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Coluna Vitor Vogas

Sedes de poder: o sentido da troca de Ricardo por Vidigal no governo Casagrande

Análise: buscamos explicar aqui os objetivos da substituição, interessante para os três envolvidos, visando à eleição estadual de 2026

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Sérgio Vidigal, Renato, Casagrande e Ricardo Ferraço

Sérgio Vidigal, Renato Casagrande e Ricardo Ferraço (20/01/2025)

Em seu discurso de posse, no dia 1º de janeiro, o novo prefeito da Serra, Weverson Meireles (PDT), afirmou sobre o seu antecessor e mentor político, Sérgio Vidigal (PDT):

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“Eu vou aqui dizer, sem medo de errar, que esse homem, Sérgio Vidigal, hoje dá uma pausa na vida pública. E acredito que será uma pausa breve, um respiro para ele voltar ainda mais forte e revigorado. É um verdadeiro ídolo para nossa cidade. Um ídolo para mim, um ídolo para muitos nesta cidade”, afirmou Weverson.

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O novo prefeito realmente não errou. A “pausa breve”, na verdade, será brevíssima. Suas palavras foram lidas aqui, inicialmente, como insinuação de que Vidigal voltará logo a disputar mandatos – talvez já no próximo ano, como candidato a governador. Pode ser, pois isso está mesmo na mesa. Mas o retorno do ex-prefeito à vida pública e à atividade política se dará bem antes do pleito de 2026. Aceitando convite do governador Renato Casagrande (PSB) para compor a sua equipe no Governo do Estado, Vidigal assumirá a chefia da Secretaria de Estado do Desenvolvimento (Sedes).

O anúncio foi feito no início da tarde de segunda-feira (20), em uma live no Instagram de Casagrande, em seu gabinete no Palácio Anchieta. O governador comunicou a mudança ao lado do próprio Vidigal e de Ricardo Ferraço (MDB). O vice-governador participou da live não só porque sua presença ao lado de Casagrande em cada ato do governo tornou-se um imperativo, mas nesse caso, também, porque o anúncio afeta diretamente Ricardo e sua atuação no governo.

A Sedes é comandada por Ricardo desde o início do atual governo, em janeiro de 2023. Aliás, o vice-governador foi o primeiro secretário anunciado por Casagrande, em uma coletiva de imprensa no começo de dezembro de 2022, após a chapa dos dois ter vencido a eleição estadual em outubro daquele ano.

Antes mesmo disso, durante a campanha do 2º turno contra Manato (PL), Casagrande e Ricardo já sinalizavam que, em caso de vitória, o vice-governador tocaria as áreas de desenvolvimento econômico e agricultura no Governo do Estado. Foi uma forma de tranquilizar empresários, mais simpáticos a Ricardo e mais resistentes a Casagrande (à esquerda do vice-governador).

A chapa venceu e, de fato, Ricardo não só assumiu a Sedes como indicou o secretário de Agricultura, Enio Bergoli. Tornou-se, no governo Casagrande 3, o interlocutor nº 1 do Executivo com o setor produtivo capixaba. Agora, a partir da nomeação de Vidigal, prevista para a primeira quinzena de fevereiro, Ricardo passará a ser “só” vice-governador. E esse é o primeiro grande sentido da mudança.

Ricardo fica livre para se viabilizar

Em entrevista à coluna na última quinta-feira (16), Ricardo praticamente se lançou à sucessão de Casagrande em 2026. Afirmou que está pronto e preparado para ser candidato a governador e explicou que, a partir de agora, para se viabilizar eleitoralmente, passará a transitar por todas as áreas do governo, de saúde a segurança pública, de educação a mobilidade urbana, cumprindo, ao lado de Casagrande, uma agenda bem além do escopo da Sedes. Foi a pedra fundamental do projeto “Ricardo 2026”, o tiro de largada para a “marcha da viabilização”.

Livre da obrigação de cumprir a agenda específica da Sedes, Ricardo ficará muito mais à vontade para “circular” pelas outras esferas do governo e aparecer ao lado de Casagrande, visando se projetar politicamente e se viabilizar eleitoralmente. Tirá-lo da frente da Sedes, assim, já estava no roteiro da dupla.

