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Coluna Vitor Vogas

A ascensão e os papéis de Magno Malta na campanha de Manato

O próprio senador eleito se define como um “aglutinador de forças”. Sua filha está na propaganda de Manato, sua assessora virou coordenadora de marketing e ele mesmo tem aumentado pressão sobre Casagrande

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É incontestável: no 2º turno, o senador eleito Magno Malta adquiriu destaque bem maior na campanha ao Governo do Estado do seu correligionário, Carlos Manato, tanto na linha de frente como na retaguarda. O próprio Magno se define como um “aglutinador de forças”.

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No que se refere à presença do senador eleito, a mudança é muito sensível em relação ao 1º turno. Até o dia 2 de outubro, cada um basicamente cuidou da própria candidatura. E, na condição de presidente estadual do PL, fortalecer a campanha de Manato ao Palácio Anchieta não foi exatamente uma prioridade para Magno. Do Fundo Eleitoral do PL, Manato recebeu R$ 100 mil, enquanto Magno ficou com R$ 2 milhões. Nas propagandas dos candidatos a deputado do partido, quem aparecia era Magno, e não Manato (fugindo ao padrão nesse tipo de conteúdo).

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Agora, mesmo quando ele não está presente em pessoa, a presença de Magno se faz sentir por toda parte na campanha de Manato, a começar pela mudança que marcou o início do 2º turno na direção do marketing eleitoral do candidato: oficialmente, o motivo do autodesligamento do jornalista Fernando Carreiro, que assinou a campanha de Manato no 1º turno, foi a falta de um acerto financeiro para a segunda etapa do certame. Mas não foi bem isso ou, pelo menos, não só isso.

Pelo que apurei, pesou também profundamente a incompatibilidade entre Carreiro e Magno, que, com seu retorno ao Senado assegurado, ascendeu nos bastidores da campanha de Manato logo após a largada do 2º turno. Havia uma resistência mútua: Carreiro não é fã do estilo de Magno, que por sua vez não curte o estilo de Carreiro. Este, então, pediu o chapéu. A nota oficial de Manato, dizendo que estava “com o coração partido” pela saída do jornalista, indicou inequivocamente que o rompimento não se deu por vontade do próprio candidato.

Após alguns dias acéfala e correndo para montar uma nova equipe de comunicação (um pool de empresas), a campanha de Manato apresentou a jornalista Giselle Barbosa como nova coordenadora de comunicação.

Sem colocar em discussão os méritos da colega – assessora eficiente, que atende com atenção e presteza às demandas desta coluna –, o que pede destaque aqui é o fato de que, no 1º turno, Giselle foi assessora de imprensa de Magno Malta e respondeu pela comunicação da campanha do então candidato a senador, ao lado das duas filhas dele, Maguinha e Karla Malta.

Aliás, a jornalista segue assessorando Magno. Portanto, sua escalação como coordenadora do marketing de Manato é mais um sinal eloquente da influência adquirida pelo agora senador eleito nos bastidores da campanha, mas não só ali. Tal influência também pode ser, literalmente, vista na tela.

Nos programas de Manato exibidos no horário eleitoral, ninguém menos que a própria Karla Malta emerge como “apresentadora” – assim ela é creditada. Por poucos segundos em cena, a filha de Magno afirma que a campanha adversária está espalhando por aí que, se eleito governador, Manato vai acabar com o Espírito Santo. Ela completa que estão fazendo isso por medo e desespero, porque Manato vai “acabar com a mamata” deles.

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Não se especifica qual é exatamente a “mamata” de que se está falando, mas isso nem é necessário para o fim que se propõe cumprir: a apresentadora e o texto despertam no público-alvo uma associação imediata com Magno (mesmo para quem não conhece Karla e não sabe da relação filial, o sobrenome fala por si) e também com Jair Bolsonaro (pela livre adaptação de uma das frases de efeito usadas por ele em 2018).

Na propaganda de TV, o próprio Magno também já apareceu, num palanque, gritando “É Bolsonaro e Manato!”.

O ganho de protagonismo de Magno na campanha de Manato não chega a ser uma surpresa, até porque foi antecipado pelo próprio candidato a governador em sua primeira entrevista coletiva após a apuração dos votos no 1º turno, na noite do dia 2. Na ocasião, Manato disse que contava com Magno para exercer o papel de articulador político da campanha, acionando a sua rede de contatos em Brasília para ajudar a trazer ao Espírito Santo o próprio Bolsonaro e outros nomes populares ligados ao presidente para turbinar seus atos de campanha.

Até o momento, Bolsonaro não veio ao Espírito Santo. Mas, acompanhado por Magno, Manato foi até o presidente em Brasília, no dia 7 de outubro, gravou com ele e, ao lado do senador eleito, recebeu uma declaração de apoio já usada à saciedade em sua propaganda. Magno, a propósito, tem viajado bastante na comitiva do próprio Bolsonaro pelo Brasil. Já esteve ao lado do presidente em palanques montados em Pernambuco, no Rio, no Piauí e no Ceará, por exemplo.

