Coluna Vitor Vogas
Vereadores derrubam veto de Arnaldinho (de novo) e aumento do prefeito volta a valer
Entenda esta novela reprisada em Vale a Pena Ver de Novo, conheça os novos valores para prefeito, vice e secretários e saiba como votou cada vereador
Em mais um capítulo (não necessariamente o último) da novela, pela segunda vez em pouco mais de um mês, a Câmara de Vila Velha rejeitou, na manhã desta quarta-feira (22), o veto do prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos) ao projeto de lei que aumenta os salários dos agentes políticos da Prefeitura Municipal. Agora, a nova lei será promulgada pelo presidente da Câmara, Osvaldo Maturano (PRD).
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Com isso, volta a valer o reajuste que já havia sido aprovado e promulgado pela Câmara em dezembro do ano passado.
O salário do prefeito passará de R$ 15,3 mil para R$ 29 mil; o do vice-prefeito irá de R$ 13,3 mil para R$ 25,2 mil; o dos secretários subirá de R$ 12,2 mil para R$ 22,9 mil.
O veto de Arnaldinho foi rejeitado pelo placar de 15 a 4. Só votaram pela manutenção do veto o vereador Rafael Primo (o único do PT) e os três vereadores do PL: Devacir Rabello, Patrick da Guarda e Pastor Fabiano. Isso deu um bom indicativo dos dois focos de oposição com os quais a administração de Arnaldinho terá de lidar no segundo mandato.
O veto foi rejeitado em sessão extraordinária, após aprovação de votação em regime de urgência. A sessão foi tumultuada e marcada por desentendimentos. O governista Jonimar (PP) discutiu asperamente com o oposicionista Rafael Primo (PT), enquanto Patrícia Crizanto (PSB) discutiu com Léo Pindoba (Podemos). Vereadores literalmente disputaram o microfone de apartes no plenário.
Em sinal de uma possível combinação nos bastidores – para poupar o prefeito de sancionar o projeto impopular –, o líder de Arnaldinho na Câmara, Devanir Ferreira (Republicanos), defendeu enfaticamente em plenário a rejeição do veto e encaminhou voto nesse sentido para a base do prefeito. Oficialmente, Arnaldinho liberou sua base na votação, conforme nota enviada à coluna.
Devanir chegou a fazer uma analogia com os salários de diretores de empresas públicas, como o Banestes (banco estadual) e até a Petrobras (uma estatal federal):
“Se Vila Velha fosse uma empresa privada, ela configura hoje uma das dez maiores do Estado, competindo com o Banestes. Os senhores sabem quanto ganha um diretor do Banestes? Secretários merecem ganhar mais. Sacrificam sua vida e sua família. Trabalham de sábado a sábado, à disposição 24 horas por dia”, disse o líder do prefeito.
Presidida pelo vereador Ivan Carlini (Podemos), também aliado de Arnaldinho, a Comissão de Justiça também aprovou parecer pela rejeição do veto, com votos nesse sentido do próprio Ivan e de Hércules Silveira (PP), outro vereador governista.
Segundo Rafael Primo, a urgência foi pedida pelo próprio chefe do Executivo Municipal. “Isso acaba sendo uma confissão de que é uma articulação do próprio prefeito. Este é o documento que prova toda a articulação que foi feita”, acusou o petista.
“O contraditório faz parte do Parlamento. O que não pode é achar que, no grito, vai assustar os parlamentares”, rebateu Devanir.
“Estamos fazendo justiça”, defendeu Jonimar.
Entenda a confusão
No início de dezembro, o então presidente da Câmara de Vila Velha, Bruno Lorenzutti (MDB), protocolou o primeiro projeto de lei, prevendo o aumento de quase 90% para prefeito, vice e secretários. O projeto foi aprovado em plenário a jato, em regime de urgência e sessão extraordinária. Na ocasião, Maturano era líder de Arnaldinho na Câmara. Defendeu a medida e agradeceu a Lorenzutti por ter proposto e pautado o projeto.
No dia seguinte, porém, Arnaldinho vetou integralmente o projeto. Em uma longa justificativa, o prefeito argumentou que o aumento não era oportuno, pois Vila Velha tem outras prioridades e ainda há muito a ser feito pela cidade. Em seu parecer, o procurador da Prefeitura de Vila Velha não verificou nenhuma irregularidade nem vício formal na iniciativa de lei, mas ressalvou que o prefeito poderia optar pelo veto (como fez) por motivações políticas.