O “não” de Vidigal que virou sim

Quanto a Vidigal, o governador já queria, sim, intensamente, contar com o ex-prefeito da Serra no alto escalão de sua equipe. Casagrande o convidou no fim do ano passado, depois das eleições municipais, com Vidigal ainda no cargo de prefeito da Serra. Vidigal, porém, num primeiro momento, declinou do convite. Questionado pela Rádio BandNews no dia 13 de dezembro, ele afirmou que foi mesmo convidado por Casagrande, que se sentiu muito grato e honrado, mas que preferiu recusar.

Ora, das duas, uma: ou Vidigal despistou todo mundo e escondeu muito bem o jogo, ou de fato mudou de ideia e se arrependeu da negativa inicial. Minha apuração indica que ele realmente voltou atrás. Após ter recusado inicialmente o convite de Casagrande, o ex-prefeito passou a procurá-lo na segunda semana de janeiro. Já na semana passada, conseguiu uma audiência com Casagrande e Ricardo. Juntos, então, os três definiram a ida do ex-prefeito para o governo.

De início, Vidigal tinha preferência pela Secretaria de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb), mas esta ficou na cota do PP. Casagrande até trocou o secretário: saiu Marcus Vicente e entrou Marcos Soares, indicado pelo deputado federal Da Vitória, presidente estadual do PP, como uma forma de atendê-lo pessoalmente e reforçar a presença do PP no governo.

Alternativamente, Vidigal tinha interesse em assumir a Secretaria de Agricultura (Seag), sob a gestão de Enio Bergoli, ou a de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi), sob o comando de Fábio Damasceno (PSB). Assim como a Sedurb, são secretarias com orçamentos robustos e um volume grandioso de entregas, logo excelentes vitrines políticas. Mas Casagrande, a priori, não tem a intenção de mexer no comando de nenhuma das duas. Tanto Enio como Damasceno estão bem avaliados internamente, e as respectivas pastas estão a funcionar como um relógio.

Apresentaram, então, a Vidigal, a Secretaria do Desenvolvimento. Para o governo, é um modo de encaçapar duas bolas com uma só tacada. Ao mesmo tempo, resolve-se a necessidade de tirar Ricardo da Sedes e consegue-se acomodar Vidigal na equipe.

E a presença de Vidigal no governo, neste momento, é muito interessante para as três partes envolvidas. Esse é outro grande sentido de tal substituição.

Por que é interessante para Casagrande?

Para Casagrande, ter Vidigal agora oficialmente como parte do governo não só reforça a presença do PDT no seu projeto sucessório como estreita a parceria política do ex-prefeito da Serra com ele e Ricardo. A presença de Vidigal como integrante do governo Casagrande 3 sedimenta a certeza de que não só o PDT como seu maior líder no Espírito Santo estarão no mesmo projeto de Ricardo e Casagrande em 2026.

O próprio Casagrande, em entrevistas no fim do ano passado, citou Vidigal – ao lado de Ricardo, Arnaldinho Borgo (Podemos) e Euclério Sampaio (MDB) – como um dos aliados em condições de entrar em campo e ser o candidato do seu grupo político a governador do Espírito Santo em 2026.

Ao escalar Vidigal em seu secretariado, em vez de deixá-lo de bobeira no mercado político, Casagrande não só prestigia o aliado estratégico como também dá a ele uma vitrine política para se manter em evidência até 2026, ou seja, também lhe proporciona um espaço de visibilidade para ele buscar se viabilizar…

Ora, por todos os sinais recentes – e as palavras de Casagrande no anúncio foram mais um, muito forte –, Ricardo é o candidato natural e prioritário do governador, que fará de tudo para ele vingar, mas… vai que o projeto não dá certo…

Se Ricardo não engrenar, Casagrande precisará de alternativas na manga até abril do ano que vem. Foi exatamente por isso que, em dezembro, ele teve o cuidado de declarar que Vidigal não pode ser “descartado” – tampouco Arnaldinho e Euclério. No caso desses dois prefeitos, o governador não precisa fazer nada para mantê-los prestigiados e em evidência. É só continuar irrigando os respectivos municípios, Vila Velha e Cariacica, com recursos do Governo Estadual. Mas Vidigal ficou sem mandato. Era preciso lhe dar guarida.

Por que é interessante para Ricardo?

