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Coluna Vitor Vogas

Análise: por que Rose pode virar a candidata da esquerda ao Senado?

Senadora do MDB já contava com o apoio do PT e, no ápice dessa “simbiose tática”, acaba de ganhar a adesão de dirigentes da CUT e de sindicatos. “Voto útil” contra Magno está no centro do debate

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Rose se reúne com presidente estadual do PT e representantes de sindicatos ligados à CUT. Foto: assessoria de Rose

Rose de Freitas (MDB) não é propriamente uma candidata de esquerda, mas, por eliminação, pode acabar se tornando a candidata de muitos eleitores do centro para a esquerda, que não querem nem sequer imaginar a possibilidade de Magno Malta (PL) ser reconduzido ao Senado. Por pura falta de alternativa, muitos desses eleitores podem engolir em seco e despejar seus votos na emedebista, a fim de impedir o retorno apoteótico do bolsonarista Magno à Casa Revisora, fazendo prevalecer o “voto útil” contra o ex-senador.

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A realidade é que, por mais absurdo que isto soe, a esquerda no Espírito Santo não foi capaz de construir e apresentar uma só candidatura competitiva ao Senado, após quatro anos de ciclo eleitoral (algo inacreditável que requer estudo detido de caso, mas não neste momento). Dos nove candidatos à vaga no Espírito Santo, só dois representam esse lado do espectro político: Filipe Skiter (PSTU) e Gilberto Campos (numa candidatura coletiva com Ella Machado, pelo Psol), ambos com chances bem remotas.

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Em outras palavras, a esquerda no Espírito Santo não tem nem sequer um candidato ao Senado para chamar de seu e com chances reais de ganhar a eleição.

Assim, não por ser realmente de esquerda, mas por ser com certeza a candidata menos à direita entre os três com campanhas mais vistosas (ela, Magno e Erick Musso), a centrista Rose de Freitas pode acabar virando a opção mais viável para os eleitores desse espectro. E para aqueles que, não importa a ideologia, são antes de tudo anti-Magno.

No Espírito Santo, Rose é a candidata apoiada oficialmente pelo PT. Seu MDB e o partido de Lula fazem parte da mesma coligação majoritária para o governo estadual e o Senado, chamada “Juntos por um Espírito Santo Mais Forte” e liderada pelo governador Renato Casagrande (PSB).

Numa “simbiose tática”, em sua campanha à reeleição, Rose flexionou discurso e movimentos na direção de setores do PT e da esquerda em geral, enquanto dirigentes estaduais do PT estão se empenhando para fortalecer a candidatura daquela em quem apostam para derrotar Magno Malta.

No que até agora foi o ápice dessa “convergência estratégica”, o movimento sindical cutista do Espírito Santo entrou para valer na campanha de Rose na última quinta-feira (15).

Em um encontro emblemático, dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e de cerca de 20 sindicatos filiados à entidade reuniram-se com a própria Rose em sua residência em Vitória e decidiram apoiar a sua candidatura à reeleição, após lhe apresentarem uma pauta de prioridades do movimento, com a qual, segundo participantes da reunião, a candidata se comprometeu.

No topo das prioridades, votar, se reeleita, pela revogação da reforma trabalhista do governo Temer (MDB), aprovada pelo Congresso em 2017 – com voto favorável da própria Rose.

A CUT é a maior central sindical do país e, no Espírito Santo, assim como no resto do país, é profundamente ligada ao PT. Para ser mais preciso, o movimento sindical organizado em torno da CUT é a base predominante da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) – a do Lula –, a mesma que comanda o PT há muito tempo nacionalmente e, desde 2019, também no Espírito Santo, na pessoa da presidente estadual do partido, Jackeline Rocha.

Candidata a deputada federal, Jackeline tem se mostrado grande aliada de Rose nesta campanha e, na fase de fechamento de alianças, foi determinante para que o Diretório Estadual do PT decidisse apoiar oficialmente a emedebista na eleição ao Senado. A dirigente petista atuou pessoalmente na mediação do simbólico encontro político entre Rose e os sindicatos cutistas, assim como o ex-deputado estadual José Carlos Nunes.

Ambos são integrantes da CNB e participaram da reunião na casa da senadora. Nunes, por sinal, foi presidente da CUT no Espírito Santo por três mandatos trienais, de 2006 a 2015, ano em que assumiu o cargo na Assembleia Legislativa.

Em conversa com a coluna, o ex-deputado do PT confirmou que dirigentes da CUT e de sindicatos ligados à central estão apoiando Rose e que ela assumiu perante eles o compromisso de abraçar as pautas dos trabalhadores ali representados, entre as quais a revogação da reforma trabalhista de Temer. Também foram apresentadas à senadora pautas específicas por categoria, como a não privatização dos Correios.

Nunes ainda confirmou a razão de o PT-ES e de dirigentes sindicais terem decidido engrossar as fileiras rosistas: derrotar Magno Malta.

“Temos um adversário em comum e uma prioridade nesta eleição: derrotar esse cara que fez muito mal para o Espírito Santo e para os trabalhadores capixabas em geral. Compreendemos que, entre os candidatos ao Senado que estão colocados no Estado, Rose é a única em condições de derrotar esse sujeito. Então temos a leitura de que é importante ajudar a eleger Rose, até porque ela já manifestou apoio ao Lula.”

