Climão ao quadrado: Estéfane rebate nota de Pazolini em público… e diante do prefeito

O aumentativo de “clima” é “climão”. Mas pense no aumentativo de “climão” (“climãozão?”). “Climão” não define mais as cenas públicas coprotagonizadas por Lorenzo Pazolini e Capitã Estéfane. A indisfarçada guerra de nervos travada entre o prefeito e a vice-prefeita de Vitória chegou a níveis insustentáveis nesta quinta (10), em um evento oficial que, por ironia, tinha a ver com sustentabilidade. Fez o episódio da “disputa pelo microfone” em Jardim Camburi, na véspera, parecer quase trivial.

O ambiente era bucólico e convidativo para a paz: mata nativa, natureza, muito verde ao redor… Ao fundo, ouvia-se o gorjear dos passarinhos. Mas foi exatamente esse ambiente, na inauguração das obras de revitalização do Parque Municipal Gruta da Onça, no Centro de Vitória, que serviu de palco para a encenação do novo ato do conflito político aberto de Estéfane e Pazolini.

Dessa vez a vice-prefeita pôde discursar antes do superior e, ponto por ponto, fez questão de rebater publicamente cada linha da nota oficial enviada na véspera pela assessoria do prefeito à imprensa a respeito de suas acusações de que viria sendo impedida por Pazolini de usar a palavra em atos oficiais e de exercer plenamente o seu mandato. Ela tomou essa atitude, pasmem, diante do próprio prefeito, além de todos os secretários municipais e vereadores presentes.

“Quero fechar esse episódio triste dessa caminhada destes dois anos exigindo o respeito que eu mereço, que a cidade merece, não como atitude artificial, mas como respeito de fato”, cobrou, sob o olhar de Pazolini a poucos metros.

Por sua vez, ao assumir a palavra logo após Estéfane, Pazolini ironizou a inimiga íntima. Sem nominá-la, citou uma frase do Barão de Itararé que ele costuma usar contra adversários desde os tempos de deputado estadual, comparando-a a um tambor:

“Nós temos que ter a altivez, a necessidade e o controle de fazer todos os enfrentamentos necessários. Lembro de uma frase do Barão de Itararé que dizia assim: o tambor faz muito barulho, mas ele é oco por dentro, ele é desprovido de conteúdo, ele não se sustenta no tempo. Então, por mais barulho que o tambor faça, com o tempo ele acaba perdendo a relevância em sua função, porque ele é oco, o conteúdo dele é raso, é baixo, é rasteiro, é vil, e não é isso que nós queremos para a nossa cidade”, parafraseou o prefeito, na verdade indo bem além da frase original, para logo em seguida “saudar a vice-prefeita”. Aí virou teatro de máscaras.

Pazolini ainda propugnou “uma sociedade mais harmoniosa, menos belicosa e com mais amor”. Repito: tudo ao som do canto dos passarinhos e diante das várias autoridades presentes. Mas não só das autoridades.

Tornando tudo ainda mais insólito e ampliando o absoluto descolamento entre a cena e o cenário, havia crianças (!), estudantes de uma escola pública, postadas exatamente entre os dois atores políticos enquanto o drama se desenrolava.

Sentadinhas no gramado, segurando os livrinhos que haviam acabado de ganhar, elas assistiram a tudo (provavelmente sem nada entender da conversa estranha daqueles tios), como espectadoras compulsórias de uma peça nem um pouco infantil e que não estavam ali para ver, ou como figurantes acidentais espalhadas ao acaso pelo palco, terminando de compor um cenário totalmente surreal e transformando aquele drama de cunho político em uma peça do teatro do absurdo.

> A Guerra do Microfone: Pazolini compartilha post que trata vice-prefeita como “traidora”

A quarta parede foi derrubada, assim como a máxima “tirem as crianças da sala”.

Após rebater os argumentos oficiais da assessoria de Pazolini, Estéfane chegou a pedir desculpas por estar tratando daquele assunto ali, mas alegou que era o único meio que tinha para se defender, pois nem sequer assessoria ela tem mais, após seus assessores terem sido exonerados pelo prefeito.

“Peço desculpas por ter usado este espaço para falar isso, porque não é o lugar de falar dessas coisas, mas é o espaço que eu tenho.”

Depois de contestar uma a uma o que chamou de “mentiras” na nota de Pazolini, ela chegou a fazer uma ameaça implícita aos vereadores da base do prefeito:

“Só peço aos vereadores e às pessoas que acompanharam todo esse processo que não tentem me colocar como a errada da história porque as coisas podem ficar muito pior. Existem atos oficiais, administrativos. Eu não exponho a gestão. Mas não me exponham também, por favor.”

E, logo em seguida, assumindo uma voz infantil e incorporando outra personagem, passou a se dirigir às “crianças lindas do meu coração” ao redor dela.

Por sua vez, ao assumir a fala, Pazolini também interagiu com as crianças e – em mais uma evidência de como as camadas ali se misturaram de um jeito muito louco –, chegou a dizer que “as crianças têm que aprender isso”, ao parafrasear o Barão de Itararé na analogia do tambor.

