Coluna Vitor Vogas
Vila Velha: arsenal de guerra é encontrado com político do PL preso
Pistolas, rifles e até simulacros de granada foram apreendidos na Operação Criptovet, além de aparelho usado por hacker e carteira de moedas digitais
Um impressionante arsenal, incluindo pistolas, rifles e até simulacros de granadas, foi encontrado em poder do veterinário, empresário e político do Partido Liberal (PL)Thiago Oliveira do Nascimento na última terça-feira (23), em sua residência no bairro Itapuã e na suíte do hotel da Praia do Canto onde ele foi localizado e preso durante a Operação Criptovet, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
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Dando cumprimento aos mandados de prisão, busca e apreensão, a assessoria militar do Gaeco encontrou e apreendeu pelo menos quatro armas de fogo e uma quantidade surpreendente de munições, além de carregadores, silenciadores, lunetas, bipé, mira a laser, dois coletes à prova de bala, dois simulacros de granada e dois distintivos de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) do Exército.
Em poder de Nascimento, também foi apreendido um dispositivo eletrônico ilegal chamado Flipper Zero, comumente utilizado por hackers. Proibido pela Anatel, o aparelho, por meio de clonagem, pode ser usado para acessar áreas restritas, fazer pagamentos indevidos ou roubar informações pessoais. Foram apreendidos, ainda, câmeras portáteis, um dispositivo eletrônico de detecção de câmeras escondidas, uma carteira eletrônica (hardware wallet) denominada Trezor, usada para a realização de transações com criptomoedas, um cofre e sua chave, vários cartões de crédito, quatro relógios de marca e R$ 14.234,00 em espécie (no bolso da jaqueta e na carteira).
Entre os integrantes da operação, chamou a atenção o fato de que, no momento da prisão (por volta das 16h do dia 23), Nascimento foi encontrado dormindo na cama do quarto do hotel, com uma pistola Taurus calibre .38 carregada e pronta para disparo, mantida ao seu alcance, sobre a mesinha de cabeceira da cama. A arma foi imediatamente tirada do alcance do investigado, que não resistiu à prisão.
Em nota enviada à imprensa na última quinta-feira (25), a assessoria do MPES informou que, em posse do investigado, foram apreendidas armas de fogo “sem a apresentação dos devidos registros legais”. Consta nos autos da investigação que ele tem registro de posse/porte de arma de fogo.
Filiado ao PL desde outubro e tratado até então nos círculos do partido como possível candidato à Prefeitura de Vila Velha, o veterinário, empresário e político é investigado pelos crimes de extorsão e lavagem de dinheiro. No dia da prisão, a assessoria do PL enviou nota à imprensa, assinada pelo presidente do partido em Vila Velha, Carlos Salvador.
O dirigente afirmou que o PL “não pode ser responsabilizado pelos atos individuais de seus afiliados”, que “o partido repudia firmemente qualquer conduta que não esteja alinhada com valores morais sólidos” e que, “em nenhum momento, o senador Magno Malta, presidente do PL-ES, ou qualquer representante oficial do partido, declarou Thiago Oliveira [do Nascimento] como pré-candidato”. “Portanto, não podemos nos responsabilizar por especulações políticas envolvendo o seu nome.”
Na última sexta-feira (26), a prisão temporária do suspeito foi prorrogada por mais cinco dias pela juíza Paula Cheim Jorge, titular da 2ª Vara Criminal de Vila Velha, atendendo a pedido do MPES. Agora, ele ficará preso pelo menos até 00:01 da próxima sexta-feira (2).
Além de entender que, em liberdade, Nascimento poderia obstruir as investigações, a juíza destacou ter ficado provado na apreensão que o investigado faz uso de farto equipamento tecnológico, incluindo dispositivos destinados à movimentação de criptomoedas, como inúmeros tokens e carteiras eletrônicas usadas para a manipulação de moedas digitais (bitcoins e altcoins). Tal fato reforça, a seu juízo, a necessidade de mantê-lo preso, para evitar que se utilize desses meios para efetuar transferências financeiras de muito difícil rastreio pelas autoridades, visando ocultar o patrimônio adquirido ilegalmente, por meio do esquema de extorsão.
A juíza também levantou o sigilo da operação, até então mantida em segredo de Justiça para não embaraçar as investigações.
Entenda o caso
O procedimento investigatório criminal em face de Nascimento foi instaurado a partir de denúncia formulada, no último dia 19 de outubro, pela suposta vítima da extorsão: um empresário multimilionário da Índia.
Casado e pai de família, o empresário começou a se relacionar com uma brasileira em 2015, em um caso extraconjugal. O relacionamento durou até 2020. Depois disso, de acordo com a investigação do MPES, a moça voltou a morar no Brasil – precisamente, em Vila Velha – e se envolveu amorosamente com Thiago do Nascimento.
