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Coluna Vitor Vogas

Ferraço: “Apoio de Casagrande a Marcelo é declaração de guerra”

Principal aliado de Vandinho Leite na disputa pela presidência da Assembleia diz que eventual vitória de Marcelo Santos representa “risco total” para o próprio Legislativo. Para Ferraço, “abuso” de Casagrande “explode” a Casa e empurra para a oposição ele mesmo e “quem tem vergonha na cara”

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Theodorico Ferraço. Foto: Assembleia Legislativa

Nestes turbulentos e decisivos dias de articulações visando à eleição da Mesa Diretora da Assembleia, o deputado Theodorico Ferraço (PP) consolidou-se, ao lado de Hudson Leal (Republicanos), como um dos principais aliados de Vandinho Leite (PSDB), candidato à presidência contra Marcelo Santos (Podemos).

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Inimigo visceral de Marcelo, Ferraço classifica como “desastroso” o movimento do governador Renato Casagrande (PSB) de declarar apoio e orientar sua base a votar no deputado do Podemos, em desfavor de Vandinho. E vai muito além.

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Em entrevista à coluna, fiel a seu estilo irascível e imprevisível (além de grande frasista), o mais velho deputado da próxima legislatura avalia que “o abuso” de Casagrande, em vez de pacificar a base e o plenário, vai “explodir a Assembleia”. “É uma provocação, uma declaração de guerra!”

Indicando já estar com um pé bem plantado na oposição ao atual governo, o pai do vice-governador Ricardo Ferraço (PSDB) afirma que o gesto de Casagrande está empurrando-o de vez para fora da base. Não só ele, aliás. “Eu e todo mundo que tem vergonha na cara.”

Ferraço afirma que Casagrande só pode estar sendo vítima de “uma coação irresistível” por parte do próprio Marcelo Santos – única hipótese que, para ele, explica a repentina declaração de apoio do governador ao atual vice-presidente da Assembleia. “Tem uma coisa muito estranha aí. […] Parece que houve um temporal dentro da Assembleia e dentro do Palácio Anchieta. E precisamos descobrir as causas meteorológicas disso.”

Ferração ainda afirma, categoricamente, que eventual chegada de Marcelo à presidência da Assembleia representará, para o Legislativo, “um risco total, em todos os sentidos que você pensa”.

Ele compara a atual intervenção de Casagrande em desfavor de Vandinho ao movimento do então governador Paulo Hartung em detrimento dele próprio, na eleição da Mesa Diretora em 2017, marco inaugural da “Era Erick Musso” na Assembleia. “É quase a mesma coisa.”

O experiente parlamentar ainda cobra uma satisfação de João Coser. Na semana passada, em áudio encaminhado pelo deputado do PT à militância do partido e publicado pelo portal Rede de Notícias, o petista indicou voto em Vandinho, “se as eleições fossem hoje”, e disse que a imagem de Marcelo “é muito comprometida”. Isso antes do posicionamento de Casagrande.

No dia 1º, por ser o deputado mais velho, Ferraço é quem presidirá a sessão de eleição da Mesa. Importante: o grupo dele e de Vandinho estuda alguma saída jurídica e legislativa para que o pleito seja realizado por voto secreto. O Regimento Interno da Assembleia e a Constituição Estadual determinam votação aberta e nominal. Questionado diretamente sobre isso, Ferraço se esquiva. Mas não exclui a possibilidade. “Não sei ainda quais serão minhas atitudes.”

Confira abaixo na íntegra a entrevista de Ferraço (no mínimo tão explosiva quanto ele considera o movimento de Casagrande):

O senhor está fechado com Vandinho e não abre?

Não tenho que abrir. O homem que veste calça comprida e assume compromisso tem que honrar até o final e acredito que aqueles que tinham compromisso com Vandinho vão honrar o compromisso e dizer ao governador: “Tudo ao rei, menos a honra”. Era compromisso do próprio governador não ter candidato. O que mudou? O que aconteceu? Precisamos apurar. Será que o governador está sendo vítima de uma coação irresistível?

Coação por parte de quem?

