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Coluna João Gualberto

Coluna João Gualberto | Um projeto para o Brasil

Combater a desigualdade é construir um futuro onde todos tenham acesso às oportunidades básicas de vida

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A desigualdade no Brasil não é apenas um número, é uma realidade que precisa ser transformada com urgência. Foto: Freepik

A desigualdade no Brasil não é apenas um número, é uma realidade que precisa ser transformada com urgência. Foto: Freepik

Escrevi neste mesmo espaço, há algumas semanas, um artigo intitulado Refundar as Instituições Brasileiras. O meu argumento nele foi o de que muitas de nossas instituições, que sustentam a ação do estado, têm os seus modelos de funcionamento datados de, pelo menos, o início da República. São organizações que estão presas a estruturas baseadas em um mundo que já não existe mais, ou está em extinção. São analógicas e marcadas por um autoritarismo centralizador que não funciona no mundo real.

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Usei como exemplos as nossas representações diplomáticas, concebidas antes mesmo dos transportes aéreos e da enorme facilidade de comunicação que temos hoje. Ocupam espaços elegantes e caros em muitas capitais glamourosas mundo afora,  mantêm uma estrutura de pessoal presa a modelos arcaicos e são, em geral, muito onerosas. Outras instituições necessitam também de aggiornamento, como as forças armadas. Aí o caso não é mais de tecnologia de gestão ou custo elevado – não me atrevo a dar opiniões sobre algo que desconheço inteiramente – mas de formação democrática de suas elites dirigentes.

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Uma sociedade contemporânea necessita de todos os seus quadros alinhados em valores comuns, respeitando os princípios da cidadania. Nenhum grupo social pode se considerar superior aos demais e querer, de tempos em tempos, chamar todos os poderes para si. Ninguém consultou a sociedade para saber se outorgamos aos militares poderes para nos representar e dizer, em determinado momento, que as coisas estão erradas e devem ser corrigidas. Isso é um princípio antigo que, se existiu, já não existe mais.

Outro argumento que utilizei naquela oportunidade foi o de que, para alinharmos as instituições brasileiras em relação ao nosso futuro, deveríamos ter alguns objetivos nacionais. Minha opinião é que o fim das nossas terríveis desigualdades – já que somos um dos países mais desiguais do mundo, onde o abismo entre ricos e pobres é abissal – deve ser o motor das muitas mudanças que devemos fazer. Digo mais, nosso foco  imediato deveria ser acabar com a miséria de milhões de brasileiros.

Como é natural após a publicação dos artigos, recebi vários comentários. Um deles, em especial, me chamou a atenção. Foi o que me fez o amigo de longa data Luiz Polese, político de mais de um mandato em Colatina e ex-secretário de estado no Espírito Santo. Ele escreveu: “acabar com a fome e a miséria dos brasileiros, na minha visão, passa por ampla discussão com real participação popular, para que todos conheçam todos os benefícios concedidos à elite brasileira (empresariado com forte lobby no congresso, classe política, forças armadas). Esses benefícios somam hoje mais de R$ 500 bilhões. Num planejamento de prazo dilatado em cinco anos para zeramento desses benefícios, CERTAMENTE acabaríamos com a fome a miséria e teríamos recursos para tocar políticas públicas prioritárias como educação, segurança, moradia popular, universalização de água e esgoto etc ”.

Achei muito pertinente a ideia de fazermos uma discussão nacional profunda e verdadeira das fontes da nossa riqueza e de seu emprego, fora da pauta ideológica, pensando apenas que os brasileiros devem se apropriar dos recursos que a economia gera. Em vez da burocrática discussão da redução de gastos, discutiríamos quem fica com o que e por quê. Quanto deve ser distribuído nos mais altos salários e quanto deve ser usado para os serviços básicos da população.

É claro que deve haver uma distribuição diferenciada de ganhos; que alguns, por sua capacidade, merecem ganhar mais do que outros; que os proprietários dos meios de produção devem ser remunerados; que os grandes empreendedores devem ter sua capacidade de correr riscos recompensada. Entretanto, não é sobre isso minha ideia. É sobre as benesses, as mercês concedidas a um pequeno grupo e as injustiças que se fazem com os pobres no Brasil.

João Gualberto

João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.