Este, então, segundo apurou o Gaeco, descobriu não só o caso amoroso pregresso da mulher com o milionário indiano, mas fotos comprometedoras dos dois juntos, entre outros dados armazenados por ela ao longo do relacionamento que constituem provas do affair extraconjugal e intercontinental.
Em poder desse material, conforme a investigação do MPES, o veterinário capixaba entrou em contato com o empresário indiano em 2021, ameaçando divulgar as imagens comprometedoras para a imprensa, a família do empresário e seu círculo social, caso ele não lhe pagasse a quantia exigida em troca do silêncio.
Temendo por sua reputação e consequentes perdas para seus negócios – sobretudo tendo em vista o contexto empresarial e cultural tradicionalíssimo de seu país de origem –, o indiano, por mais de dois anos, cedeu à chantagem de Nascimento, que perdurou até a última terça-feira, dia da prisão do veterinário e ex-possível candidato a prefeito pelo PL.
Durante esse tempo, a soma dos valores repassados pelo empresário a Nascimento em troca do seu silêncio chegou perto de R$ 9 milhões, considerado o câmbio de hoje, segundo apurações do MPES.
As quantias eram repassadas para o autor da chantagem por meio de transferências ou pagamentos em carteiras de criptomoedas como Bitcoin ou Ethereum (daí o nome dado pelo Gaeco à operação). Precisamente, o Gaeco identificou um total de 19 transações do empresário indiano em favor do veterinário capixaba, movimentando US$ 1.803.613,00. Isso é “apenas” o que os investigadores conseguiram comprovar, por ora.
Ainda de acordo com as apurações, o patrimônio do investigado cresceu exponencialmente de 2021 para cá. Para “lavar o dinheiro”, dando aparência de legalidade às somas de origem ilícita, o suspeito realizou uma série de transações no mercado imobiliário entre 2021 e 2023, adquirindo e vendendo imóveis como apartamentos, terrenos, vagas de garagem e uma sala comercial.
Outro expediente identificado pelo Gaeco foi a abertura de empresas fora de sua área de atuação profissional, figurando como sócio majoritário, como uma produtora e duas empresas de material de construção. Uma dessas firmas encerrou as atividades poucos meses após ser aberta. Em outra, Nascimento vendeu sua participação poucos meses após a constituição da empresa. Suas cotas foram vendidas por R$ 300 mil.
Veja abaixo a lista completa e detalhada do conteúdo apreendido na Operação Criptovet:
No quarto do hotel onde se efetuou a prisão de Thiago do Nascimento:
. uma pistola Taurus calibre .380 com dois carregadores
. duas placas balísticas (coletes à prova de balas)
. três celulares da marca Apple
. um notebook e um IPad marca Apple
. uma maleta com drivers e HDs diversos
. eletrônicos diversos
. cartões diversos
. um dispositivo eletrônico denominado Trezor (carteira digital para movimentação de criptoativos)
. 76 munições ponta oca intactas
. 16 munições ogival intactas calibre .380 acondicionadas em uma maleta própria para munições
. R$ 13.600,00 encontrados dentro da jaqueta colete de uso pessoal do investigado
. R$ 634,00 dentro de sua carteira
. uma chave de cofre
. um contrato de imóvel
. um distintivo CAC do Exército
. documentos diversos e agenda
. seis cartões de crédito
No veículo do investigado, uma caminhonete modelo Dodge Ram, estacionada em frente ao hotel:
. um distintivo CAC do Exército
. uma chave de cofre
. um contrato de imóvel
Na residência do investigado, um apartamento no bairro Itapuã:
. uma pistola Beretta calibre 6,35, com um carregador e dez munições
. cinco munições calibre .38
. cinco munições calibre .380 ogival
. seis munições calibre .380 ponta expansiva
. 145 munições calibre .17
. um rifle CBC 817 Bolt Action calibre .17, com luneta e dois carregadores
. um rifle calibre .5.5/.22
. sete silenciadores diversos
. um simulacro de rifle M16RGR, danificado
. um simulacro de calibre .12, danificado
. um simulacro de pistola Rossi W301
. uma algema
. um bipé para rifle
. uma mira Red Dot Goetland (mira a laser)
. uma luneta 3-9X40EG
. uma luneta 3.9X56EG
. dois simulacros de granada M67
. uma bandoleira
. uma carteira com brasão escrito CAC
. cinco estojos calibre .38 deflagrados
. três estojos calibre .22 deflagrados
. dois estojos calibre .17 deflagrados
. um estojo calibre .380 deflagrado
. três minigravadores
. documentos diversos e cartão de crédito
. quatro relógios, das marcas Rolex, Montblanc, Carrera e Hub Lot
. sete barrinhas de duas gramas cada semelhante a ouro
. um cofre
Na clínica veterinária de propriedade do investigado, na Praia da Costa
. uma pasta contendo multas de veículos
. uma carteira de integrante de um stand de tiros
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