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Coluna Vitor Vogas

Casagrande: “Não tenho dificuldade alguma de votar em Lula”

Confira a entrevista exclusiva do governador do Espírito Santo na estreia da Coluna Vitor Vogas

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Não chega a ser uma declaração de voto antecipada. Mas pode-se dizer que é quase isso. Em entrevista exclusiva, concedida no Palácio Anchieta para esta coluna de estreia, o governador Renato Casagrande (PSB) reconhece que pode votar novamente no ex-presidente Lula (PT), sem a menor dificuldade, na eleição de outubro para a Presidência da República: “Não tenho dificuldade alguma de votar no presidente Lula”.

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Isso, pondera Casagrande, se a cúpula nacional do PSB – da qual ele faz parte – confirmar oficialmente a coligação com o PT e o apoio eleitoral a Lula, o que deverá ocorrer no congresso nacional dos socialistas, marcado para abril. Será mera formalidade. A menos que aconteça um cataclismo político no país, ou que a guerra entre Rússia e Ucrânia destrua o mundo até lá, o PSB vai mesmo marchar com Lula e o PT na disputa presidencial. Como afirma o próprio Casagrande, a questão já está fechada pela direção nacional: “O partido fará aliança nacional com o presidente Lula”.

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“Eu não tenho dificuldade nenhuma de votar no presidente Lula na eleição de 2022. Mas ainda não estou declarando o voto nem posição pessoal com relação a esse tema”

Assim, se o PSB formalizar o apoio a Lula – e na certa o fará –, o governador tende a seguir a decisão do seu partido, até por obediência e disciplina partidária. “Eu não preciso ficar antecipando minha posição, mas eu sou uma pessoa partidária, sou o secretário-geral do PSB no país, e essa trajetória que tenho dentro do partido também vai me permitir dialogar com clareza com a direção nacional. Não temos nenhuma dificuldade. Eu já votei no presidente Lula em diversas eleições”, afirma Casagrande, declaradamente um homem de centro-esquerda.

Na primeira parte da entrevista com o governador, que você lê abaixo, ele também comenta o lançamento da pré-candidatura do senador Fabiano Contarato ao governo do Estado, pelo PT de Lula. Diz esperar que a polarização nacional entre o petismo e o bolsonarismo não se reproduza aqui, na corrida ao Palácio Anchieta. E garante que seu grupo político terá candidato ao governo estadual: “Um projeto exitoso como o que lidero precisa ter sequência”.

Quanto à própria candidatura à reeleição, Casagrande segue sem admiti-la, postergando para junho a sua “decisão pessoal” – a qual todos já sabem qual será, até por falta de um nome alternativo, oriundo de sua ampla coalizão, para o suceder nesse “projeto”. Tudo bem, é do jogo. Isso pode esperar um pouco.

Quando o senhor lançará a sua candidatura à reeleição?

“Quando é que eu vou definir se sou candidato”: esta é que deveria ser a pergunta. 

Eu tentei… (risos)

(Risos) Vou definir entre maio e junho. Esse é o prazo de definição pessoal. Já governo o Estado pela segunda vez, preciso fazer uma reflexão pessoal com a minha família, com muitos amigos com relação a outro projeto de candidatura ao governo. Então, vou tirar esse tempo agora de abril e maio para poder fazer essa reflexão.

O que poderia levá-lo a abdicar de uma candidatura à reeleição, estando em pleno exercício do cargo?

Não sei bem o que poderia me levar… Questões pessoais e políticas. Tem avaliações que preciso fazer. Estou muito focado em meu trabalho. De fato, não tenho investido o meu tempo no debate eleitoral, mas na ação política e administrativa do governo do Estado. Mas o que quero dizer é que o projeto que lidero terá um representante, eu sendo candidato ou não.

Esse “representante” será necessariamente do PSB?

Não, não precisa ser do PSB. Se eu for candidato, será do PSB. Se eu não for candidato, pode ser do PSB e pode ser de fora do partido. É preciso que a gente compreenda que um projeto exitoso como este que estou liderando precisa ter sequência, como referência em gestão da pandemia, com tantos investimentos realizados em obras, infraestrutura, programas, na área educacional, na segurança pública… Sofremos muito no Espírito Santo com rupturas, com descontinuidade. A área de segurança pública foi a que mais sofreu com essa descontinuidade. É preciso que o projeto que eu lidero tenha uma representação para apresentar à sociedade capixaba. Então, a minha decisão eu tomarei entre maio e junho. Mas já está tomada a decisão de que o projeto que lidero hoje terá representação.

Se o senhor admitir agora, vira vidraça e atrapalha a administração?

Acho que já sou vidraça. Sinceramente, isso não muda. Se eu tivesse na cabeça que eu seria candidato, eu poderia falar, porque sou um homem que está sendo efetivamente, todos os dias, questionado e criticado de alguma maneira, especialmente pelos negacionistas deste Estado, que não confiam nas evidências científicas. O que não quero é perder o meu tempo de gestor nem tirar o foco da administração. Neste momento, o Espírito Santo precisa muito mais de um governador do que de um candidato a governador. É lógico que vou ajudar os meus amigos e aliados que estão preocupados com filiações partidárias. Acho que cabe ao governador orientar, receber as pessoas, ouvir e aconselhar, pela experiência que eu tenho. Mas eu não quero tirar o meu foco da gestão, até o mês de junho, para a gente poder continuar entregando muito para a sociedade.

