Coluna Vitor Vogas
O próximo passo de Lucas Polese na política capixaba
Influencer da extrema-direita capixaba segue os passos de Nikolas Ferreira. Gera muito mais engajamento que qualquer outro deputado estadual do ES e quer chegar aonde o amigo mineiro chegou. Leia tudo aqui na coluna

Lucas Polese é deputado estadual pelo PL. Foto: Divulgação (Ales)
É deputado pelo Partido Liberal (PL). Tem 28 anos. Bolsonarista dos pés à cabeça. Ideologicamente tributário de Olavo de Carvalho. Na pandemia, rechaçou as medidas de isolamento social. Opositor incansável do PT, associado por ele ao “comunismo”, e da esquerda brasileira em geral, satanizada por ele como fonte de todo o mal e de todos os males do país. Extremamente influente nas redes sociais, onde começou sua militância política antes mesmo de exercer mandato e onde seus posts, hoje, geram engajamento sem par entre seus colegas de Parlamento. Conservador nos costumes, mas ultraliberal na economia. Diz-se um “conservador de direita”, mas pode ser apontado sem erro como expoente da extrema-direita. Ganhou notoriedade graças aos posicionamentos radicais e às polêmicas nas quais se envolveu.
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Poderíamos estar falando aqui de Nikolas Ferreira, candidato a deputado federal mais votado do Brasil em 2022, com quase 1,5 milhão de votos, e o mais votado para o cargo da história de Minas Gerais. Não estamos. O político descrito na abertura deste texto é o deputado estadual Lucas Polese. O jovem influencer do bolsonarismo capixaba tem a mesma idade de Nikolas, que é apenas cinco meses mais velho. Mas o paralelo, como se vê, vai muito além.
Assim como o deputado federal mineiro – youtuber bolsonarista antes de se eleger vereador de Belo Horizonte em 2020 –, Polese montou na internet sua trincheira política ainda muito jovem. Assim ganhou popularidade e conseguiu se eleger, em 2022, para seu primeiro mandato: o atual, de deputado estadual do Espírito Santo. “Nasci das redes sociais”, confirma à coluna o deputado, natural de Cariacica, mas criado em Colatina.
Nas redes sociais, Nikolas Ferreira é o político mais influente do Brasil atualmente – como prova, por exemplo, seu vídeo criticando a proposta da Receita Federal de fiscalizar transações via Pix acima de R$ 5 mil, o qual se tornou um dos mais vistos da história da internet em um único dia, com mais de 150 milhões de visualizações só nas primeiras 24 horas. No Instagram, ele tem 17,1 milhões de seguidores (mais que Lula). Entre os políticos brasileiros, só fica atrás de Bolsonaro, que possui 26,3 milhões na mesma rede.
Misturando sem cerimônia religião com política, o deputado mineiro virou um popstar do reacionarismo e um fenômeno da extrema-direita brasileira. Concorde-se ou não com seus métodos e suas opiniões, seu poder de mobilização na arena digital é irrefutável.
Guardadas as devidas proporções, com 112 mil seguidores no Instagram, Polese está a seguir os passos do colega e coetâneo mais famoso – a quem tem como amigo e referência. No cenário político capixaba, após dois anos de mandato na Assembleia Legislativa, ele tem se consolidado como influencer do neoconservadorismo e da extrema-direita bolsonarista.
Agora, Polese deseja ampliar sua “semelhança” com Nikolas Ferreira: quer chegar aonde ele chegou, candidatando-se a deputado federal pelo PL do Espírito Santo em 2026, para reforçar a bancada bolsonarista no Congresso Nacional. O deputado admite à coluna que, hoje, essa é a sua tendência. Da direção estadual do partido, ele já tem o sinal verde para que a “tendência” se confirme. O senador Magno Malta, presidente do PL no Estado, declarou, por meio de sua assessoria, que essa definição compete ao próprio deputado:
“Ele tem total liberdade para definir seus próximos passos. Polese desempenha um trabalho de destaque na Assembleia Legislativa e, seja na busca pela reeleição ou por uma vaga na Câmara Federal, temos a certeza de que seguirá honrando o Espírito Santo com determinação e competência”.
A ascensão nas redes sociais
Nas redes sociais, entre os 30 deputados estaduais capixabas, Polese é hoje, com sobras, aquele cujas postagens geram mais interações e engajamento. Deixou bem para trás Sérgio Meneguelli (Republicanos), que, até pouco tempo atrás, liderava nesse quesito.
Levantamento da agência O Anjo, do consultor político Gabriel Verly, quantificou, analisou e ranqueou as postagens dos 30 deputados estaduais durante o mês de fevereiro. Polese se destaca por liderar, com folga, em todas as métricas analisadas – exceto em número de publicações.
O deputado do PL não está nem entre os 10 que mais posts fizeram no mês (foram só 17). Ainda assim, foi quem conseguiu mais curtidas (129.531), mais comentários (13.043), maior interação total (142.574) e maior interação média por conteúdo publicado (8.386). Em todos esses quesitos, o segundo colocado não chega à metade dos números do jovem parlamentar bolsonarista.
O teor das postagens segue mesmo a “Escola Nikolas Ferreira”: há forte investimento em temas controversos, que dividem opiniões, despertam profundas paixões e estão no centro do buffet da polarização ideológica nacional. Podemos dar dois exemplos de fevereiro.
Antes de o prefeito Euclério Sampaio (MDB) manifestar repúdio ao desfile da escola de samba Independente de Boa Vista, de Cariacica, Polese fez alarde, no plenário da Assembleia e no Instagram, “denunciando” a “exaltação” do MST no desfile da agremiação, em homenagem a Sebastião Salgado. Polese parabenizou a reação de Euclério, que prometeu cortar repasses públicos para a escola. Calou quando o prefeito voltou atrás.
