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Coluna Vitor Vogas

O que separa Monjardim de Gilvan e o que o aproxima de André Moreira

Substituto de Gilvan na Câmara de Vitória assumiu o mandato chamando mais a atenção pelas semelhanças com o seu antecessor. Mas aos poucos as diferenças entre os dois começam a sobressair, inclusive na relação com adversários

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Da esquerda para a direita: Gilvan da Federal, Leonardo Monjardim e André Moreira

“Projeto bom vai ter meu voto. Se o projeto fosse do PSol e fosse projeto bom, teria meu voto do mesmo jeito. Hoje tenho pautas conservadoras, mas a esquerda não é minha inimiga. Tenho relação respeitosa com todos.”

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É impossível imaginar a declaração acima no discurso de Gilvan da Federal (PL). De forma paradigmática, ela foi dada ao autor da coluna, na semana passada, pelo sucessor de Gilvan na Câmara de Vitória, o vereador Leonardo Monjardim (Patriota).

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Eleito em 2020 para seu primeiro mandato político, Gilvan chegou à Câmara em janeiro de 2021 e permaneceu por quase dois anos. Em 12 de dezembro passado, foi cassado pelo TRE-ES por infidelidade partidária. Uma semana depois (19), no mesmo tribunal, foi diplomado deputado federal. No dia seguinte (20), fez seu discurso de despedida na Câmara.

Seu substituto, Monjardim, chegou à Casa chamando a atenção e expressando algumas similitudes com Gilvan, principalmente nas pautas escolhidas e no público que busca atingir. Seu primeiro projeto de lei foi o “Escola sem Partido”, variação do “Infância sem Pornografia”, um dos primeiros apresentados por Gilvan quando chegou à Câmara.

No entanto, passados três meses de atuação plenária, algumas importantes diferenças entre os dois começam a se destacar das semelhanças, no estilo, no comportamento e na maneira de encarar a política, como prova a declaração acima.

Gilvan passou quase dois anos repetindo da tribuna da Câmara que “com a esquerda não tem diálogo”, “com petista não tem conversa” (estou parafraseando). Eram praticamente seus bordões. Agora chega Monjardim dizendo que “a esquerda não é sua inimiga” e que tem “relação respeitosa com todos”. Não poderia soar mais contrastante.

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Embora tenha sido o seu substituto imediato, Monjardim está longe de ser um fanático como Gilvan. Condenado a uma visão binária, o agora deputado federal só enxerga o mundo político em duas cores, dividindo-o em uma direita pretensamente impoluta e “comunistas” supostamente abjetos.

Estrategicamente, o novo vereador está buscando, sim, preencher o vácuo político deixado por Gilvan no campo da direita na Câmara. E, até certo ponto, está flertando com a extrema-direita tão arraigada em Gilvan (nas honrarias a Olavo de Carvalho que chegou propondo, por exemplo). Mas só fará esse movimento até determinado limite.

Ao contrário do antecessor, Monjardim mantém uma relação cordial e civilizada com a imprensa e, principalmente, com adversários políticos – os quais, como disse acima, não considera “inimigos”, o que, por si só, consiste em diferença abissal em relação a Gilvan.

Pelo que apurei, o vereador do Patriota não pretende entrar em temas altamente sensíveis como direitos de minorias identitárias, muito menos se pôr a destilar preconceito, homofobia e misoginia da tribuna. Tampouco tem a intenção de ficar a gritar “comunismo”, em misto de histeria e paranoia, diante de qualquer pauta, argumento ou interlocutor de esquerda. Marcará posição, sim, no campo da “direita conservadora”, mas elevando o nível do debate.

Professor de Direito e de Contabilidade Fiscal, além de escritor e empresário, Monjardim teve passagens por partidos e por um governo de esquerda, antes de se converter ao conservadorismo de direita e se filiar ao Patriota (segundo ele, em 2018).

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Muito antes de o PTB virar um partido radical de direita, ele foi filiado à sigla, em meados dos anos 2000. Na eleição municipal de 2004, foi candidato a vereador pelo Partido dos Aposentados da Nação (PAN), sigla nanica incorporada ao PTB em 2006. Na administração de João Coser (PT), foi secretário-executivo da Lei Rubem Braga e subsecretário municipal de Cultura (interino).

Diz não se lembrar se nessa época chegou a se filiar ao PT. “Mas acho que não me filiei.” Na verdade, não só se filiou como disputou pelo PT uma vaga na Câmara de Vitória em 2008. Ficou como suplente do partido.

Depois disso, ele foi presidente do PDT em Vitória e candidato a vereador pelo partido de centro-esquerda em 2016 (não eleito).

Para o vereador, seu passado na esquerda é página virada, mas a mudança de linha ideológica não o impede de cultivar boas relações com colegas e adversários de esquerda, incluindo André Moreira (PSol), com quem tem travado intensos debates em plenário e até na Justiça – sendo o melhor exemplo disso a discussão em torno do Escola sem Partido.

A ótima relação pessoal dos dois remonta aos tempos colegiais. Moreira (1,82m) e Monjardim (1,94m) cresceram jogando basquetebol juntos – ou melhor, um contra o outro –, em equipes infantis e juvenis, dos 11 aos 18 anos. O hoje psolista jogava no time do Salesiano, enquanto o hoje patriota defendia as cores do Saldanha da Gama (predomínio do vermelho, a propósito). Os dois tiveram mais de um técnico em comum.

Até agora, só não propuseram juntos uma homenagem na Câmara a um desses antigos treinadores por causa das rivalidades em plenário. Mas pode ser que ainda aconteça.

Atualização

As informações sobre a filiação pretérita de Monjardim ao PT e sobre sua candidatura a vereador pelo partido em 2008 não constavam na publicação original desta coluna. O próprio vereador, em entrevista a este espaço, omitiu tais informações. Elas foram acrescentadas posteriormente, a partir de uma busca no site do TSE, que comprova a candidatura de Monjardim pelo Partido dos Trabalhadores em 2008.


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