A ideia da federação entre PT e PSB subiu mesmo no telhado?

Já está decidido. O presidente [Carlos] Siqueira já tomou e anunciou a decisão. O partido fará aliança nacional com o presidente Lula. Mas nós compreendemos que a federação iria restringir muito o lançamento de candidaturas a deputado federal, por exemplo. Todo partido hoje quer lançar chapas de deputado federal…

… que é o que dá tempo de TV, cota do Fundo Partidário…

Sim. Então, o PSB diminuiria pela metade. Ficaria espremido e perderia espaço para o PT nas chapas proporcionais nos estados. Eu, pessoalmente, sou contra as federações. E o PSB fez uma avaliação de projeto futuro para o partido.

O senhor defende, porém, uma coligação entre PT e PSB na corrida presidencial?

Não é que eu defenda. O PSB fará uma aliança com o PT e o presidente Lula, em termos de coligação. 

Isso já é certo também?

Isso já é certo e já está anunciado.

STJ marca julgamento do caso triplex para dia do aniversário de Lula. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

STJ marca julgamento do caso triplex para dia do aniversário de Lula. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Lula, então, será o seu candidato a presidente, até por obediência e fidelidade do senhor ao seu partido?

O partido deve acabar de fechar essa posição em abril, no congresso nacional do PSB. Eu não preciso ficar antecipando minha posição, mas eu sou uma pessoa partidária, sou o secretário-geral do PSB no país, e essa trajetória que tenho dentro do partido também vai me permitir dialogar com clareza com a direção nacional. Não temos nenhuma dificuldade. Eu já votei no presidente Lula em diversas eleições. Na eleição passada [em 2018], votei no Ciro [Gomes], quando foi candidato à Presidência da República.

Então, o senhor votaria de novo no Lula?

É um processo que está em aberto, para a gente poder ir construindo de maneira coletiva…

Mas o senhor votaria de novo no Lula?

Eu não tenho dificuldade nenhuma de votar no presidente Lula na eleição de 2022. Mas ainda não estou declarando o voto nem posição pessoal com relação a esse tema. A gente tem a indicação do presidente nacional do PSB de que a tendência é essa, e nós acabaremos de fechar essa posição no mês de abril.

O senhor espera que essa coligação entre PT e PSB na eleição presidencial se reproduza aqui, na eleição para governador? Vai trabalhar para isso?

A gente tem que respeitar os partidos e seus projetos. O PT aqui tem discutido a possibilidade de estar comigo, mas também tem discutido a possibilidade de ter uma candidatura própria. O senador Fabiano Contarato entrou no PT. Nós teremos tempo de conversar sobre esse assunto até junho e julho. Se o PT quiser estar no projeto que eu vou liderar ou não, a gente tem que dar tempo ao PT e ir dialogando com o PT. Eles sabem que, ou comigo, ou com alguém que escolheremos a partir de junho, o projeto que eu lidero hoje terá uma representação. Então acho que teremos tempo de diálogo com o PT.

Tudo indica que teremos uma eleição à Presidência polarizada entre forças de direita e de esquerda, o que pode se replicar nos estados, nas disputas locais. Partindo dessa premissa, o senhor avalia que a candidatura de Contarato ao governo, se confirmada, pode dividir os eleitores capixabas de esquerda, ajudando um bolsonarista a chegar ao 2º turno e até vencer a eleição?

Acho difícil a gente fazer essa avaliação ainda, porque aquilo que a gente está construindo em termos de projeto não está limitado ao campo da esquerda. É um projeto mais amplo. O que tem caracterizado a nossa ação no Espírito Santo, não só minha como de uma cultura política capixaba, mas especialmente nas duas vezes em que fui eleito governador e mesmo na vez em que não fui eleito governador, são alianças amplas. O que tem me caracterizado são alianças amplas. Isso é bom porque mostra capacidade de diálogo, mais apoio na Assembleia, mais apoio na sociedade. Nós não precisamos fazer, aqui no Espírito Santo, essa definição de choque e de enfrentamento de direita e de esquerda, porque a aliança que estou ajudando a articular em torno do nosso projeto vai ter partidos de centro, de centro-direita, de direita… Essa é a característica do Espírito Santo. Eu espero que a gente fuja dessa pobreza da polarização nacional. Até porque a gente pode ter, no nosso projeto aqui, partidos como o PDT, o PSDB, o Podemos e o Avante, que têm seus candidatos a presidente da República. Espero que possamos sair, no Espírito Santo, dessa superficialidade do debate nacional, que está muito pobre e com um nível de agressividade muito grande. Na hora da campanha eleitoral, além de mostrar boas políticas públicas, de quem já fez, de quem se compromete a fazer, nós precisamos apresentar comportamentos diferentes, de convivência e diálogo com quem pensa diferente de nós, e não de considerar adversário ou inimigo quem pensa diferente. 

Certo. Mas o senhor entende que as forças de esquerda devem ir para essa eleição ao governo estadual unidas em torno de uma só candidatura?

Não tenho a avaliação se é melhor estarmos todos juntos numa candidatura única, ou se é melhor termos candidaturas diferentes. É o debate que vai nos dizer qual é o melhor caminho.


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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 38 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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