O governador, portanto, cresceu mais que Manato em Cachoeiro na segunda fase da disputa.

Já em Colatina esse jogo ficou quase empatado: Manato só cresceu um pouco mais que Casagrande.

No 1º turno, o candidato da oposição conquistou 26.899 votos (42,21% dos válidos). No 2º, subiu para 36.217 (53,08%). Levou 9,3 mil votos a mais.

Por sua vez, Casagrande recebeu 23.898 votos (37,50% dos válidos) no 1º turno. No 2º, chegou a 32.012 (46,92%): ganhou 8,1 mil votos a mais.

Finalmente, em Linhares, Manato realmente foi destinatário da maior parte dos votos confiados a Guerino no 1º turno, mas essa transferência não se deu de maneira acachapante. Casagrande também conseguiu pegar parte do espólio do ex-prefeito.

No 1º turno, Manato teve 21.130 votos (26,15% dos válidos) na cidade. No 2º, saltou para 45.928 votos (54,74%) – um ganho de 24,8 mil votos.

Já Casagrande passou de 22.840 votos (28,26% dos válidos) no 1º turno para 37.971 (45,26%) no 2º – um crescimento de 15,1 mil votos.

Portanto, os 35.231 votos obtidos por Guerino no 1º turno se dividiram no 2º, ainda que em benefício maior de Manato.

> Postura de Manato após derrota é exemplar e deveria ser seguida por Bolsonaro

Aliados vitais

Fundamentais para Casagrande nesse jogo de War Eleitoral foram os prefeitos Arnaldinho Borgo (Vila Velha), Euclério Sampaio (Cariacica), Sérgio Vidigal (Serra), Wanderson Bueno (Viana), Victor Coelho (Cachoeiro), Guerino Balestrassi (Colatina) e Daniel da Açaí (São Mateus), entre outros prefeitos de cidades menores.

Não se pode deixar de citar também o candidato a vice-governador de Casagrande, Ricardo Ferraço (PSDB), que é de Cachoeiro, e alguns deputados eleitos que atuaram intensamente na campanha, como Gilson Daniel (Podemos), Da Vitória (PP), Paulo Foletto (PSB), Victor Linhalis (Podemos), Jack Rocha (PT) e Helder Salomão (PT).

Em Vitória, Casagrande obviamente não teve o apoio do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), um adversário político, mas foi importante a participação em sua campanha da vice-prefeita, Capitã Estéfane (Patriota), além dos três últimos prefeitos da cidade: Luiz Paulo (PSDB), João Coser (PT) e Luciano Rezende (Cidadania), reunidos literalmente em um só palanque em torno de Casagrande.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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