O ex-deputado e ex-presidente da CUT-ES complementa que o PT conta com Rose para reforçar a bancada governista no Senado, em caso de vitória de Lula: “Para ele fazer as reformas que vai precisar fazer, ele vai precisar de parlamentares que apoiem seu governo no Congresso. Com o Magno Malta no Senado, não tem a mínima chance de termos alguém alinhado com a pauta dos trabalhadores”.

A atual presidente da CUT no Espírito Santo, Clemilde Cortes Pereira, explica que não se trata de apoio da CUT a Rose como instituição, mas que representantes da central e de sindicatos cutistas estão mesmo apoiando a senadora, a exemplo dela própria, também presente à reunião. Em nota oficial (cuja íntegra está no fim da coluna), ela segue linha parecida com a de Nunes:

A direção da CUT/ES enquanto instituição não se manifesta. Mas os dirigentes de alguns Sindicatos que a compõem entendem a importância dessas eleições e não podem se furtar de se manifestarem em apoio a candidaturas que se comprometam com a defesa da pauta dos Trabalhadores (as) e que dê sustentação ao governo Lula e nesse sentido declararam apoio a Senadora Rose de Freitas.

Nosso posicionamento é em defesa de um projeto que preze pela manutenção dos direitos e da vida dos trabalhadores e trabalhadoras. Não estaremos do mesmo lado de quem atenta contra os trabalhadores, contra os direitos humanos e contra a democracia.

O casamento com o PT e os inesperados gestos de Rose

No fim de julho, a direção estadual do PT decidiu retirar suas pré-candidaturas ao Senado (Reinaldo Centoducatte e Célia Tavares) para ficar com Rose. No dia 4 de agosto, em convenção estadual, o partido formalizou o apoio à reeleição da senadora.

Para isso, pesou não só o fato de PT e MDB terem entrado na mesma coligação estadual, mas também um movimento estratégico feito pouco antes por Rose: no dia 18 de julho, três dias após ter recebido a também emedebista Simone Tebet em ato de pré-campanha à Presidência em Vitória, Rose participou de reunião em São Paulo com Lula e líderes do MDB em outros 10 estados que apoiam a volta do petista para o Planalto.

Rose não o disse com todas as letras, mas, na convenção estadual do PT, Jackeline Rocha encarregou-se de afirmar à imprensa que, nesse encontro em São Paulo, a senadora garantiu pessoalmente apoio a Lula. Segundo Jackeline, isso foi determinante para a decisão do PT-ES de entrar na campanha da presidente estadual do MDB.

Rose (73) é só três anos mais nova que Lula (76). Filiada ao MDB em 1970, começou a atividade política participando intensamente de movimentos populares e de resistência à ditadura militar. No fim daquela década, integrou a Comissão de Anistia e a Comissão Feminina em Favor dos Direitos Humanos, enquanto Lula ascendia como líder sindical dos metalúrgicos no ABC paulista. Os dois foram deputados constituintes em 1988.

Em maio deste ano, falando a uma plateia de empresários, Rose comentou que, no início de sua trajetória, era tachada de “comunista”. De lá para cá, após seis mandatos na Câmara e o atual no Senado, mudou o perfil de atuação: hoje em dia ninguém mais a considera uma parlamentar de esquerda. Mas, nesta campanha, fez uma inflexão.

No discurso eleitoral, Rose tem feito questão de realçar a própria participação na luta contra a ditadura e de posicionar-se em defesa da democracia, de liberdades individuais e de direitos fundamentais do cidadão cassados pelo regime militar, restaurados com a redemocratização e garantidos pela Constituição Cidadã de 1988, a qual ela ajudou a redigir. Não deixa de ser uma forma de se contrapor ao governo Bolsonaro e ao bolsonarismo encarnado por Magno Malta.

De modo mais direto, embora reconheça alguns certos – ela cita a distribuição de recursos para estados e municípios –, a senadora tem feito críticas ao atual governo, como à atitude negacionista assumida diante da pandemia e, desde antes da campanha, à falta de planejamento do ministro da Economia, Paulo Guedes.

A isso somam-se alguns gestos. Rose não só participou do lançamento da candidatura de João Coser (PT) como declarou no evento que ele é seu candidato a deputado estadual. Também enviou sua 1ª suplente, Solange Lube (MDB), ao lançamento de Jackeline Rocha para deputada federal.

A nota oficial da CUT-ES

A CUT/ES é uma central que atua junto aos sindicatos de trabalhadores há 39 anos. Nosso papel é defender os direitos da classe trabalhadora, sua dignidade e o Estado democrático de direito.

Na última semana, solicitamos uma agenda à senadora Rose de Freitas para dialogar a respeito da pauta dos trabalhadores do ES com os dirigentes da CUT. Na ocasião, pautamos o compromisso em defesa dos direitos trabalhistas, incluindo a revogação da reforma trabalhista.

A direção da CUT/ES enquanto instituição não se manifesta. Mas os dirigentes de alguns Sindicatos que a compõem entendem a importância dessas eleições e não podem se furtar de se manifestarem em apoio a candidaturas que se comprometam com a defesa da pauta dos Trabalhadores (as) e que dê sustentação ao governo Lula e nesse sentido declararam apoio a Senadora Rose de Freitas.

Nosso posicionamento é em defesa de um projeto que preze pela manutenção dos direitos e da vida dos trabalhadores e trabalhadoras. Não estaremos do mesmo lado de quem atenta contra os trabalhadores, contra os direitos humanos e contra a democracia.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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