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Homens devem ser capazes de fazer o mal – e escolher não fazer
A masculinidade bem compreendida revela-se não na violência, mas no domínio da força e na coragem de agir com sabedoria quando o momento exige

A verdadeira masculinidade não está na agressão, mas no autocontrole e na capacidade de proteger quando necessário. Foto: Freepik
A masculinidade tem sido alvo de discussão e revisão ao longo dos tempos, sendo ora exaltada, ora contestada. Jordan Peterson, em seu livro As Doze Regras para a Vida, afirma: “Um homem perigoso é aquele que pode ser violento, mas escolhe não ser.” Essa citação reforça a ideia de que possuir poder e controle sobre a própria força é uma característica essencial da masculinidade bem desenvolvida. A capacidade de fazer o mal, mas escolher não fazê-lo, é uma das provas mais contundentes do autodomínio e da verdadeira força masculina. A sociedade precisa de homens que possuam poder, mas que saibam controlá-lo.
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A história da humanidade é repleta de exemplos que demonstram que a força é um dos elementos essenciais da masculinidade. Homens sempre foram os responsáveis pela proteção da comunidade, pela manutenção da ordem e pela segurança de suas famílias. Isso não significa que o homem deve ser um opressor ou um agressor, mas que deve ser capaz de confrontar o perigo e agir quando necessário.
Esse conceito pode ser exemplificado com os cães de guarda da raça pastor-maremano, nas Terras Altas (Highlands), na Escócia, que protegem rebanhos de ovelhas. Eles precisam ser tão fortes quanto os lobos para cumprir sua função, pois, se forem fracos, não terão a capacidade de defender as ovelhas. No entanto, mesmo possuindo a força necessária para lutar, esses cães jamais atacam o rebanho que protegem. Sua força está à disposição da segurança, e não da destruição. Assim como esses cães, o homem que domina sua força e a direciona para a proteção e o equilíbrio social se torna um verdadeiro guardião da sociedade.
O mestre samurai Miyamoto Musashi, em O Livro dos Cinco Anéis, expressa essa ideia com clareza ao afirmar: “O verdadeiro guerreiro não se preocupa em parecer forte, mas em ser forte. Ele domina sua espada, mas só a desembainha quando necessário.” Logo, a importância do autocontrole e da força direcionada para um propósito justo.
A verdadeira masculinidade não se trata de exibir agressividade, mas de possuir a capacidade de intervir quando necessário, sempre com equilíbrio e responsabilidade. Para tanto, o domínio das artes marciais e da própria força é um exemplo claro desse controle.
A máxima popular nos tatames ensina: “É melhor ser um guerreiro em um jardim do que um jardineiro em uma guerra.” Em outras palavras, é preferível possuir o conhecimento e a capacidade, mesmo que nunca precise usá-los, do que se encontrar em uma situação crítica sem as habilidades necessárias para agir. O homem que sabe lutar, mas que não usa sua força para oprimir, demonstra um grau elevado de maturidade e responsabilidade. Ele compreende que a violência não é um fim, mas uma ferramenta que deve ser utilizada apenas quando necessário. Esse autocontrole diferencia o forte do tirano, o protetor do agressor.
Nesse cenário, o Jiu-Jitsu se apresenta como um excelente exercício em que a força e o autocontrole devem andar juntos. Essa arte marcial ensina disciplina, paciência e respeito, além de desenvolver a capacidade de se defender sem a necessidade de recorrer à violência desmedida. O Jiu-Jitsu enfatiza a técnica e a inteligência estratégica, mostrando que o verdadeiro poder reside no controle sobre si mesmo.
O Jiu-Jitsu ensina que o combate não deve ser a primeira opção, mas sim um recurso utilizado somente quando inevitável. Essa filosofia reflete o ideal de masculinidade saudável: o homem forte não é aquele que busca a violência, mas aquele que tem o conhecimento e a capacidade de agir com responsabilidade quando necessário.
Os princípios da força, do autocontrole e da disciplina não se aplicam apenas à vida pessoal e à segurança da sociedade, mas também ao mercado de trabalho. No ambiente profissional, o homem que possui força mental e emocional, combinada com autocontrole e inteligência estratégica, tem uma vantagem significativa.
O mercado exige indivíduos que saibam lidar com desafios, superar obstáculos e atuar sob pressão sem perder a racionalidade. A capacidade de se impor de forma respeitosa, de gerenciar crises e de se adaptar a diferentes situações é essencial para lideranças eficazes.
A força não é apenas uma característica física, mas também um elemento fundamental da identidade masculina. Um homem forte, consciente de seu poder e disciplinado no seu uso, é essencial para a segurança e estabilidade da sociedade. A masculinidade não deve ser reprimida, mas sim canalizada para a proteção e o bem-estar coletivo.
Os homens não se tornam virtuosos ao renunciarem à sua natureza, mas ao direcionarem suas ações para o bem. Agressividade, ímpeto competitivo e desejo de conquista não podem ser erradicados da essência masculina, mas sim canalizados para propósitos construtivos. Quando bem utilizados, esses impulsos deixam de ser forças destrutivas e se tornam alicerces para a ordem e o progresso.
As mesmas características que podem causar ruína são também as que combatem a opressão. A ambição que pode levar ao egoísmo também é a força que impulsiona o crescimento e a inovação. A disposição para correr riscos, quando guiada com sabedoria, não conduz a imprudências, mas também a atos de coragem e sacrifício em nome de algo maior.
A rejeição da masculinidade trará consequências negativas, pois homens passivos e enfraquecidos não são capazes de conter o mal. Aqueles que se omitem não protegem, não sustentam e não garantem segurança. Homens que não assumem responsabilidades deixam de cumprir os papéis fundamentais que sempre foram essenciais, seja na sociedade como um todo, em seus lares e em seu ambiente de trabalho.
Essa é a essência da força masculina: poder, mas autocontrole; capacidade, mas responsabilidade individual. Um mundo onde os homens são encorajados a desenvolver essas qualidades com autocontrole é um mundo mais seguro e equilibrado.
Teuller Pimenta é advogado, Especialista em Direito e Processo Tributário, membro do Comitê Especial de Tributação Empresarial do IBEF-ES e do IBEF Academy.
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