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Coluna Vitor Vogas

A batalha dos números de urna entre Casagrande e Manato

Enquanto campanha do governador luta para convencer o eleitor a pensar bem e separar os dois votos, a do opositor bate na tecla de que o eleitor só precisa apertar… uma tecla

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O risco de transferência de votos do presidente Jair Bolsonaro (PL) para seus candidatos nos estados, incluindo Manato (PL) no Espírito Santo, é agora uma espada pairando sobre a cabeça de Renato Casagrande (PSB), independentemente do que digam as pesquisas até a véspera, com um “detalhe” adicional, de ordem estritamente prática, que pode acabar se provando muito mais que um “detalhe” e, sem exagero, decidir a eleição: o fato de o número de Manato ser o mesmo de Bolsonaro pode fazer uma enorme diferença – o que prova o quanto, no fim das contas, foi acertada a decisão do ex-deputado de concorrer pelo PL.

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No próximo domingo (30), o eleitor só terá que dar dois votos (para governador e para presidente, nesta ordem), e convenhamos: quando se vir defronte à urna, é muito mais fácil e cômodo para ele, simplesmente, digitar os mesmos números. Não precisa anotar nem memorizar nada – com o agravante, para Casagrande, de que o número de Manato e também de Bolsonaro possui os mesmos dígitos (22 e 22).

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Esse “detalhe” não pode ser subestimado, e os dois lados sabem muito bem disso. Não por acaso, ambas as campanhas têm dispensado atenção especial ao tema “como votar” ou “o que fazer diante da urna no dia 30”. Tem sido interessante observar não só o cuidado com que as duas têm tratado esse aspecto mais prático, mas, principalmente, como estão fazendo isso de modo totalmente contrário.

Ambas dão ênfase à questão, mas as abordagens são opostas. A de Casagrande, com enorme didatismo, repete e repete e repete que “o primeiro voto é para governador”. O próprio slogan do 2º turno (“O Espírito Santo em primeiro lugar”) remete, em primeira análise, a algo mais conceitual, mas não deixa de ter essa conotação mais prática: em primeiro lugar, “40 para governador”, e depois… nem sequer é mencionado.

A de Manato, por sua vez, tem por mote principal o “vote no governador de Bolsonaro, Manato 22” e martela sem parar a tecla de que, no dia 30, basta apertar o dígito 2 na urna. Simples assim.

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Exemplos do esforço de Casagrande

Além de fazer de tudo para fixar o número de urna de Casagrande, com o chamado “Movimento 40”, há uma série de exemplos desse esforço da campanha da situação governista no sentido de pregar a separação dos votos.

Observe-se o que diz a letra do novo jingle de Casagrande: “Se liga então quando for votar: Espírito Santo em primeiro lugar. Primeiro minha terra, primeiro Casão. […] Primeiro é governador: 40 e confirma, na paz e no amor! […] Primeiro Casão, vamos com você! Vamos de 40, pode crer!”

Uma inserção de Casagrande, com uma urna desenhada por computação gráfica, carrega no didatismo, com uma musiquinha ao fundo: “Na frente da urna é assim: primeiro voto é pra governador. Aperte o 4, aperte o 0. Olha o Casão aí. Agora é só confirmar. O Espírito Santo em primeiro lugar. Vote 40 em primeiro lugar.”

Em propagandas no horário eleitoral, o locutor de Casagrande já afirmou o seguinte: “No dia 30 nós não vamos apenas escolher um número. Nós vamos decidir o presente e o futuro do Espírito Santo”.

Também já disse, de modo mais elaborado: “No próximo dia 30 de outubro, você não vai escolher apenas um número. Vai escolher o que é melhor para o Estado em que você vive. Vai escolher o futuro que você deseja para todos os capixabas. Votar não é apenas uma questão de lembrar o número do seu candidato. É de saber tudo o que esse número vai representar para você e para o nosso estado”.

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É curioso notar como tais argumentos estão em linha com uma “reflexão” postada no Instagram pelo candidato a vice-governador, Ricardo Ferraço (PSDB):

“Por vezes eu fico com a impressão de que as pessoas estão achando que quem vai governar o nosso estado é o presidente da República que nós vamos votar. Não, não é. Quem governa o nosso estado é o governador que vamos eleger. E aí eu acho que nós temos que ter o mesmo rigor, o mesmo critério, avaliar a sua trajetória de vida, a sua competência, o que ele fez ao longo de sua vida, porque só pode falar que vai fazer aquele que já fez.”

Como derradeiro exemplo, vejam o que disse o próprio Casagrande neste sábado (22) em um encontro com pastores evangélicos – majoritariamente propensos a votar em Bolsonaro:

“Meu compromisso é governar com o presidente que for eleito. Já governei com a Dilma e com o Bolsonaro. O presidente não vai governar o Espírito Santo, mas vai ajudar muito. Quem governa o Estado é o governador.”

Exemplos do esforço de Manato

Enquanto isso, na propaganda de Manato, o número 22 é repetido à exaustão.

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Veja como a campanha “ensina” a votar: “Você já parou pra pensar que, com apenas o número 2, você elege os dois melhores candidatos para o Estado e para o país? Na urna, você só vai precisar apertar o número 2. É 22 para Manato, governador! E 22 para Bolsonaro, presidente!”

A estratégia é bem resumida pelas palavras de uma garotinha, com seus prováveis quatro anos, que apareceu no programa de TV do candidato neste sábado: “Não precisa nem pensar: Manato 22!”

É isso. Por essa perspectiva, nem precisa pensar muito. Enquanto a campanha de Casagrande está insistindo para o eleitor “pensar bem” e separar o voto, a de Manato aposta todas as fichas no voto casado.

Na mesma propaganda, o próprio Manato orientou: “No dia 30, é só 22. É Bolsonaro 22 lá. É Manato 22 aqui.”

Contra a estratégia do “voto Casanaro”, a apresentadora Karla Malta advertiu: “Cuidado! Tem gente que usa Bolsonaro pra ganhar voto e apoia Casagrande pra ganhar cargo. Eles acham que te enganam, mas só estão pensando na mamata deles”.

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Levando o discurso de campanha para um tom ainda mais ideológico, o locutor reforçou: “Lembre-se: Casagrande é Lula, e o Espírito Santo não será cabide de empregos da esquerda. A mamata acabou. Quem vota 22 não vota em Casagrande. Quem vota Bolsonaro vota Manato 22. Dia 30, é só 22 e confirma”.

Por fim, exibiu-se uma declaração de apoio da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, ao lado de Manato, gravada durante sua rápida visita a Vitória para um ato de campanha na sexta-feira (21). “Dia 30 é 22 aqui e 22 lá”.

A nota curiosa é que, para gravar o depoimento, Michelle precisou aprender os números certos (os mais fáceis possíveis). Nessa batalha numérica, ela acabou cometendo uma das maiores gafes da eleição no Espírito Santo até agora, no fim do seu discurso no comício em Vitória.

Presumivelmente, alguém havia brincado com ela antes, nos bastidores, que votar em Manato e em Bolsonaro seria o “voto 44” (soma de 22 com 22). Talvez pelo cansaço resultante da maratona de viagens e eventos eleitorais, confessado por ela mesma ao público, a primeira-dama levou isso ao pé da letra: e, ao pedir votos para Manato, pediu votos no 44.

Corrigida por pessoas no palanque, retificou-se com bom humor e até que se saiu bem da gafe. Mas que foi engraçado, foi.

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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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