fbpx

Coluna Vitor Vogas

Serra 40 graus: a fila de possíveis candidatos a prefeito contra Vidigal e seu grupo

Por que a esta altura Vidigal tem tantos potenciais adversários eleitorais, juntos (porém separados) no campo da direita bolsonarista? Coluna também analisa, um a um, os movimentos de Audifax, Vandinho Leite, Igor Elson, Thiago Carreiro e Muribeca, e por que este último tem incomodado mais que todos o prefeito…

Publicado

em

No sentido da leitura: Igor Elson, Pablo Muribeca, Vandinho Leite e Audifax Barcelos

Como em nenhuma outra cidade capixaba, a eleição do ano que vem na Serra já está tão quente quanto o asfalto de Jacaraípe ou as areias de Bicanga num dia de sol deste quase encerrado verão. Prematuramente deflagrado, o processo eleitoral de 2024 gira hoje em torno de uma dúvida e de uma grande certeza.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

A dúvida, abordada aqui no último domingo (12), é se o prefeito Sérgio Vidigal (PDT) vai disputar a reeleição em busca do quinto mandato ou se desta vez vai lutar para emplacar um sucessor. Na coxia, Vidigal trabalha com os dois cenários, enquanto oficialmente mantém o discurso de que a reeleição não está nos seus planos.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Já a grande certeza é a quantidade expressiva de adversários locais interessados em desafiar Vidigal e seu grupo político na cidade. A fila de potenciais candidatos de oposição vai de Carapina a Nova Almeida e inclui uma série de políticos de direita ou posicionados nesse campo no momento: o ex-prefeito Audifax Barcelos (sem partido), os deputados estaduais Pablo Muribeca (Patriota) e Vandinho Leite (PSDB), o vice-prefeito Thiago Carreiro (União Brasil) e o vereador Igor Elson (PL).

É claro que, até o pleito do ano que vem, dois ou mais desses aspirantes poderão unir forças – e alguns episódios já indicam essa possibilidade, como o evento em que Igor Elson assumiu a presidência do PL na Serra, com Muribeca e Carreiro sentados à mesa de autoridades. Mas hoje parece bem plausível que a eleição a prefeito da Serra seja marcada por uma pulverização de candidaturas contra a máquina.

Em disputas por cargos do Executivo, isso costuma ocorrer em duas circunstâncias. Ambas têm a ver com o mesmo ponto (expectativa ampliada de poder), sendo possível, se não provável, que uma das duas se confirme na Serra: ou o ocupante do cargo chega politicamente enfraquecido para encarar de novo as urnas, ou, precisamente por saber-se vulnerável, desiste de renovar o mandato e decide lançar um sucessor.

Em um caso ou no outro, não se tem um detentor de mandato com o domínio da máquina pública e forte a ponto de assustar e afugentar adversários. Não há um campeão temível plantado no centro do ringue, pronto para defender o título diante de qualquer oponente, o que anima os outros pugilistas a lutar para conquistar o cinturão.

Consciente disso, Vidigal avaliou (acertadamente), em entrevista à coluna no início deste mês, que o próprio Audifax viria discretamente trabalhando para incentivar a proliferação de pré-candidaturas.

Para os opositores, um grande número de concorrentes também é estrategicamente vantajoso porque tende a fracionar a votação total no maior colégio eleitoral do Estado, aumentando as probabilidades de eleição decidida em dois turnos. Ao mesmo tempo, o representante da oposição que avançar de fase contra o da situação detém um grande trunfo no segundo turno: os demais tendem a se unir em torno dele, num grande “todos contra a máquina”.

E esse “todos contra a máquina” já está nas ruas, com uma fila puxada, em termos de visibilidade, por alguém que já deu muito trabalho a Vidigal na Câmara da Serra.

Pablo Muriçoca

Eleito deputado estadual pelo Patriota em 2022, Pablo Muribeca é quem tem feito os movimentos mais ostensivos a fim de consolidar-se como pré-candidato a prefeito da Serra em oposição a Vidigal.

Na Assembleia Legislativa, ele já chegou mostrando a que veio: desde o início do mandato em fevereiro, sessão sim, sessão não, vai à tribuna para bater com contundência na administração do pedetista, sobretudo por um tema que foi sua principal bandeira na Câmara, transportada agora para o Legislativo estadual: superlotação das unidades de pronto atendimento (UPAs) da Serra.

Embora seja aliado (até o momento) do governo Casagrande, Muribeca transita no espectro da direita à extrema direita bolsonarista. Eleitores desse último campo, mais alinhados ideologicamente ao bolsonarismo, identificam-se muito com ele. Parte dessa simpatia na certa se deve ao seu estilo – um tanto histriônico nos discursos em plenário e bastante afeito ao uso das redes sociais.

