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Coluna Inovação

Soft power, hard power e market power

O professor de Harvard Joseph Nye propôs o termo soft power (ou poder brando), em um livro de 2004, para designar a forma como uma nação impõe sua influência no resto do mundo por meios diferentes da coerção, do dinheiro e da supremacia militar — o chamado hard power.

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O professor de Harvard Joseph Nye propôs o termo soft power (ou poder brando), em um livro de 2004, para designar a forma como uma nação impõe sua influência no resto do mundo por meios diferentes da coerção, do dinheiro e da supremacia militar — o chamado hard power.

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Poder é a capacidade de influenciar os outros para que façam o que você quer. Há três maneiras de fazer isso: ameaçá-los com porretes, recompensá-los com cenouras ou atraí-los para que queiram o mesmo que você. Essa terceira opção é o soft power e necessita que o estado
influenciado tenha alguma admiração pelo estado influenciador.

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De acordo com Nye, há três fontes básicas de soft power: cultura, valores políticos e política externa, vista como legítima e com autoridade moral. Segundo Nye, a cultura dos Estados Unidos permite que sua capacidade de influência seja maior que a força militar, diferentemente do que ocorreu com os impérios Romano e Soviético. É fácil perceber a influência de Hollywood, Disney, Netflix, Nvidia, Harvard, Stanford, Google, Apple, Microsoft, Amazon e dezenas de outras siglas. Milhares de estudantes estrangeiros vão estudar nos Estados Unidos e disseminam os valores da cultura americana nos seus países.

Nesse momento, os EUA arriscam seu soft power com uma blitzkrieg contra o mundo numa variação do hard power, no que poderia ser chamado de market power. A China faz, há muito tempo, uma variante, onde para entrar no imenso mercado chinês as empresas têm que fazer joint ventures e se instalar no país, proporcionando acesso às tecnologias por bem ou por cópia mesmo. O hard power ficava interno por conta da ditadura capitalista.

Compensam o soft power com a iniciativa Cinturão e Rota distribuindo investimentos em infraestrutura pelo mundo e participando dos organismos internacionais. O modelo americano atual é mais bruto. Para acessar o seu imenso mercado interno( a cenoura), maior pela renda do que pela população, tem que encarar o porrete, se instalar no país, praticar tarifas similares às deles, não taxar suas bigtechs ou criticar seus algoritmos, para operar livremente pelo mundo. O hard power se virou também para dentro com ameaças a opositores em geral. Enquanto isso sai de organismos e acordos internacionais, corta ajuda externa, se isola do bloco do ocidente e impõe as suas próprias regras. Quem quiser fazer negócio que se sujeite, America first. Um estranho caso de liberalismo protecionista autoritário.

O Brasil não terá durante muitos anos capacidade de influência econômica no mundo e muito menos poder militar. Mas poderia ter alguma influência pela cultura, onde despontam a música(samba e bossa nova), novelas disseminadas em muitos países e o Carnaval e até pelo esporte. O meio ambiente poderia ser um grande ativo de soft power. A nossa matriz energética está em torno de 50% de energia renovável, enquanto o mundo é de apenas 15%. Temos 12% das florestas do mundo, e a Amazônia é um ativo inestimável por concentrar a maior diversidade do planeta. A imagem como grande produtor de alimentos também é bom ativo a ser trabalhado.

Agora temos nova oportunidade com o cinema, após o Oscar de “Ainda estou aqui”. O nome do Brasil circulou na meca da cinematografia mundial, abrindo a porta para a internacionalização de novas produções, novas boas histórias brasileiras, um caminho importante para a economia criativa geradora de empregos, renda e empreendedorismo. Produtores, diretores, roteiristas, atores, técnicos de som, imagem, fotografia, iluminação, salas de cinema, cursos técnicos e toda a sorte de atividades podem se desenvolver.

Como exemplo para o soft power, o lançamento próximo da plataforma internacional da cultura brasileira, pela empresa Sommos, cujo primeiro módulo aborda toda a cultura da Amazônia. Filmes, músicas, livros, artes, culinária e um marketplace de produtos físicos disponibilizados para o mundo.

Este mercado de economia criativa (entretenimento e mídia) cresce numa taxa anual de 5% e movimentou em 2023 US$2.8 Tri apontando uma receita de US$3,4 Tri para 2028. 50% desta receita vai diretamente, pela ordem, para a China, Estados Unidos e Reino Unido enquanto que a América Latina e a África, juntas, somadas, detêm apenas 4%. O Brasil 1%. No meio do tumulto do hard power e do market power vamos em frente, passando pelas brechas das cenouras e dos porretes, com as nossas possibilidades.

Evandro Milet

Evandro Milet é consultor, palestrante e articulista sobre tendências e estratégias para negócios inovadores. Possui Mestrado em Informática(PUC/RJ) e MBA em Administração(FGV/RJ). É Conselheiro de Administração pelo IBGC, Membro da Academia Brasileira da Qualidade-ABQ, Membro do Conselho de Curadores do Ibef/ES e membro do Conselho de Política Industrial e Inovação da Findes. Foi Presidente da Dataprev, Diretor da Finep e do Sebrae/ES, Conselheiro do Serpro e Banestes. Tem extensa atuação como empresário, executivo e consultor em inovação, estratégia, gestão e qualidade, além de investidor e mentor de startups, principalmente deeptechs. Tem participação em programas de rádio e TV sobre inovação. É atualmente Presidente do Cdmec-Centro Capixaba de Desenvolvimento Metal-Mecânico.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.