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Coluna Vitor Vogas

Vandinho Leite: “Casagrande foi truculento e desrespeitoso”

Reagindo ao movimento ostensivo do governador em apoio a Marcelo Santos contra ele, candidato à presidência da Assembleia aponta “erros gravíssimos” de Casagrande e aposta que tiro do Palácio sairá pela culatra: em vez de pacificar a base, “implodirá” o Legislativo

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Vandinho Leite – Foto: Elen Campanharo

Verbalizada à coluna nesta terça-feira (24), a decisão do governador Renato Casagrande (PSB) de apoiar o deputado Marcelo Santos (Podemos) na disputa pela presidência da Assembleia, em desfavor do também governista Vandinho Leite (PSDB), gerou reações pesadas por parte do grupo de Vandinho, incluindo o próprio.

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Em entrevista à coluna, o presidente do PSDB no Espírito Santo garante que, perdendo ou ganhando, com ou sem o selo de “candidato governista”, registrará chapa e irá para a disputa contra Marcelo em plenário no dia 1º de fevereiro.

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O deputado abre a entrevista dizendo respeitar a decisão de Casagrande, mas o que se segue são críticas veementes ao movimento do governador, classificado por ele como “truculento” e “desrespeitoso” (com ele, com o PSDB, com o vice-governador Ricardo Ferraço, com os 21 deputados que, garante, já o apoiavam e com outras instituições estaduais que, segundo ele, preferem não ver Marcelo presidente da Assembleia).

Vandinho contesta os critérios expostos por Casagrande para justificar a escolha. Um deles foi o de que Marcelo não será candidato a nada na eleição municipal de 2024 (enquanto Vandinho poderia voltar a concorrer à Prefeitura da Serra). O próprio tucano rebate: “Não sou nem serei candidato a prefeito”.

Dizendo-se “apunhalado pelas costas” pelo governador e apontando “erros gravíssimos” de Casagrande na condução de todo este processo, Vandinho também contesta a ideia de que o apoio do chefe do Executivo a Marcelo pode pacificar a Assembleia e a base (até porque, a julgar por suas palavras, não há a menor chance de se concretizar a composição entre ele e Marcelo tão almejada por Casagrande).

Vandinho entende que, na verdade, o tiro do governador sairá pela culatra, tendo efeito contrário ao desejado. “Pode escrever: o nome de Marcelo Santos não gerará consenso. Me dá a impressão de que quem orientou o governador a essa decisão quer implodir a Assembleia. Não faz o menor sentido!”

Irredutível quanto à permanência na disputa, Vandinho diz acreditar que ainda pode vencer “esta luta de Davi contra Golias”.

Confira a entrevista do preterido, mas obstinado candidato à presidência (obviamente, o Davi nesta história):

Como o senhor recebe a manifestação pública de apoio do governador Renato Casagrande a Marcelo Santos como candidato dele à presidência da Assembleia?

Recebo com o maior respeito, apesar de não concordar. Acredito que os critérios que ele coloca não fazem o menor sentido. Não faz o menor sentido colocar que eleição daqui a dois anos é critério para escolher um candidato à presidência da Assembleia. Eleição municipal não pode pautar quem vai concorrer a dirigir um dos principais Poderes do nosso estado. Além disso, eu também disse ao governador que não sou candidato a prefeito da Serra em 2024.

Não é nem será?

Não sou nem serei candidato a prefeito da Serra. Mas reafirmo que acredito que isso não é critério para escolher candidato à presidência da Assembleia. Além disso, acho que ele deixou de lado o critério de 21 deputados que preferiam o Vandinho, isto é, o critério da preferência da maioria. A última vez que aconteceu uma ação truculenta dessa foi contra a Mariazinha Vellozo Lucas [na eleição da Mesa em 2005, vencida por César Colnago], mas ela era oposição ao então governador Paulo Hartung! O outro critério para o qual o governador não atentou foi a relação com as instituições. Estou vendo inclusive ataques a membros de instituições respeitadas do nosso estado que acreditam que a Assembleia pode ser melhor gerida. O governador ignorou critérios relevantes de ter uma melhor sintonia com os demais Poderes e de ter uma Assembleia pacificada entre os pares. No meu entendimento, o governador não levou em conta os principais critérios.

O senhor diz que o governador está abrindo mão de garantir a pacificação da Casa. Ele mesmo afirma que trabalha pela unificação da base em torno de uma chapa única liderada por Marcelo. O senhor acredita que, com esse movimento ostensivo em favor de Marcelo, o tiro do governador pode sair pela culatra? Ele pode acabar contribuindo para rachar a base?

Pode escrever: o nome de Marcelo Santos não gerará consenso. Me dá a impressão de que quem orientou o governador a essa decisão quer implodir a Assembleia.

Por quê?

Porque não faz sentido! Você pega um candidato que é o Marcelo, por quem tenho o maior respeito e carinho, mas que não era o candidato em quem os outros deputados queriam votar e não tinha a preferência das demais instituições… pega ele e atropela todo mundo. Como é que isso se transforma em consenso? Não consigo ver.

O senhor novamente destaca as “demais instituições”. Antes mencionou “ataques a membros de instituições respeitadas do Estado”, que não gostariam de ver Marcelo presidente da Assembleia. A quais instituições e a quem o senhor se refere?

Não vou citar quais, mas praticamente todas as instituições têm outra preferência. Inclusive visitei os chefes de todas as instituições do Estado e alguns manifestaram isso.