Esse apelo exercido pelo deputado junto a esse segmento ficou patente num episódio recente.

Na sessão do dia 27 de fevereiro, as galerias da Assembleia ficaram lotadas por bolsonaristas por causa de um combo: em parte porque naquele dia foi votado projeto de interesse de militares (mudança nas regras de aposentadoria de PMs e bombeiros), em parte porque os deputados Assumção e Lucas Polese, ambos do PL, haviam convocado seguidores para apoiar a chapa deles pela presidência da Comissão de Direitos Humanos.

A claque festejou Muribeca tanto quanto ou até mais que os deputados do PL.

E o próprio deputado também dialoga bem com esse campo. Prova maior disso foi sua presença no já citado evento de posse do vereador Igor Elson como novo presidente do PL da Serra.

Fala, Tino!”

Pela soma desses fatores, é fato que, de todos os adversários, Muribeca é hoje quem mais incomoda Vidigal. Como diria Raul Seixas, o deputado hoje é a mosca que pousou na sopa do prefeito, ou, em vez de Muribeca, a muriçoca a lhe zumbir nos ouvidos.

O próprio Vidigal acusou isso (sentiu o golpe?) na já citada entrevista à coluna. Instado a se posicionar sobre alguns personagens políticos da Serra, o prefeito topou o pinga-fogo e, de fato, avaliou brevemente cada um dos nomes apresentados. Muito pouco se deteve sobre Audifax. Poucas linhas dedicou a Vandinho. Mas, diante do nome de Muribeca, alongou-se numa avaliação pontuada por críticas ao “modo bolsonarista de fazer política” do deputado, o qual, como tratou de repetir, não lhe agrada.

Vidigal chamou Muribeca de “personagem”, no que, a bem da verdade, não está de todo enganado. De fato, é visível que o deputado, no momento em que se posta à tribuna, incorpora, sim, um personagem, mudando bastante o jeito de falar (no volume da voz, no linguajar e até no sotaque), em contraste com seu jeito “normal”… isso para não mencionar o inseparável chapelão que não lhe sai da cabeça (mais fácil Gilvan da Federal abrir mão da bandeira no ombro…).

Todo político, em algum grau, exercita mesmo um quê de midiático e performático. Faz parte do jogo. E, como admite Vidigal, “deu certo para ele”. “O objetivo que ele tem ele acaba conquistando, mas não sei por quanto tempo…”, ressalva o prefeito.

Eis a questão. Se esse estilo que até agora tão bem funcionou para Muriço… desculpe, Muribeca em disputas parlamentares dará certo numa eleição majoritária, é cedo para dizer. Mas o fato é que ele pode vir forte apostando nesse estilo, nesse personagem popular numa cidade de população operária e nessa grande faixa de eleitores conservadores e de direita da Serra.

Xambinho & Saulinho X Muribeca

Também fruto desse incômodo gerado por Muribeca a Vidigal e aliados do prefeito, foi emblemático o episódio em que o deputado Xambinho (PSC), hoje aliado de Vidigal, foi à tribuna da Assembleia para rebater as críticas de Muribeca sobre as UPAs da Serra.

Ainda mais sintomático foi o fato de, na mesma semana, Muribeca ter sido literalmente expulso do plenário da Câmara da Serra pelo vereador e presidente da Casa, Saulinho da Academia (correligionário dele no Patriota, mas aliado de Vidigal).

Ao lado do agora secretário de Cultura, Turismo e Esporte da Serra, Philipe Lemos (PDT), Xambinho e Saulinho são cotados como possíveis sucessores de Vidigal.

Vandinho Leite

Tendo aumentado a sua votação para a Assembleia da penúltima eleição (2018) para a última (2022) e batido na trave na última disputa interna pela presidência do Legislativo estadual, o experiente deputado já foi candidato a vice-prefeito de Vidigal, derrotado por Audifax, em 2016; quatro anos depois, candidatou-se pela primeira vez a prefeito, pelo PSDB, e por pouco não passou para o segundo turno.

Agora, o presidente estadual dos tucanos está muito mais afastado de Vidigal e, diametralmente, mais próximo de Audifax na Serra, como ele mesmo trata de indicar – apesar de Vidigal ser grande aliado do governador Renato Casagrande (PSB) e de o PSDB comandado por Vandinho ser um sócio destacado do governo do socialista, com Ricardo Ferraço na Vice-Governadoria.