Quatro dias depois, sob a presidência de Bruno Lorenzutti, o veto de Arnaldinho foi derrubado em plenário. O prefeito não enviou nenhuma orientação à sua base, assim liberada para votar como quisesse. No dia 12 de dezembro, o Diário Oficial de Vila Velha publicou a Lei Municipal 7.194/2024, instituindo o reajuste para os agentes políticos do Executivo.
Entretanto, a nova lei municipal suscitou reações contrárias e contestações junto a órgãos de controle. Antes de tomar posse, o agora vereador Rafael Primo (PT), oposicionista declarado, denunciou supostas irregularidades ao MPES. Já Ivan Arpini, suplente do PL na Câmara de Vila Velha, ajuizou ação popular, pedindo a suspensão do aumento. O juiz não acatou o pedido de liminar, mas remeteu os autos ao Ministério Público Estadual (MPES).
No dia 9 de janeiro, o promotor de Justiça Flávio de Souza Santos, substituto da 15ª Promotoria de Justiça Cível, pediu ao novo presidente da Câmara, Osvaldo Maturano, para lhe enviar uma série de informações relativas à apresentação do projeto de lei de autoria de Bruno Lorenzutti (o que deu origem à Lei Municipal 7.194/2024).
Algumas possíveis irregularidades:
I – O projeto de lei não veio acompanhado do estudo de impacto financeiro do aumento salarial para os cofres municipais;
II – Não foi anexada ao projeto declaração do ordenador de despesa (o próprio prefeito) de que o gasto adicional decorrente do aumento tinha previsão financeira e orçamentária na Lei Orçamentária Anual de 2025 e na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO);
III – Segundo a assessoria da Câmara, projeto dessa natureza não poderia ser apresentado nos últimos 180 dias do ano legislativo; portanto, deveria ter sido até apresentado até o fim do primeiro semestre de 2024.
Reconhecendo a existência de possíveis irregularidades, o que fez, então, Maturano? Apresentou novo projeto de lei, para revogar a Lei 7.194/2024. No mesmo projeto, propôs novamente o reajuste para prefeito, vice-prefeito e secretário, rigorosamente nos mesmos valores previstos no projeto anterior de Lorenzutti (que deu origem à Lei 7.194/2024, agora revogada).
O projeto de Maturano foi aprovado, em sessão extraordinária, na última segunda-feira (20), com o voto favorável dos 19 parlamentares que participaram da votação, inclusive os do PT e do PL.
Se você ficou com a impressão de que vereadores e prefeito estão andando em círculos nesta história, não direi que esteja equivocado. Na prática, os vereadores cancelaram o que foi feito em dezembro e fizeram tudo de novo – tendo o cuidado, porém, de cumprir algumas exigências legais dessa vez. Por exemplo, o projeto de Maturano veio com o cálculo de impacto financeiro.
Ainda na segunda-feira (20), num clássico déjà-vu, Arnaldinho mais uma vez vetou o projeto. Com uma justificativa bem mais sucinta, voltou a chamá-lo de “inoportuno”.
Agora, na primeira sessão após o veto do prefeito, este, mais uma vez, foi rejeitado em plenário. E o aumento, assim, voltará a valer tão logo a nova lei seja promulgada por Maturano e publicada no Diário Oficial de Vila Velha.
No primeiro “giro”, em dezembro, ficou a sensação geral de que, politicamente, tudo não teria passado de um grande jogo de cena, estrelando vereadores e prefeito. Vetando o próprio aumento, mas deixando de orientar sua base a manter o veto em plenário, Arnaldinho teria se eximido do ônus político gerado pela impopular medida. Assim, teria terceirizado o desgaste para os vereadores – que, de fato, o assumiram sozinhos, e duplamente, ao aprovar o projeto de Lorenzutti e ao derrubar o veto do prefeito.
Agora, no segundo “giro”, parece que estamos diante do segundo ato.
COMO VOTARAM OS VEREADORES
Pela rejeição ao veto (a favor do aumento)
- Ademir Pontini (MDB)
- Adriana Meireles (Podemos)
- Alex Recepute (PRD)
- Carol Caldeira (DC)
- Devanir Ferreira (Republicanos)
- Doutor Hércules (PP)
- George Alves (Podemos)
- Ivan Carlini (Podemos)
- Jonimar (PP)
- Léo Pindoba (Podemos)
- Osvaldo Maturano (PRD)
- Patrícia Crizanto (PSB)
- Renzo Mendes (PP)
- Thiagão Henker (Podemos)
- Welber da Segurança (União)
Pela manutenção do veto (contra o aumento)
- Devacir Rabello (PL)
- Pastor Fabiano (PL)
- Patrick da Guarda (PL)
- Rafael Primo (PT)
Ausentes
- Flávio Pires (Agir)
- Rogério Cardoso (Podemos)
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