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Coluna Vitor Vogas

Briga por espaço na chapa opõe Ferraço e Madureira

PP ficou pequeno demais para os dois. Da Vitória e os dirigentes do partido querem levar os Ferraço para lá, mas Madureira e outros resistem à entrada de Theodorico na chapa

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Theodorico Ferraço e Madureira. Foto: Reprodução

Theodorico Ferraço e Madureira. Foto: Reprodução

O convite de dirigentes estaduais do PP para a família Ferraço entrar em bloco no partido colocou em rota de colisão dois dos políticos mais longevos em atividade no Espírito Santo: os deputados estaduais Marcos Madureira, 78 anos, e Theodorico Ferraço, 84 anos. Ambos são pré-candidatos à reeleição. No último dia 11, Madureira filiou-se ao PP para buscar se reeleger na chapa do partido – quer dizer, chegou ao PP antes de Theodorico. E agora não aceita a entrada de Ferraço na mesma chapa.

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Além do próprio Theodorico Ferraço, os dirigentes do PP querem filiar sua esposa, a deputada federal Norma Ayub (candidata à reeleição), e seu filho, o ex-senador Ricardo Ferraço (cuja candidatura está em aberto). Os três estão de saída do União Brasil. Na tarde dessa quinta-feira (24), Ricardo reuniu-se no gabinete do deputado federal Josias da Vitória, recém-chegado ao PP, com o presidente estadual da agremiação, Marcus Vicente, além do próprio Da Vitória. Theodorico participou por telefone.

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Logo após a reunião, Da Vitória disse à coluna que o convite aos Ferraço foi reforçado e que não há mais impedimento algum para a filiação de Theodorico ao PP. De acordo com Da Vitória, o único empecilho que restava foi removido na última segunda-feira (21).

Segundo ele, candidatos a deputado estadual já inseridos na chapa do PP (entre os quais Marcos Madureira) resistiam à entrada de Theodorico na chapa, por considerá-lo um concorrente interno muito forte, reduzindo suas chances de sucesso nas urnas. Mas a resistência teria sido superada nessa reunião de segunda, ainda segundo Da Vitória.

Marcos Madureira reagiu. Entrou em contato com a coluna e, por meio de nota, disse que Da Vitória está faltando com a verdade e que não é nada disso, muito pelo contrário: os candidatos do PP a deputado estadual não aceitaram o ingresso de Theodorico, e a decisão final vai depender dos outros nomes que ele puder agregar à chapa.

Eis a íntegra da nota assinada por Madureira:

“A afirmação de que na reunião do PP na última segunda-feira, na sede do partido na Reta da Penha, houve a aceitação dos outros pré-candidatos a deputado estadual com a vinda de Theodorico Ferraço é falsa, inverídica e desprovida de qualquer base empírica.

No entanto, naquela mesma oportunidade ficou acordado que, antes da possível entrada de Ferraço, iríamos ter ciência de quem com ele possivelmente viria, para numa reunião posterior deliberarmos com todos os demais pré-candidatos a deputado estadual a respeito do tema.

Teve inclusive, naquela mesma oportunidade, de plano, um pré-candidato pedido a palavra na reunião e dito que desistiria de permanecer na sigla como candidato se Ferraço ingressasse. A minha colega deputada Raquel Lessa é testemunha presencial nesse sentido, para todos os fins de direito.

Faço esses breves esclarecimentos ao veículo do renomado jornalista Vitor Vogas, para os fins de retificação da matéria outrora veiculada, em homenagem à verdade real dos fatos, e por ser de uma só palavra.”

Conclusão: o PP pode até nutrir planos de crescer bastante no Espírito Santo. Mas, no momento, é pequeno demais para Ferraço e Madureira ao mesmo tempo.

Filiação conjunta

Agora divergindo em público, Madureira e Da Vitória se filiaram ao PP no mesmo dia e na mesma cerimônia, no último dia 11. Na ocasião, também ingressou na sigla a deputada estadual Raquel Lessa (citada por Madureira e também postulante à reeleição).

O raciocínio de Madureira

Para Madureira, a chegada de Ferraço à chapa de deputados estaduais não interessa, obviamente, em razão da concorrência interna que ele representaria. Os dois inclusive têm origem no mesmo reduto: Cachoeiro de Itapemirim.

O raciocínio de Da Vitória

Já para Da Vitória, o ingresso de Ferraço na chapa de estaduais interessa porque, se Ferraço for mesmo para o PP, leva junto sua mulher, a deputada federal Norma Ayub. Esta, por sua vez, engrossaria a chapa de candidatos do partido à Câmara Federal, ao lado de Da Vitória e outros. E o plano de Da Vitória e dos dirigentes progressistas é justamente formar uma chapa poderosa no PP, capaz de fazer, pelas suas contas, de três a quatro deputados federais.

HISTÓRIA POLÍTICA

Nas origens, aliados

Para quem gosta de história política, uma enorme curiosidade é que Madureira e os Ferraço já foram aliados, em meados dos anos 1990 – nas origens, mas láááá nas origens mesmo, da carreira de Ricardo Ferraço. Depois se distanciaram. Segue o fio.

O início de ambos

Madureira começou sua carreira política ocupando diretorias do Departamento de Estradas de Rodagem do Espírito Santo, de 1983 a 1989 (governos Camata e Max Mauro). De 1991 a 2000, emendou três mandatos na Assembleia Legislativa. De 1993 a 1995, presidiu a Casa de Leis. Na época, o jovem Ricardo Ferraço era presidente da Comissão de Finanças.

Troca de guarda

No biênio seguinte (1995-1997), os dois inverteram os papéis: Ricardo tornou-se o presidente da Casa, enquanto Madureira assumiu a Comissão de Finanças. Até então, eles mantinham boa relação. Mas se afastaram nos anos seguintes, marcados pela…

Era Gratz

Em princípios de 1997, com o apoio de Madureira e de Ricardo, José Carlos Gratz chega à presidência da Assembleia. Tem início a Era Gratz, que duraria três biênios, até o início de 2003. Tendo como sustentáculos Madureira e Valci Ferreira, o grupo de Gratz estendeu seu poder sobre o Tribunal de Contas do Estado, onde os dois primeiros foram nomeados conselheiros.

Os Ferraço com Hartung

No começo dos anos 2000, o então senador Paulo Hartung começa a articular a sua campanha à sucessão de José Ignácio Ferreira e de enfrentamento ao grupo de Gratz. Para isso, conta com dois pilares políticos: no Norte do Estado, o então deputado José Carlos Elias; no Sul, o então prefeito de Cachoeiro, Theodorico Ferraço (por extensão, Ricardo).

Madureira neste século

Madureira ficou no TCES de 2000 a 2013, ano em que se aposentou antecipadamente. Desde fevereiro de 2012, estava afastado do cargo de conselheiro por decisão judicial. Depois de alguns anos no limbo e de duas décadas fora da Assembleia, voltou ao plenário em janeiro de 2021, tomando posse na vaga de Lorenzo Pazolini (eleito prefeito de Vitória em novembro de 2020), como suplente da coligação PRP-PCdoB. Na eleição de 2018, Madureira obteve 13.222 votos pelo PRP (sigla logo depois fundida ao Patriota). No último dia 11, trocou o Patriota pelo PP.

Quanto aos Ferraço…

Nestes últimos 20 anos, Theodorico teve idas e vindas na relação com Hartung e com Renato Casagrande. Já Ricardo chegou a ser vice-governador na segunda administração de Hartung (2007-2010). Hoje, porém, está muito mais próximo de Casagrande e é cotado até para ser candidato a vice (de novo) na chapa do governador.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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