Coluna Vitor Vogas
Casagrande anuncia mais dois secretários em seu próximo governo
Uma delas é filiada ao Podemos e profundamente ligada a Gilson Daniel. O que isso pode significar em termos de preenchimento da cota dos partidos?

Reunião no gabinete do governador Renato Casagrande. Foto: Hélio Filho/Secom
O governador Renato Casagrande (PSB) anunciou, no início da tarde desta terça-feira (6), mais dois nomes que farão parte do primeiro escalão do seu próximo governo. Ambos já integram o atual secretariado, mas vão jogar em posições diferentes a partir de 2023.
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A atual secretária de Planejamento, Maria Emanuela Alves Pedroso (Podemos), passará a comandar a Secretaria de Governo, hoje chefiada por Álvaro Duboc Fajardo.
Duboc, por sua vez, assumirá o comando da Secretaria de Planejamento, hoje dirigida por Emanuela Pedroso.
Assim, o “Professor Renato” não fez nenhuma substituição em seu time. Apenas inverteu as posições desses dois jogadores em campo.
“Com profunda experiência, eles continuarão contribuindo para tornarmos a administração cada vez mais moderna e eficiente”, tuitou Casagrande.
O teor do duplo anúncio era até certo ponto aguardado. As grandes chances de permanência de Emanuela e Duboc na equipe de governo, mas em espaços distintos dos atuais, foram registradas aqui e aqui pela coluna.
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A mudança pode ser considerada tranquila, sem grande impacto no meio político nem para fora do governo, não só porque os dois já fazem parte da equipe mas pela própria natureza das duas pastas: tanto a de Governo como a de Planejamento são secretarias muito técnicas e com ação voltada para dentro da administração.
Sumariamente, a Secretaria de Governo cuida da articulação interna entre as demais secretarias e os respectivos programas. Já a de Planejamento tem por principal atribuição a elaboração do orçamento anual executado no ano seguinte pela Secretaria da Fazenda.
Definitivamente, nenhuma das duas estava entre as pastas mais cobiçadas no meio político, aquelas que fazem crescerem os olhos dos partidos aliados de Casagrande neste período de remodelagem do secretariado.
Tanto Duboc como Emanuela têm perfil muito técnico. Delegado aposentado da Polícia Federal, Duboc é um dos principais homens de confiança de Casagrande, utilizado por ele como um curinga na equipe. Inclusive, no início da atual gestão, o delegado foi escalado justamente como secretário de Planejamento, pasta que voltará a assumir no início da próxima administração.
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O Podemos
Já no caso de Emanuela, aliado ao referido perfil técnico, há um fator que precisa ser sublinhado: sua profunda ligação política com o deputado federal eleito Gilson Daniel, presidente estadual do Podemos. A secretária é filiada ao partido e tida como o braço direito do ex-prefeito de Viana.
Foi com Gilson Daniel, inclusive, que Emanuela chegou à equipe do governo Casagrande, acompanhando seus passos. Em março de 2022, Gilson tornou-se secretário estadual de Governo. Emanuela então foi nomeada como subsecretária de Governo, por indicação do ex-prefeito.
No início de abril deste ano, Gilson já estava à frente da Secretaria de Planejamento. Desligou-se do cargo para poder concorrer a uma vaga de deputado federal. Foi então que Emanuela se tornou secretária de Planejamento, no vácuo deixado pelo padrinho político.
A manutenção de Emanuela por Casagrande no seu time de governo – escalada em outra função técnica de extrema importância, com a responsabilidade de fazer o orçamento – prova que, do ponto de vista técnico, o trabalho da secretária agradou.
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A grande dúvida que fica diz respeito ao significado da escolha do ponto de vista partidário – que pode ser um para Casagrande e outro para o próprio Podemos. Em outras palavras, resta saber se, com a escalação de uma pessoa de confiança de Gilson Daniel, o partido já poderá se dar por contemplado na composição do alto escalão no governo Casagrande 3.
Conforme a nossa apuração, a resposta é não. Importante na coligação eleitoral pela qual Casagrande se reelegeu, o Podemos não considera Emanuela como “cota do partido”, por mais que ela tenha chegado ao governo pelas mãos do presidente estadual e por mais próxima que seja a ligação entre os dois.
Para sentir-se plenamente prestigiado, o Podemos deseja encaixar ou o próprio Gilson Daniel em alguma secretaria ou o ex-secretário estadual de Segurança Pública Alexandre Ramalho.
Casagrande preferiria encaixar Ramalho à frente da Sesp novamente. Para isso, terá de convencê-lo.
Gilson Daniel gostaria de voltar a assumir uma secretaria (Agricultura ou Desenvolvimento Urbano), cedendo temporariamente seu mandato na Câmara a Ramalho, o 1º suplente do Podemos.
O governador, contudo, reluta em puxar qualquer deputado eleito para a sua próxima equipe (de modo a abrir vaga para suplentes), pois há uma pilha de pedidos nesse sentido sobre a sua mesa. No Palácio Anchieta, o entendimento é que, se ele atender um, terá que ceder aos demais.
Na última quinta-feira (1º), durante a entrevista em que Ricardo Ferraço (PSDB) foi anunciado como secretário de Desenvolvimento a partir de 2023, Casagrande foi questionado por uma colega sobre a possibilidade de Gilson voltar a ser secretário. Isso diante do próprio deputado eleito.
Sua resposta não foi definitiva, mas bastante sugestiva: “Gilson Daniel tem um mandato a exercer…”
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