Coluna Vitor Vogas
Análise: Pesquisa Ipec/Gazeta impõe a nova verdadeira pergunta da eleição ao governo do ES
A pergunta que se deve fazer agora não é apenas se haverá 2º turno, mas se Manato, especificamente, conseguirá ou não avançar de fase contra Casagrande
Ao analisar aqui a primeira pesquisa da série Ipec/Rede Gazeta, publicada por A Gazeta em 17 de agosto, apontei aquela que me parecia a verdadeira grande questão da eleição ao governo estadual naquele momento: a disputa seria decidida em um só turno por Casagrande ou poderia ter segundo turno? Agora, a segunda pesquisa da série, divulgada por A Gazeta na última sexta-feira (2), atualiza a questão, tornando-a mais específica: conseguirá Casagrande liquidar a fatura no primeiro turno ou Manato (PL) conseguirá adiar a definição para 30 de outubro?
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Se Casagrande é o homem a ser batido, o único que neste momento parece ter alguma chance de bater esse homem (ou pelo menos incomodá-lo) é o candidato do PL.
Na segunda pesquisa da série Ipec/Rede Gazeta – a primeira após o início da veiculação do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, no último dia 26 –, Casagrande consolidou seu favoritismo, passando de 52% para 56% das intenções estimuladas de voto.
Os outros seis candidatos, somados, não chegam a 2/3 das intenções de voto que Casagrande alcança sozinho. Se a votação fosse hoje, o atual governador estaria eleito no primeiro turno, com 62,2% dos votos válidos.
Mas quem teve o maior motivo para celebrar os resultados da sondagem foi Manato, que pulou de 10% para 19% das intenções no cenário estimulado (ou 21,1% dos votos válidos). Se ainda não é o suficiente para forçar o segundo turno, é um estirão que anima a campanha, mostra que ele está vivo no jogo contra Casagrande e que não haverá vitória do socialista por W.O.
Enquanto isso, Guerino Zanon (PSD) e Audifax (Rede) ficaram estagnados, com 5% cada um, mesmo após o começo da apresentação massiva de suas candidaturas no horário eleitoral. Hoje, se alguém pode ameaçar Casagrande, esse alguém se chama Carlos Manato.
Uma hipótese para explicar o crescimento do candidato bolsonarista nas duas primeiras semanas de campanha oficial é a de que os eleitores mais fidelizados de Bolsonaro (por extensão, de Manato) ouviram a sirene eleitoral e começaram a entrar na campanha do ex-deputado federal para tentarem derrotar o governador de centro-esquerda que tem o apoio do PT e apoia Lula para a Presidência.
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A estratégia de Manato
É bem verdade que, na sua propaganda eleitoral de rádio e TV, ao menos até agora, Manato não está investindo em uma colagem ostensiva na imagem de Bolsonaro – ao contrário do que fez em 2018.
Salvo por uma breve menção à sua parceria com o atual presidente, o ex-deputado federal tem se atido a temas específicos do Espírito Santo e martelado o slogan “governador de todos os capixabas”. A título de comparação, Magno Malta, candidato ao Senado pelo mesmo PL, mostrou logo em seu segundo programa Bolsonaro pedindo votos para ele e, nesta segunda-feira (5), convocou o público, com retórica ufanista, para manifestações do 7 de setembro.
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Ao mesmo tempo, se não repete à exaustão “Bolsonaro”, como fez há quatro anos, Manato tem buscado colar em Casagrande o PT e os escândalos de corrupção dos governos Lula e Dilma.
O objetivo estratégico é claro: furar a bolha bolsonarista, ir além dos votos enraizados dos eleitores cativos de Bolsonaro e conseguir capturar os votos de eleitores da direita não bolsonarista e até de parte dos eleitores de centro; acima de tudo, os votos de antipetistas que não necessariamente votam em Bolsonaro.
Por outro lado, é muitíssimo provável que escoe para Manato, na eleição ao governo estadual, a maior parte daquele voto mais ideológico a favor de Bolsonaro. Ou seja, aquela ala mais ideológica do eleitorado bolsonarista deve escorrer por osmose para Manato, sem que ele nem precise se esforçar para isso.
Até porque ele costuma repetir algo que é verdadeiro: muitos outros tentaram, ou ainda tentam surfar na onda bolsonarista, mas, como se diria no surf, Manato tem a preferência para pegar essa onda: há mais de quatro anos está colado em Bolsonaro, desde que eram colegas na Câmara e que a possibilidade de ver o capitão do baixo clero eleito presidente da República ainda soava como delírio ou anedota.
Guerino e Audifax: espremidos no meio
Guerino Zanon, por exemplo, desde o princípio desta campanha, deu uma virada forte à direita, declarou voto em Bolsonaro, adotou pautas do bolsonarismo – inclusive em seu plano de governo, como o excludente de ilicitude – e, em entrevistas e comícios, tem buscado reforçar seu lado cristão, conservador, “defensor da família” etc. Visivelmente, está buscando ganhar a simpatia do eleitorado bolsonarista, especialmente junto a dois dos seus pilares: o segmento militar e o evangélico.