No mesmo embalo, Polese também abraçou como bandeira pessoal a causa de uma família que, de acordo com suas postagens, está em vias de ter seu terreno desapropriado pelo Incra, como parte de um processo de reforma agrária na zona rural do Espírito Santo.
A oposição a Casagrande
Na Assembleia, o deputado exerce mandato de oposição radical ao governo Casagrande (PSB), frequentemente tachado por ele como “comunista”. Mesmo antes de se eleger deputado, militando pelas redes sociais, Polese tornou-se réu em ação por danos morais movida contra ele pelo governador (ainda em tramitação). Na época, ele se apresentava como presidente e fundador do Instituto Liberal do Espírito Santo (Iles).
Nesse flanco, hoje, o deputado criado em Colatina é uma das vozes minoritárias e uma das duas mais estridentes na Assembleia – ao lado de Callegari (também do PL).
Desde o início do atual mandato, em 2023, a oposição tem dado muito pouco trabalho ao governo Casagrande em votações e discursos na Assembleia. Hoje, opositores declarados mesmo não chegam a cinco. Mesmo na bancada do PL, os deputados Danilo Bahiense e Capitão Assumção têm feito uma oposição mais branda. Até Assumção, que bateu muito no governo Casagrande no mandato passado (2019/2022), no atual tem centrado munição no governo Lula e se concentrado na disputa ideológica com o PT – como se fosse um deputado federal. Tirou o foco do governo estadual. Resta a Callegari e Polese a oposição mais sistemática, com críticas constantes e ataques severos ao “governo socialista”.
Em sua atuação parlamentar, Polese também chama a atenção por defender o Estado mínimo, posicionando-se enfaticamente contra toda proposta que vise impor qualquer tipo de obrigação legal a empreendedores do Estado – da exibição de um cartaz com determinado aviso no estabelecimento à contrataçãode um determinado percentual de funcionários em atendimento a algum tipo de cota com o objetivo de gerar oportunidades para minorias sociais.
O deputado, aliás, sempre se manifesta radicalmente contrário a qualquer tipo de política afirmativa que vise corrigir distorções históricas, reduzir desigualdades e proporcionar oportunidade para quem, de outro modo, dificilmente as terá. Exemplo recente foi projeto apresentado por Iriny Lopes (PT) com o objetivo de fazer com que empresas prestadoras de serviço ao Estado reservassem vagas de empregos para mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. A proposta encontrou em Polese um duro oponente.
Também sobra tempo para, assim como Assumção e Callegari, subir com frequência à tribuna para fazer um fervoroso combate ideológico ao PT e ao governo Lula.
Pingue-pongue: Lucas Polese (PL), deputado estadual
O senhor será candidato à releição ou a deputado federal?
Ainda não batemos o martelo, mas a tendência é que venha a federal.
Por que o senhor quer ser deputado federal?
Ainda estou avaliando com a família e apoiadores, a decisão final vai partir da base, mas vale a reflexão sobre alguns pontos: entrei para a política por desejar impactar positivamente na vida das pessoas e nas mudanças da sociedade, e, nesse sentido, uma cadeira no Legislativo federal, em Brasília, aumenta o alcance e o impacto desse trabalho, em vários sentidos, podendo atingir os problemas estruturais reais do país.
Em muitas das lutas travadas, como a mais recente, contra o Incra, esbarramos em barreiras legais da atuação como deputado estadual, não podendo convocar servidores ou fiscalizar o órgão; ou as importantes reformas de natureza penal que defendemos, de recrudescimento de penas e combate à impunidade, que só podem ser pleiteadas em Brasília; no fortalecimento de direitos fundamentais constitucionais como à liberdade e à propriedade, da mesma forma.
Nas questões de emendas parlamentares também, como deputado estadual, elas são discricionárias do governador, e eu, por ter um perfil combativo e de oposição à atual conjuntura local, nunca tenho as minhas pagas, mesmo destinando todas à saúde, assistência social ou educação. Como deputado federal, elas são impositivas, e seriam pagas independentemente da minha atuação ser favorável ou contrária ao Executivo.
Na rede de relacionamento institucional também, são novas portas abertas para conseguir solucionar mais problemas e com mais eficiência, e por aí vai.
Todos os fatores estão sendo devidamente analisados.
O senhor sempre teve uma inserção muito forte nas redes sociais. Seu engajamento nessa arena está crescendo. O senhor tem o deputado Nikolas Ferreira como inspiração?
Nasci das redes sociais. Sem elas, dificilmente alguém na minha situação, um moleque de 25 anos, do interior de Colatina, sem histórico político familiar, sem ser dono de nenhum meio de comunicação e com pouquíssimos recursos (fiz minha campanha com R$ 3.288,00 em uma Kombi) seria eleito a deputado estadual. Mas, na internet, as pessoas passaram a, aos poucos, acompanhar nosso trabalho, as denúncias, opiniões e fiscalizações, e resolveram me dar um voto de confiança para que eu estendesse essa atuação. Fico muito feliz por ter recebido essa oportunidade tão jovem, e tenho me dedicado bastante para honrá-la. Acredito que o aumento no engajamento nesses últimos anos seja um reflexo do nosso trabalho árduo e da linha de atuação coerente com os compromissos firmados e as bandeiras que sempre defendemos.
Quanto ao deputado Nikolas Ferreira, além de um amigo, é, sem dúvidas, uma grande inspiração, não só pra mim, mas pra toda essa geração de jovens que vem se levantando pelo Brasil. Ele também tem sido um grande parceiro do nosso mandato, e sou muito grato a isso, estando frequentemente no estado para colaborar em eventos de formação política etc.
