fbpx

Coluna Vitor Vogas

Rose de Freitas: nem Lula nem Bolsonaro

Senadora critica Paulo Guedes, diz não apoiar nem o atual presidente nem o ex, mas também mantém ressalvas à construção da terceira via

Publicado

em

A paciência da senadora Rose de Freitas (MDB) com o ministro da Economia, Paulo Guedes, se esgotou. E, na eleição presidencial, ela não apoia nem Lula (PT) nem Bolsonaro (PL). Mas também mantém reservas críticas à construção que vem sendo feita em prol de uma candidatura da chamada “terceira via”. É o que se pode concluir das manifestações de Rose em discurso realizado em evento do Sindiex, no último dia 18, e em entrevista à coluna.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

“Alguém perguntou qual é o projeto do Bolsonaro? Ninguém perguntou. Vamos eleger o Lula de novo? Nós nos elevamos a um patamar de ter que escolher o menos ruim. […] Se olhar o patamar da discussão política para se eleger o presidente do Brasil, eu confesso para os senhores que eu sinto uma certa angústia dentro do meu peito”, exteriorizou Rose, no discurso diante de empresários do setor de comércio exterior.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Na entrevista à coluna, a senadora, que é pré-candidata à reeleição, confirmou que não pretende votar nem em Lula nem em Bolsonaro: “Não, hoje não. Estou num debate nacional de pensar o Brasil coletivamente”.

Para ela, nem o atual nem o ex-presidente são a opção ideal para o país neste momento: “Exatamente. O ideal seria nós construirmos um debate nacional em que se fale do país, porque o país está na retórica do discurso do Lula e está na pontuação atual do governo do Bolsonaro. Ele coloca: ‘Olha o que eu estou fazendo, como eu estou agindo’. Mas ele não diz que nós ainda estamos com uma crise de desemprego, nós estamos com um problema de fuga de capital, não temos investimentos chegando no Brasil, estamos perdendo investimentos.”

A propósito da crise econômica, Rose entra na crítica ao ministro (alguém ainda tem coragem de o chamar de “superministro”?) da Economia, Paulo Guedes. No discurso para empresários do ramo de exportações, a emedebista o chamou de “ministro solitário”:

“O Brasil precisa ser democraticamente aperfeiçoado, mas não com a ideia de um solitário ministro da Economia, dentro de sua sala, dizendo o que vai fazer amanhã no Brasil.”

Na entrevista ela foi mais direta, sem dar margem a dúvida de que “solitário” foi um eufemismo para “individualista”:

“Ele [Bolsonaro] pega o que ele fez de bom, que foi a entrega de recursos para os estados e municípios, mas tem que ter um planejamento. O país não planeja mais. Em lugar nenhum do governo você tem uma proposta. Você conhece alguma proposta do ministro Paulo Guedes? Pode faltar um projeto para você, para mim e tal, mas tem que ter alguém que, imbuído desse superministério, reflita sobre a situação do país. Falta a ele iniciativa de compreender a importância do debate nacional. Ele é individualista.”

Sobre a candidatura da tão alardeada “terceira via”, a senadora, no discurso, classificou-a como “um sonho” – mas um sonho por enquanto restrito a “um grupo parado num canto”.

Na entrevista, questionamos Rose se uma candidatura unificada da “terceira via” teria sua preferência. A preços de hoje (e é bom reforçar: de hoje), o nome que desponta com mais força é o da senadora Simone Tebet, correligionária de Rose, não em termos de densidade eleitoral, mas de convergência política, principalmente depois da desistência de João Doria (PSDB) e do apoio declarado pelo Cidadania.

Mas Rose não chega a manifestar apoio nem adesão à colega na bancada feminina do MDB no Senado. Na verdade, também vê com olhar crítico essa pré-candidatura, definida por ela como “estreita” e também “solitária”:

“Estou num debate nacional. O meu partido tem uma candidata, a Simone, com dificuldade de evoluir, muita dificuldade. A gente espera que haja uma organização do pensamento nacional. É difícil, porque todo mundo se esqueceu de falar do Brasil. Aquilo que eu critiquei serve também aos postulantes ao cargo de presidente. Eu acho que a Simone pode até se manter de pé, mas por enquanto ela está solitária também.”

Indagada se um candidato da terceira via teria o seu apoio, ela afirma que Simone Tebet precisa ampliar sua “visão de Brasil”: “Política é um ato coletivo. Não é individual. Não basta querer ser presidente da República. Tem que conquistar a sociedade com debate, que é o que importa ao Brasil hoje. Ela [Simone Tebet] está se posicionando no MDB. Evidentemente eu espero que ela se posicione em outras frentes para poder ampliar a visão que ela tem de Brasil. A visão que ela está colocando está muito estreita para esse Brasil que procura outro caminho.”

Pedido disfarçado

Ao desfechar seu discurso para empresários, Rose fez um pedido de votos disfarçado (mas não muito):

“A gente não pode pedir voto, não. Já estou sabendo. Não sou muito obediente, não. […] Tancredo dizia que a gente entra na política pelas mãos dos amigos e permanece pelas dos inimigos. Não é o meu caso. Mas pensar que alguém pode se sentar naquela cadeira e não ter a capacidade de se harmonizar com o Estado e de entrar para dentro do governo, em cada sala, representar o pensamento do meu Estado em primeiro lugar […], não dá: seria trair a minha história.”

Sobre Casagrande

Ainda no discurso, Rose fez um comentário que deve ter feito o governador Renato Casagrande (PSB), a poucos metros do palanque, remexer-se na cadeira: “Renato Casagrande é o melhor governador do mundo? Não. Ele é o governador do diálogo”.

Muitos presentes se entreolharam e ficaram se perguntando se a intenção era elogiar.

“Confiança em Renato”

Trabalhando para ser a candidata ao Senado na chapa de Casagrande, Rose reiterou, na entrevista, sua confiança no governador:

“Tenho ajudado e colocado em Renato toda a confiança que eu tenho de que ele pode continuar, deve continuar, tem passos importantes para dar também para a frente. Agora, sou parceira de primeira hora dele, busco recursos. Estamos trabalhando o tempo todo. Eu nunca sentei e fiz a pergunta ‘Ô, Renato, você vai me apoiar?’ Nunca fiz. Acho que isso é uma questão coletiva. Os municípios falam muito com ele sobre isso. E vai chegar o momento em que ele vai tomar a decisão dele.”

“Posso pensar na vida”

Mas em entrevista anterior à coluna, no início deste mês, Rose chegou a insinuar que, se Casagrande não acreditar nela (para a reeleição) como ela acredita nele, ela pode procurar uma alternativa: “Aí eu posso pensar na vida, não posso?”

Conversas com o PT

Rose revela que já conversou sobre eleições com o deputado federal Helder Salomão (PT) e com o ex-prefeito de Vitória João Coser, vice-presidente estadual do PT.

Rose na chapa de Contarato?

Se ela pode migrar para a chapa majoritária do PT a ser encabeçada por Fabiano Contarato? Ela responde de maneira sugestiva: “Sou ainda, neste momento, aqui e agora, Casagrande”.


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.