Ao mesmo tempo, para Ricardo, a nomeação é interessante porque estreita a proximidade de Vidigal com ele, reforçando que os dois estarão juntos nas eleições majoritárias de 2026. “Tamo junto”, resumiu ele, no fim da live. Na entrevista à coluna publicada na última quinta-feira (16), o vice-governador afirmou que o mais importante é manter a “frente ampla” e que fará de tudo para preservar a unidade desse grupo.

Dentro dessa frente, assim como Casagrande, Ricardo citou Vidigal, Arnaldinho e Euclério como potenciais candidatos ao Palácio Anchieta; indo além do governador, acrescentou à lista os nomes de Gilson Daniel e Da Vitória, presidentes estaduais do Podemos e do PP, respectivamente.

Se essa unidade for mantida, a coligação governista terá, no mínimo, o PSB de Casagrande, o MDB de Ricardo, o PDT de Vidigal, o Podemos de Gilson e o PP de Da Vitória – além do União Brasil de Felipe Rigoni, do PSDB de Vandinho Leite e de outros partidos menores. É claro que Ricardo Ferraço, na sua marcha da viabilização, quer todos eles a apoiá-lo, mas, para não fechar portas de cara, declarou que também está pronto para apoiar qualquer um dos outros cinco líderes listados por ele, da mesma forma e com a mesma intensidade que está pronto para receber o apoio deles.

Por que é interessante para Vidigal?

Por fim, parece muito evidente que está, sim, nos planos de Vidigal, tentar se viabilizar para governador do Estado em 2026. Lembremos das palavras de Weverson, com as quais abrimos este texto. Lembremos, ainda, que o próprio Vidigal não descarta isso. Questionado pela Rádio BandNews no fim do ano passado, afirmou que o seu candidato e o do grupo é Ricardo Ferraço, mas se colocou como uma espécie de plano B: “Se porventura vier a ser convocado [por Casagrande], e se for à minha altura, irei analisar”, disse Vidigal.

Para se manter no aquecimento, é lógico que lhe convém muito mais ocupar um espaço de prestígio e projeção política como a Secretaria de Desenvolvimento – interface do governo com empresários e investidores de toda parte – do que passar mais de um ano sem mandato e sem cargo público, apostando tão somente na estima do eleitor da Serra e na lembrança do eleitorado de outros municípios onde seu recall seguramente não é tão alto.

Vidigal, enfim, se mantém em campo, em vez de passar mais de um ano sem tocar na bola.

A contradição de Vidigal

Não se pode deixar de sublinhar aqui um ponto: por mais conveniente e racional que seja a decisão de Vidigal do ponto de vista político, a ida dele para o governo Casagrande representa uma contradição monumental por parte do ex-prefeito.

Ao aceitar ocupar um cargo público a partir de fevereiro, com pouco mais de um mês de férias, Vidigal derruba solenemente o próprio argumento, mantido e repetido por ele desde março do ano passado, para justificar a decisão de não disputar novo mandato na Prefeitura da Serra e lançar Weverson no seu lugar.

Desde o primeiro instante – o evento em que lançou Weverson no dia 16 de março de 2024 –, para explicar sua “saída de cena”, Vidigal alegou que sua mulher, Sueli Vidigal (PDT), estava doente e que ele precisava deixar a política para dedicar mais tempo à esposa e à família. Dizia estar determinado a voltar a exercer a medicina. Ele é psiquiatra. Seu filho com Sueli, Serginho Vidigal, também é médico (oftalmologista) e sonhava em clinicar com o pai. Terá de esperar um pouco mais.

Sueli de fato se recupera de um carcinoma, sua situação de saúde merece todo o respeito e de modo algum se pretende aqui atenuar nem a doença nem sua gravidade. Mas agora resta muito evidente que esse jamais foi o principal motivo da decisão de Vidigal de não concorrer à reeleição. Ora, se assim fosse, para ser coerente com as razões alegadas, ele deveria ter tirado pelo menos um ano fora da política. Mas o ano sabático virou mês sabático.

É óbvio que as atribuições de um secretário de Estado não se comparam às de um prefeito numa cidade do porte da Serra, mas, ainda assim, é função pública de extrema responsabilidade e que exige dedicação quase em tempo integral. Ir para a Sedes parece muito distante da ideia de dar um tempo para se dedicar mais à família.

Habituado a emendar mandato atrás de mandato desde o fim dos anos 1980, o vovô Vidigal pelo visto não curtiu esse negócio de ficar em casa, de chinelos, cuidando dos netinhos. Começou a sentir aquele comichão para voltar à vida pública…

Ou isso ou foi a Sedes de poder.