Por parte do Marcelo Santos. Tem uma coisa muito estranha aí. O deputado [João] Coser declarou que o Marcelo Santos não tem condições de presidir a Assembleia. Será que a palavra do Coser foi de brincadeira? Então, o governador deve sair desse circuito porque isso vai deixar uma ferida muito grande para a Assembleia.

Por que “uma ferida”?

É uma interferência muito grande e anormal. Ele [Casagrande] deu a palavra dele lá atrás, através do seu guru principal, o chefe da Casa Civil, Davi Diniz, de que ele não iria interferir nem pedir votos. E houve um acordo por parte de Vandinho de fazer uma chapa de conciliação. E de repente muda tudo! Parece que houve um temporal dentro da Assembleia e dentro do Palácio Anchieta. E precisamos descobrir as causas meteorológicas disso.

O senhor considera a interferência do governador Renato Casagrande dessa vez em favor de Marcelo e em desfavor de Vandinho pior do que aquela do então governador Paulo Hartung, em 2017, em detrimento do senhor, para eleger Erick Musso?

É quase a mesma coisa, com pouca diferença. Na minha época, foi uma vingança porque o governador não queria que eu, como presidente da Assembleia, tivesse colocado em votação o projeto de reforma administrativa do Tribunal de Justiça. Agora, a briga é misteriosa.

Vocês com certeza vão registrar chapa contra a chapa de Marcelo em 1º de fevereiro?

Claro! A chapa vai existir e já está pronta. Eram necessárias só sete assinaturas. Já temos 12. Agora, o que estou querendo é uma conciliação onde não haja vencidos nem vencedores.

Como isso pode ser viável?

O governo precisa chamar o Vandinho para uma nova conversa, e não impor um entendimento. E o deputado Coser precisa dar essa satisfação e dizer qual é a imoralidade que ele encontrou no deputado Marcelo Santos. Isso deixa uma ferida na história da política do Espírito Santo.

Em uma palavra, como o senhor avalia o movimento do governador em favor de Marcelo?

Desastroso.

Vandinho é presidente do PSDB no Espírito Santo e disse que considera o movimento do governador um desrespeito não só a ele mas ao vice-governador Ricardo Ferraço, também filiado ao PSDB. O senhor concorda?

Sobre o partido e o abuso que o governador está cometendo, posso falar que existe. Agora, quando colocam o nome do Ricardo Ferraço, me recuso a comentar qualquer assunto. Ele é vice-governador e eu sou deputado. Ele está cumprindo com suas obrigações de vice-governador e eu, com as minhas de deputado completamente independente. A minha incompatibilidade com o atual governo é muito maior do que se pensa.

O senhor pode ir para a oposição ao governo Casagrande? Aliás, já se considera oposição?

Eu me considero um deputado independente e que estou sendo empurrado para a oposição.

O senhor e outros mais?

Eu e todo mundo que tem vergonha na cara.

O senhor avalia que o gesto de Casagrande pode se revelar um tiro no pé, quer dizer, em vez de pacificar a base e a Casa, pode fortalecer a oposição ao governo na Assembleia bem no início do novo mandato?

Acho que essa é uma atitude que vai explodir a Assembleia, porque na Casa tem homens honrados e dignos, homens o bastante para mostrar que têm compromisso com a população e vergonha na cara, homens que não são capacho do governo e que não aceitam provocação indébita. Isso é uma provocação, uma verdadeira declaração de guerra! Com tanta gente em condições de presidir a Assembleia, por que escolher logo o seu Marcelo Santos, que, nas palavras do deputado Coser, não tem dignidade nem moral para ser presidente? O Coser tem que responder sobre isso.

O senhor, por ser o deputado mais velho, é quem vai conduzir a sessão da eleição da Mesa na próxima quarta-feira (1º). O senhor pensa em propor que a votação seja secreta? Há alguma possibilidade de isso acontecer?

Peço desculpas a você porque até o dia 31 eu sou apenas deputado. No dia 1º, eu assumindo a presidência, vou tomar as decisões na forma legal e moral, a favor do Espírito Santo. Mas não sei ainda quais serão minhas atitudes.

Marcelo Santos na presidência da Assembleia pode representar algum risco para a própria Assembleia?

Risco total.

Em que sentido?

Em todos os sentidos que você pensa.


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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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