Coluna Vitor Vogas
Quatro vereadores da Serra são denunciados por corrupção e podem ser afastados
Denúncia foi oferecida pelo MPES e inclui o presidente da Câmara Municipal. Investigações também atingem ex-deputado Luiz Carlos Moreira

Fachada da Câmara da Serra. Foto: Reprodução/Câmara de Vereadores da Serra
Quatro vereadores a Serra, incluindo o presidente da Câmara, foram denunciados pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) pelo crime de corrupção passiva. A denúncia foi oferecida na terça-feira (13) pela Promotoria de Justiça Criminal de Serra. O MPES também pede à Justiça, em caráter liminar, que os quatro sejam imediatamente afastados do mandato. O juízo da Serra ainda não decidiu sobre o pedido.
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Os vereadores denunciados são:
- Saulo Miranda Rodrigues Neves Junior, o Saulinho da Academia (PDT), presidente da Câmara da Serra
- Cleber Lima Pereira, o Cleber Serrinha (MDB)
- Valteilton de Freitas Valim, o Teilton Valim (PDT)
- Wellington Batista Guizolfe, o Wellington Alemão (Rede)
Na mesma ação criminal, o ex-deputado estadual e ex-vereador Luiz Carlos Moreira também foi denunciado pelo MPES, por corrupção ativa. Moreira é o presidente do MDB na Serra.
Paralelamente, a Promotoria Cível da comarca conduz um procedimento correlato por improbidade administrativa, pelos mesmos fatos sob investigação. Na esfera cível, o processo tramita em sigilo.
De acordo com as investigações conduzidas pelo MPES, no primeiro semestre de 2024, os quatro parlamentares teriam aceitado promessa de vantagem indevida (propina), em razão dos cargos ocupados, durante a tramitação do Projeto de Lei nº 69/2024, que tratava da regularização de imóveis urbanos no município (explicado em detalhes aqui).
Altamente controverso, o projeto de lei em questão foi apresentado pelo então prefeito Sérgio Vidigal (PDT). A suspeita do MPES, reforçada durante a apuração dos fatos, é que Luiz Carlos Moreira teria interesse pessoal na aprovação do projeto, pois um terreno de sua propriedade poderia ser regularizado a partir da nova lei municipal. Nos bastidores da Câmara da Serra, a proposta de lei chegou a ficar conhecida como o “Projeto do Moreira”.
O procedimento investigativo do MPES foi instaurado a partir de um arquivo de áudio enviado à Promotoria da Serra. Trata-se de um diálogo mantido entre vereadores nas dependências da Câmara da Serra, incluindo os quatro denunciados, e gravado por um dos participantes. Na conversa grampeada, são discutidas formas de recebimento da suposta vantagem ilícita, com menções explícitas a valores em dinheiro e à oferta de um terreno – como contrapartida pela aprovação do projeto de regularização fundiária.
O áudio foi analisado pela Polícia Civil, com perícia e cadeia de custódia preservadas. Inicialmente, a denúncia chegou ao MPES de forma anônima. Posteriormente, o então vereador Anderson Muniz – não reeleito em 2024 – entregou o material formalmente ao órgão. A coluna apurou que ele foi não só o denunciante como também o autor da gravação secreta da conversa comprometedora dos colegas, durante a tramitação do projeto.
A apuração do MPES também indica tratativas semelhantes em outros projetos relevantes, como o Plano Diretor Municipal (PDM), também de autoria da Prefeitura da Serra, e o Projeto de Lei nº 620/2025. De acordo com o MPES, isso sugere risco concreto de novas práticas criminosas e justifica o afastamento cautelar dos quatro vereadores agora denunciados.
Para o MPES, as condutas investigadas guardam relação direta com o exercício dos mandatos e evidenciam a necessidade do afastamento imediato dos parlamentares, a fim de resguardar a ordem pública, prevenir a reiteração delitiva e assegurar a integridade da instrução processual.
Quem apoiou quem no ano passado
Desde o início deste ano, Anderson Muniz, agora sem mandato, é supervisor do gabinete do líder do governo na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales). O líder do governo Casagrande é o deputado estadual Vandinho Leite (PSDB), que também tem reduto político na Serra.
Nas eleições municipais do ano passado, Anderson apoiou o ex-prefeito Audifax Barcelos (PP) para prefeito, diferentemente dos quatro denunciados (todos reeleitos). Saulinho, Cleber Serrinha, Teilton e Wellington Alemão, bem como os respectivos partidos, apoiaram Weverson Meireles (PDT), candidato do então prefeito Sérgio Vidigal à Prefeitura da Serra. Moreira também ficou no palanque de Werverson e Vidigal.
Outro lado
A coluna entrou em contato com todos os cinco acusados e deixou-lhes mensagens via Whatsapp, pedindo um posicionamento das respectivas defesas. Até o momento desta publicação, não houve nenhum retorno. Caso haja, o texto será atualizado.
