Coluna André Andrès
Coluna André Andrès: Cinco mitos e verdades sobre o vinho
O vinho é tema não só de quem gosta de tintos e brancos. Ele é usado em romances, poemas, em metáforas. E nem sempre de forma correta. Por exemplo: “Fulano envelheceu bem como o vinho”; a frase é ótima, mas… todo vinho envelhece bem? Isso sem contar informações distorcidas, como “Vinho brasileiro ganha medalha e está entre os melhores do mundo”. Isso é realmente verdade? “Bom mesmo é vinho francês, o restante não lhe chega aos pés”. Olha, há muitas divergências. Essas afirmações, essas “verdades” só surgem porque estamos diante de um mundo fascinante. Os vinhos apaixonam e, por isso, atraem versões e visões misturados à realidade. E mesmo ela, a verdade, vai depender de quem prova a taça. Mas dá para tentar colocar alguma ordem nessa história e separar os fatos das impressões, os mitos da verdade. Alguém há de discordar. Tudo bem, no mundo do vinho, além do bom humor, quem impera é a tolerância…
01. Se for francês, o vinho é bom. Mito. França, Espanha, Itália e Estados Unidos são responsáveis por metade da produção mundial. Uma frase define França e Itália: desses países saem alguns dos melhores e alguns dos piores vinhos do mundo. A França reúne um grande número de regiões produtoras e muitos dos rótulos mais conhecidos e caros do planeta. Mas como ignorar o Sassicaia, italiano, o Vega Sicilia, espanhol, ou o Opus One, americano, só para ficar em três exemplos? E será muito difícil achar um Sauvignon Blanc francês tão rico de aromas e tão fresco quanto um branco da mesma uva produzido na Nova Zelândia ou Austrália. Os franceses fazem grande parte dos melhores rótulos do mundo. Mas os melhores rótulos do mundo não são todos franceses…
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02. Vinho sempre melhora com o passar do tempo. Depende. Não chega a ser mito, mas também não é verdade absoluta. Para envelhecer bem o vinho tem de ter estrutura, ou seja, uma boa mistura de taninos, corpo, álcool… Se assim for, mesmo vinhos considerados simples envelhecem bem (já provei “reservado chileno” de muitos anos e estavam surpreendentes). Mas essa combinação nem sempre é exata e nem sempre o vinho é bem guardado. Por isso, apenas a “idade” do vinho não lhe garante qualidade maior. Lógico, existem grandes vinhos, feitos para serem tomados depois de envelhecidos. Mas para os vinhos de maior consumo é melhor só arriscar quando tiver certeza de poder trocá-lo na loja ou supermercado caso ele decepcione depois de ter sido aberto.
03. É melhor provar vinho branco de safra recente. Verdade. Existem brancos capazes de envelhecer muito bem. Para alguns, esse envelhecimento é até obrigatório, como é o caso do estupendo Rondônia, espanhol, capaz de resistir a mais de 30 anos de vida sem perder qualidade, muito pelo contrário. Mas a regra geral é comprar safras novas dos brancos, e isso torna-se primordial no caso dos vinhos verdes (como o Bico Amarelo, R$ 70) e daqueles feitos com as uvas Sauvignon Blanc e Torrontés. Apenas dessa forma o frescor e os aromas dessas castas poderão ser experimentados. Resumindo: na dúvida, escolha vinhos brancos de safras recentes.
04. Alguns vinhos brasileiros estão entre os melhores do mundo. Mito. Inicialmente, a ideia de ser eleger “o melhor vinho do mundo” é impossível de ser concretizada. Pense comigo… sabe quantas variedades de uvas existem no mundo? Mais de cinco mil. Ninguém consegue precisar, com exatidão, quantos rótulos diferentes existem no planeta, mesmo porque, em algum lugar da Terra, nesse momento, alguém está criando algo novo. O máximo alcançado nas provas internacionais é juntar uma grande quantidade de rótulos (2 mil, três mil) e submetê-los a prova. Mas cuidado: pelos menos 70% saem dessas avaliações com alguma medalha. Daí as notícias sobre “vinho brasileiro ganha medalha de ouro em concurso mundial”. Sim, o vinho brasileiro ganhou, ao lado de outros 237 rótulos. Eventualmente pode até ficar com a “grande medalha” da avaliação, reservada para os melhores rótulos. Mesmo assim, estará entre os melhores daquela prova específica, uma amostra bem pequena da produção mundial. Bem longe, portanto, de ser considerado “um dos melhores do mundo”. Mas temos grandes vinhos no país, como o Millésime, da Aurora (preço: entre R$ 110 e R$ 150), por exemplo. Excelente.
05. Os espumantes brasileiros estão entre os melhores do mundo. Verdade. Aí, sim, dá para competir com produtores de várias partes do mundo. Porque, neste caso, estamos falando do conjunto de vinícolas, de um certo estilo, de uma qualidade média alcançada por centenas de rótulos. E sob esses aspectos, os espumantes brasileiros têm variedade e padrão capaz de se igualar e superar as cavas feitas na região de Penedés, na Espanha, ou o Prosseco, produzido no Vêneto. Curiosamente, fora do país, entre nossos espumantes mais premiados estão aqueles feitos com as uvas Moscato ou Moscatel, ou seja, são um pouquinho mais adocicado. Importante mesmo é o seguinte: rótulos como o Valmarino & Churchill (R$ 110), o Valduga 130 ou a linha Cave Geisse só ficam abaixo dos espumantes produzidos na região de Champagne, na França. Mas daí, sabe como é, espumante é espumante, champanhe é champanhe…
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