O que resta agora na reforma do secretariado?

Desde o início do ano, Casagrande já anunciou três mudanças em seu primeiro escalão: Tyago Hoffmann (PSB) no lugar de Miguel Paulo Duarte Neto na Secretaria de Saúde; Marcos Soares (PP) no lugar de Marcus Vicente (PP) na Sedurb; agora, Vidigal (PDT) no lugar de Ricardo Ferraço (MDB) na Sedes.

Por ora, restam para jogo duas secretarias. Uma delas é a de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades) – chefiada, desde o governo passado, por Cyntia Grillo (PSB), uma técnica da área. A outra é a de Turismo (Setur), comandada desde dezembro de 2023 pelo jornalista Philipe Lemos.

Cyntia é da cota técnica e pessoal de Casagrande, além de sua correligionária. O PSB não vai se opor a liberar uma secretaria para abrigar um aliado, e um perfil mais político pode ser conferido a uma pasta com muitas entregas para a população de baixa renda.

Quanto a Lemos, dificilmente permanecerá à frente da Setur. É forte a pressão do setor sobre Casagrande para substituí-lo. Ademais, como ele e o chefe da Casa Civil, Junior Abreu, também são filiados ao PDT, a chegada de Vidigal gerará desequilíbrio na divisão dos espaços entre partidos aliados. A exoneração de um pedetista resolve esse ponto.

Assim, Setades e Setur tendem a ser negociadas por Casagrande para acomodar aliados. A Seag é cobiçada por todos, e não se pode descartar sua inclusão na mesa de negociações, mas a intenção inicial de Casagrande, como dito, é manter Enio Bergoli onde está.

Setades ou Setur devem ser oferecidas ao Podemos, do deputado Gilson Daniel. O presidente estadual do Podemos reivindica um espaço para o partido no secretariado, e Casagrande deseja contemplá-lo, mas as conversas têm esbarrado num problema.

A priori, o ideal para todos seria o retorno do próprio Gilson para o secretariado, mas isso levaria Alexandre Ramalho para a Câmara dos Deputados, o que o Palácio Anchieta não quer permitir de jeito nenhum. Casagrande pediu a Gilson para indicar outro quadro do Podemos. Ele ainda não o fez. Por enquanto, segue o impasse.

A segunda das duas pastas poderá ser oferecida, eventualmente, ao atual presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União), para ser ocupada pelo próprio ou por um nome indicado por ele, caso Casagrande acabe decidindo apoiar Vandinho Leite (PSDB) em detrimento de Marcelo na disputa pela presidência da Assembleia Legislativa.

Mas Setur ou Setades podem ser muito pouco para contentar Marcelo e compensá-lo pela perda política descomunal nesse caso. Se preterido na eleição da Assembleia, o deputado pleitearia, no mínimo, uma pasta do porte da Seag… na qual o governo, a princípio, não quer mexer. Aí se pode estabelecer um outro impasse.

Como as palavras de Casagrande confirmam o “Plano Ricardo”

Desde o início do ano, Ricardo e Casagrande se tornaram siameses políticos, como parte do plano para maximizar a projeção do primeiro para a sucessão do segundo.

Na live do anúncio de Vidigal na Sedes, o governador confirmou, de uma vez por todas, que o plano é mesmo esse:

“Fizemos um convite e uma conversa com o nosso vice-governador para que, a partir do mês de fevereiro, ele possa estar completamente à disposição para, de fato, exercer o papel de vice-governador, se desvencilhando de atividades burocráticas que muitas vezes a secretaria impõe, por dever, obrigação e necessidade. Então, a partir de fevereiro, Ricardo Ferraço vai estar, o tempo todo, com exclusividade, nos ajudando em todas as ações do governo, em todas as secretarias, em todas as áreas. Vai me ajudar na articulação em Brasília, na articulação na Assembleia Legislativa, e vai me ajudar na condução de cada secretaria, de cada ato, de cada ação no Governo do Estado”.

Filho de Vidigal à frente do Ipem-ES

O diretor-geral do Instituto de Pesos e Medidas do Espírito Santo (Ipem-ES) é Sérgio Eduardo Correa Vidigal, o Dudu, filho de Sérgio Vidigal. O órgão é vinculado à Sedes na estrutura administrativa do Governo do Estado.


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