O ex-prefeito de Linhares tem feito o possível para disputar esses nichos com Manato. O problema para ele, repito, é que de fato Manato não só chegou primeiro nesse território como tratou de fincar ali as suas estacas. Na última quinta-feira (1º), os dois afirmaram em público, durante comício evangélico, que aquele que chegar ao segundo turno terá o apoio do outro. Com os números do último Ipec, se o primeiro turno fosse hoje, ninguém ali naquele palco apoiaria ninguém. Mas pelo visto, se houver segundo turno, é Guerino quem apoiará Manato.
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Enquanto isso, numa eleição tão polarizada, Audifax pode padecer da dificuldade contrária: a falta de um gancho nacional. Enquanto Guerino tenta desbravar um nicho onde Manato tem predominância, o ex-prefeito da Serra tem repetido que não pretende nacionalizar a eleição estadual, que quem faz isso está prestando um desserviço etc. Faz sentido.
O problema é que, goste-se ou não, esta eleição nacional está tão polarizada que as disputas locais já nasceram nacionalizadas, ou altamente contaminadas pelo antagonismo entre Bolsonaro e Lula, extrema-direita e esquerda. A total neutralidade neste caso pode acabar “neutralizando” o próprio candidato a governador, privando-o de poder de atração, deixando-o desprovido de apelo perante o eleitorado.
Tanto Guerino como Audifax têm buscado tachar Casagrande como um mau gestor ou até como um “não gestor”. Mas isso acaba colidindo com o outro número muito positivo para o atual governador na pesquisa Ipec: seus 56% de avaliação positiva por parte dos entrevistados – a maior aprovação em levantamentos realizados pelo mesmo instituto desde 19 de agosto, entre os 27 atuais governadores do país.
Eis aí, talvez, o maior complicador para Manato, Guerino e Audifax: é muito, mas muito difícil derrotar um governador que busca renovar o mandato com tamanho nível de aprovação popular. Mais fácil seria se Casagrande estivesse fragilizado…
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Conclusões
Guerino e Audifax acabaram espremidos: de um lado, pelo gigantismo da coligação e da campanha de Casagrande (aliado à boa avaliação do governador); do outro, por um bolsonarismo que aflui quase naturalmente para Manato sem que ele nem precise mais pedir. Nesse contexto, os ex-prefeitos de Serra e Linhares parecem ter ficado meio perdidos no meio da pista; sem um mote, sem um norte, sem um gancho, sem um filão para chamar de seu.
A questão que fica agora é se o crescimento de Manato vai parar aí, ou seja, se ele não irá além desse primeiro impulso, ou se esse é somente o início de uma trajetória ascendente, o primeiro degrau de um crescimento gradual e sustentável que se dará no decorrer da campanha. Dito de outro modo: terá Manato já batido no seu teto, ou o seu teto ainda está longe de ser atingido?
Só a sequência da campanha o dirá. E a resposta, como em 2018, pode vir no último dia, do sábado para o domingo da votação, marcada para 2 de outubro. Vale sempre lembrar que, há quatro anos, Manato dobrou seu desempenho das pesquisas da véspera (14%) para as urnas (27%).
Outros números bons para Casagrande
A rejeição de Casagrande já era baixa (24%) e caiu ainda mais, dentro da margem de erro, da primeira para a segunda pesquisa Ipec/Rede Gazeta: agora está em 22%, mesmo índice de Manato (que, há quatro anos sem mandato, sofre bem menos exposição negativa).
Quanto à expectativa de vitória, 58% dos entrevistados acreditam que Casagrande vai ganhar.
Na espontânea, o governador é citado por 32% dos entrevistados, ante 10% de Manato. Guerino e Audifax têm 3% das menções cada um.
Numa simulação de segundo turno contra Manato, Casagrande bateria o ex-deputado por 61% a 26%. Teria 70,1% dos votos válidos, uma margem muito confortável.
Números bons para os demais
Na consulta espontânea, 53% não souberam ou preferiram não opinar, indicaram voto branco ou nulo ou apontaram alguém que nem é candidato. Ou seja, sem ter acesso à relação de concorrentes, menos da metade dos respondentes indicaram espontaneamente um dos sete candidatos na disputa. Isso prova que mais da metade dos eleitores capixabas ainda não entrou para valer no processo eleitoral.
Para 57% dos eleitores a decisão de voto é definitiva, enquanto 35% ainda podem mudar de candidato até o dia da eleição; somam 8% os que não responderam à pergunta. Portanto, ainda há uma boa faixa de “votos oscilantes”, ou “cambiáveis”, a ser disputada pelos candidatos.
O Ipec é um instituto criado por ex-executivos do Ibope Inteligência.
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