É… a Mata Atlântica, se preservada no que resta, pode ajudar a conter as mudanças climáticas no mundo. Mas não ajudou nem um pouco a conter este climão em Vitória.

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OS CONTRA-ARGUMENTOS DA CAPITÃ

Creio que, como registro, vale a pena reproduzir os contra-argumentos da vice-prefeita para a nota da PMV:

“TOTAL RESPEITO”

O que disse a nota

O Prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, afirma seu total respeito à vice-prefeita Capitã Estéfane.

O que disse Estéfane

“Bom, esse não é o respeito que eu espero, que a cidade espera. Um respeito artificial, um respeito frio e um respeito pautado em argumentos tentando depreciar a minha imagem.”

EVENTO EM JARDIM CAMBURI

O que disse a nota

Na ocasião citada, o Prefeito estava presente no local, e a Vice-Prefeita chegou com a agenda em andamento.

O que disse Estéfane

“Cheguei quinze minutos após o início da agenda. Dei ciência ao cerimonial. Estava dirigindo um carro oficial da prefeitura. Não tinha vaga reservada para mim. Então dei três voltas no quarteirão para encontrar uma vaga. E entrei e avisei ao cerimonial, como de praxe.”

SECRETARIA DE CULTURA

A nota

No dia 09 de fevereiro de 2021, a Capitã foi nomeada Secretária Municipal da Cultura, conforme Decreto n⁰ 18.835/21, cargo este que preferiu não assumir.

Estéfane

“Exatamente. Não assumi o cargo, porque, junto com o pacote de bondades, veio a exoneração do meu assessor, com um argumento no mínimo discriminatório, mas ilegal. E eu tinha que assinar a dispensa de licitação da contratação do carnaval, fora do recomendado pela lei e contra a indicação técnica dos servidores da secretaria, então não o fiz.”

CASA ROSA

A nota

Cabe acrescentar que a Vice-Prefeita foi designada para coordenar a organização e entrega da principal política pública em Defesa da Mulher do município, a Casa Rosa, trabalho que incluiu outras secretarias da municipalidade. Politica pública instituída por meio do Decreto n⁰ 20.084/21.

Estéfane

“Sim, fiz toda a tramitação, com muito jogo de cintura, para não expor as pessoas ali envolvidas, os servidores, os secretários, como aconteceu em outras ocasiões. […] E, na época da divulgação, nem apareci em nenhum evento, em nenhuma divulgação, não fui citada, não fui vista, fui invisibilizada mais uma vez. Entre outras coisas que eu, por minha iniciativa, toquei.”

INTERLOCUÇÃO COM OS SECRETÁRIOS E O PREFEITO

A nota

“É importante destacar ainda que a Vice-Prefeita sempre teve e tem oportunidade de fala nos eventos oficiais e possui interlocução com todos os secretários e o prefeito, que estão integralmente à disposição para proposições, críticas e diálogo.”

Estéfane

“Sim, me reporto aos servidores, aos secretários, mas com o prefeito não tenho diálogo, não converso diretamente com o prefeito há mais de um ano, porque era muito difícil ele me receber, e eu não vou passar por essas humilhações. Então eu me reporto formal ou informalmente aos secreários. Tenho o respeito de todos os secretários e de todos os servidores e agradeço por isso.”

“FALOU NA SEGUNDA”

A nota

Um exemplo disso foi a agenda realizada no início da manhã da última segunda-feira, quando a vice-prefeita falou aos presentes.

Estéfane

“Foi um culto, não tinha microfone, seguindo o rito normal do cerimonial. Então eu falei, sim, e foi desagradável, porque o prefeito depois não falou comigo, não olhou no meu rosto e fez uma fala dizendo que nós não devemos nos vender no processo eleitoral, olhando para mim… Então são essas provocações…”

EVENTO EM JARDIM CAMBURI (2)

A nota

Na solenidade desta quarta-feira (09), a Vice-Prefeita chegou quando a solenidade já estava se aproximando do fim.

Estéfane

“Isso é mentira, como falei aqui.”

“PARA POUPAR OS IDOSOS”

A nota

Era uma agenda com idosos e, buscando não prolongar a atividade e seguindo a Lei Orgânica Municipal, a fala foi conduzida pelo prefeito.

Estéfane

“Os vereadores falaram livremente, quase meia hora de fala, teve até dança no meio da fala de um vereador. […] Depois do evento, teve um pagode! Então o tempo ali do cerimonial é totalmente injustificável.”

ASSESSORES EXONERADOS

A nota

Em relação aos cargos alegados pela Vice-Prefeita, é imperativo ratificar a premissa da administração de reduzir em 50% o número de cargos comissionados e de nomear profissionais priorizando o critério técnico e a gestão por resultados.

Estéfane

“Essa redução foi no início da gestão, sim. Mas segunda-feira passada, depois do segundo turno da eleição, exonerar mais da metade dos meus cargos, sem uma justificativa, sem uma resposta a um ofício que fiz, é um completo respeito.”

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