Permita-me ser mais específico: A Gazeta publicou nesta terça-feira que, segundo relatos de deputados que apoiam ou apoiavam o senhor, eles foram recebidos pelo conselheiro Sérgio Aboudib, ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado, e ele os teria abordado sobre a eleição da Assembleia, sugerindo preferência pelo seu nome. O senhor está se referindo a isso?

Sérgio Aboudib jamais interferiu nesse processo. Agora, uma candidatura que faz ataques a membros de outras instituições, como é o caso de Sérgio Aboudib, um conselheiro respeitadíssimo, é um erro absurdo que se comete.

Deputado, o senhor então está firme, forte e irredutível? Vai bater chapa no dia 1º e disputar no voto a eleição contra Marcelo?

Estou firme, forte, animado e com a chapa toda assinada pelos meus apoiadores. É verdade que tem gente que assinou aqui e assinou lá. Mas tem muita gente no apoiamento à minha chapa.

Para não haver mal-entendido: o senhor não está se referindo ao blocão partidário para distribuição das vagas nas comissões a ser protocolado no dia 1º, mas à chapa que o senhor vai registrar no mesmo dia para concorrer à Mesa, certo?

Isso mesmo. A chapa já está assinada.

E hoje a sua chapa tem quantas assinaturas?

Não posso dizer, mas tem muitas assinaturas.

Para registrá-la, o senhor só precisa de sete assinaturas, número de componentes da Mesa. Então já tem pelo menos sete…

Muito mais de sete! É claro que, neste momento, tem pessoas assinando as duas chapas. Mas posso dizer que tenho um número muito maior de apoiamentos.

Não há mesmo a menor chance de o senhor recuar?

Respeito o governador, vou dar governabilidade e vou ter harmonia com as instituições, mas acredito que essa minha decisão de manter a candidatura é o melhor para a Assembleia, é o melhor para as instituições e é o melhor para o Espírito Santo.

No dia 1º, haverá disputa então?

Vai ter disputa, a não ser que eles retirem a chapa deles.

O senhor disputará os votos dos colegas com Marcelo mesmo sem o selo de candidato do Palácio Anchieta?

Sou o candidato da Assembleia, das instituições e do povo do Espírito Santo. E repito: vamos dar governabilidade.

Se disputar com Marcelo e perder, o senhor pode voltar para a oposição ao governo Casagrande, onde esteve de 2019 a 2020, mesmo que o PSDB, presidido pelo senhor no Estado, esteja no atual governo e tenha o vice-governador?

Ganhar e perder faz parte da vida de todo agente público. Com certeza vou ouvir o grupo de parlamentares que estão comigo para definir os passos seguintes.

Então o senhor não descarta nem afirma que vai para a oposição?

Minha tendência é ficar na base, até porque temos o vice-governador do PSDB, mas tenho que ouvir os deputados que estão comigo. Confesso que não esperava essa truculência do governador contra mim que sou da base, que o apoiei nos dois turnos na última eleição, que fui para a rua e tomei sol num segundo turno duro, e agora ser apunhalado pelas costas como está acontecendo neste momento… Mas a gente precisa ter maturidade suficiente para entender que acima de tudo está o Espírito Santo e não vou tomar decisões com base em emoções.

Agora que externou publicamente seu apoio a Marcelo, o governador não voltará atrás, até porque isso, mais que uma derrota, seria uma humilhação sem precedentes para ele. De igual modo, o senhor garante que não recuará. É provável que, a esta altura, o governo lhe ofereça mundos e fundos para convencê-lo a desistir. Algo pode fazê-lo mudar de ideia?

O governo, no meu entender, errou o tempo todo neste processo. Os critérios apresentados pelo governador para a escolha do candidato são muito frágeis. O governador foi muito mal assessorado ao longo deste processo e cometeu erros gravíssimos. Ele poderia ter usado Ricardo Ferraço numa ponte comigo. Mas só ligou para o Ricardo para comunicar a decisão dele, o que considero extremamente desrespeitoso com o Ricardo e com o partido que tem o vice-governador. As pontes que existiam não existem mais ou são muito encurtadas.

O senhor acredita que é possível vencer?

Acredito que, nesta luta do Davi contra Golias, é possível vencer. Vou repetir meu compromisso com a governabilidade, mas o movimento do governo foi truculento e desrespeitoso. Para você ter uma ideia, fui comunicado da decisão por um telefonema do secretário Davi Diniz, que não teve coragem nem de me ligar para fazer uma conversa pessoalmente. Esse formato desrespeitoso nos trouxe uma dificuldade de relação no momento, mas que não impede que a nossa chapa seja uma chapa da base do governo.

Antes de entrevistá-lo, falei com seu braço direito nessas articulações, o deputado Hudson Leal. Conjecturando sobre alternativas para a chapa de vocês, ele sugeriu que Theodorico Ferraço, também seu aliado, que é quem conduzirá a sessão de eleição da Mesa no dia 1º, poderia determinar votação secreta. A Constituição Estadual determina expressamente votação aberta e nominal. Isso está mesmo em cogitação no seu grupo?

Preciso estudar um pouco mais o assunto tecnicamente. Mas é verdade que tem decisões recentes do STF sobre escolha de conselheiros do Tribunal de Contas do Estado pelo voto secreto. Também é verdade que a escolha da Mesa das Casas do Congresso Nacional é por voto secreto. Mas acredito que a gente ainda tem um tempo para avaliar essa possibilidade.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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