Enquanto isso, numa última e cabal evidência de como entrou em definitivo na campanha contra Casagrande, Magno e seu candidato a governador fizeram uma ação perfeitamente casada na última terça-feira (11), dia em que os capixabas viram seis ônibus serem vandalizados por criminosos em Vitória e um na Serra.

Por volta das 20h30 da noite, a assessoria de imprensa de Manato enviou uma nota informando que o candidato solicitara uma reunião de emergência com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, contando para isso com a intermediação de Magno. Ao mesmo tempo, o próprio senador eleito divulgou um vídeo em que dizia já ter contatado Torres, que por sua vez já pusera à disposição do Espírito Santo a Força Nacional de Segurança Pública.

Esta, porém, completou Magno, só poderia ser enviada ao Estado mediante um pedido direto e oficial por parte do governador. Por evidente, foi uma forma de jogar pressão adicional sobre o adversário eleitoral que é o atual ocupante do Palácio Anchieta e comandante em chefe da Polícia Militar do Espírito Santo.

O auxílio federal não foi pedido, logo tampouco foi enviado, alguns criminosos foram presos, nenhum novo ato de terror foi cometido nos dias seguintes e a situação, pelo menos nas ruas, esfriou tal como os coletivos após a ação dos bombeiros. Já no horário eleitoral, o negócio continuou pegando fogo. Sem citar nomes, Casagrande acusou “abutres” de estarem tentando extrair proveito eleitoral da situação, em vez de buscarem ajudar neste momento.

Seja como for, depois de ter derrotado a candidata de Casagrande ao Senado, Rose de Freitas (MDB), Magno parece determinado a vencer o próprio Casagrande, por intermédio de Manato. Vale lembrar que o governador conta com o apoio dos três atuais senadores do Espírito Santo – Rose, Marcos do Val (Podemos) e Fabiano Contarato (PT). Os três são desafetos de Magno, derrotado pelos dois últimos em 2018.

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Giselle Barbosa

Em conversa com a coluna, Giselle confirmou que assumiu a comunicação da campanha de Manato, mas fez uma ressalva e alguns acréscimos à informação:

“Não costumo usar o termo ‘marqueteira’, mas Consultora de Marketing Político e Eleitoral. E na campanha de Manato temos a presença de conselheiros: Bruno Lourenço, Aridelmo Teixeira, Guerino Zanon, Audifax Barcelos e Tenente Assis como coordenador-geral. Tudo é alinhado em equipe.”

Carioca, Giselle Barbosa trabalha com políticos do PL há mais de uma década. Antes de passar a trabalhar diretamente com Magno, ela foi assessora, por exemplo, do então deputado estadual Gilsinho Lopes, na legislatura de 2015 a 2018. Giselle é jornalista com pós-graduações em Administração em Marketing e Marketing Digital pela FGV e pela PUC.

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Magno: “aglutinador de forças”

Por intermédio de Giselle, o próprio Magno mandou à coluna um áudio em que responde quais são as funções assumidas por ele na campanha de Manato no 2º turno:

“A campanha de Manato é do PL e eu, Magno Malta, tenho exercido as funções de presidente do partido, senador eleito e aglutinando forças tanto nacionais quanto estaduais no sentido de aglutinar para poder ganhar a eleição no segundo turno, com o auxílio efetivo do presidente da República.”

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A bolsonarização da campanha

Quando Fernando Carreiro deixou de ser o marqueteiro de Manato, ao analisar os possíveis rumos que a comunicação da campanha poderia tomar no 2º turno, afirmei que a questão-chave era saber se seria mantido aquele equilíbrio dado por Carreiro no 1º turno (candidato de Bolsonaro, sim, mas “governador de todos os capixabas”) ou se seria aprofundada a estratégia de “bolsonarização”.

A resposta já está dada. A aposta muito forte é na bolsonarização. Num programa de cinco minutos veiculado na última sexta (14), o nome de Bolsonaro foi pronunciado 12 vezes, entre jingles e falas de Manato, apresentadores e populares, além de uma declaração do próprio presidente: “Amigos do Espírito Santo, não se esqueçam: no dia 30, Bolsonaro presidente e 22, Manatinho governador.”

O novo slogan é “Quem vota em Bolsonaro vota em Manato, 22”. “O governador de todos os capixabas” agora é “o governador do Bolsonaro” ou, no máximo, “o governador do Bolsonaro e de todos os capixabas”. Mirando nos eleitores de direita, o candidato também é tratado como o único que “pode endireitar o nosso estado”.

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“Com Bolsonaro lá e Manato aqui, a criminalidade não tem vez”, diz Manato. “Quem está com Bolsonaro está com Manato”, afirma um jovem na rua.

Numa seção mais leve, a propaganda ainda apresenta pessoas tentando dizer um trava-língua que remete a um dos bordões do presidente: “Manato vai acabar com a mamata”.

O jingle e o roteiro enfatizam conceitos caros a eleitores de Bolsonaro. A “defesa da família” é salientada. O novo jingle traz as palavras liberdade, segurança e família. Na abertura de cada programa, o locutor introduz “o governo que vai fazer do Espírito Santo um estado livre, forte e seguro”.


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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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