Vandinho não admite pré-candidatura, mas por certo está nesse caldo da direita conservadora serrana, fragmentada mas unida, para fazer frente ao grupo de Vidigal. Aliás, nascido há cerca de duas décadas na maternidade política de Magno Malta – com quem depois rompeu, algo comum na trajetória do senador –, Vandinho é mesmo, genuinamente, evangélico, conservador, de direita etc. Sob sua tutela, o PSDB no Espírito Santo adquiriu muito mais esse viés ideológico.

Contudo, nos últimos anos, o deputado decidiu apostar tudo, ou radicalizar mesmo, na agenda do ultraconservadorismo nos costumes. Na última eleição, ele chegou a anunciar que passaria dias em jejum e oração – pouco provável para um candidato que precisava bater perna nas ruas.

Agora, na Assembleia, chegou para o novo mandato concentrado em pautas comportamentais que rendem mídia e visibilidade a partir da polêmica, mesmo que os episódios tenham ocorrido em outros estados – “ideologia de gênero”, show da MC Pipokinha, drogas e “redução de danos” para usuários, pessoas trans em competições esportivas e por aí vai…

Sem entrar no mérito dos debates, aí também entra aquele quê performático, de surfar em determinada onda mirando em determinado nicho. Vandinho na certa concluiu que para ele tem dado certo e é por aí mesmo que vai seguir… inclusive de olho em 2024.

Vandinho & Audifax

Vandinho não dá ponto sem nó. Em entrevista a este espaço, antecipou convite a Audifax para que o ex-prefeito se filie ao PSDB.

As chances de isso se concretizar podem ser consideradas remotas, pois, como dito acima, o PSDB está no governo Casagrande, maior aliado de Vidigal. Além disso, as siglas de governador e prefeito, respectivamente PSB e PDT, estão em tratativas nacionais sobre a formação de uma federação. Ora, se isso se confirmar, Vidigal ou o candidato ungido pelo prefeito dificilmente deixará de ser o candidato do Palácio Anchieta na Serra.

De todo modo, ao anunciar que gostaria de filiar Audifax ao PSDB, Vandinho passa o seu recado e marca posição no território oposto ao de Vidigal na Serra.

Igor Elson

O novo presidente do partido de Jair Bolsonaro na Serra tem dito que o PL certamente terá candidato a prefeito da cidade. O nome desse candidato ele não diz, mas claro está que só pode ser o próprio. E suas movimentações nesse sentido já foram inauguradas.

A estratégia segue a fórmula clássica consagrada pelo bolsonarismo: polêmica que gera repercussão nas redes sociais, que gera críticas e reações contrárias de segmentos ofendidos, que gera cobertura da imprensa profissional, que gera desmentido e pedido enviesado de desculpas, que faz muito pouca diferença pois o objetivo maior já foi cumprido e a visibilidade de qualquer maneira foi alcançada.

Exemplo muito bem-acabado foi a fala homofóbica de Igor Elson no seu evento de posse, diante de Magno Malta, Thiago Carreiro, Muribeca e, principalmente, correligionários do PL.

Dois dias depois, diante de protestos indignados de movimentos sociais, o vereador disse à imprensa que foi mal interpretado, que a crítica era só para a prefeitura etc. O teor da fala foi inequivocamente ofensivo e discriminatório, mas (1) a estratégia foi bem-sucedida e (2) fez sucesso junto ao seu nicho, haja vista os aplausos recebidos da plateia bolsonarista no evento.

Não é para os movimentos sociais nem para a minoria LGBT que ele está falando, mas para esse nicho do eleitorado, o qual, afinal, é o nicho no qual também ele deseja se estabelecer e navegar eleitoralmente.

Thiago Carreiro

Rompido com o prefeito Vidigal, o vice-prefeito divide espaço com os prefeitáveis citados anteriormente no lado direito do mapa político, porém segue uma linha mais “empreendedor e liberal na economia”, ou seja, está mais na ala Paulo Guedes do bolsonarismo – mais próximo no Espírito Santo à linha de Felipe Rigoni, de quem por sinal é amigo.

Rigoni é presidente estadual do União Brasil, o partido de Carreiro, resultante da fusão do DEM com o PSL, ex-legenda de Bolsonaro.

Diferentemente dos outros adversários de Vidigal, os movimentos do vice-prefeito são mais abertos: à coluna, ele admite que existe, sim, a possibilidade de ser candidato a prefeito.

Coincidência ou não, o deputado estadual Denninho Silva, também do União Brasil, usou a tribuna dia desses para criticar pesadamente Vidigal, chamando-o até de “fanfarrão” e dizendo que agora está unido a Muribeca na fiscalização das UPAs e de Prefeitura da Serra.


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui