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Coluna Vitor Vogas

Gandini anuncia: “Não faço mais parte da base do governo Casagrande”

Arrogando-se “total independência” na nova legislatura, deputado do Cidadania afirma: “Vou partir para um mandato cada vez mais autônomo. Isso já é uma decisão tomada. Não tenho mais conexão alguma com o projeto do governo”. Leia a entrevista completa

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Deputado Fabrício Gandini no plenário da Assembleia. Foto: Lucas S. Costa/Ales

Protagonista de uma surpreendente rebelião parlamentar contra o governo Casagrande no plenário da Assembleia na manhã de ontem (16), o deputado Fabrício Gandini vai além em entrevista à coluna e anuncia: “Não faço mais parte da base”.

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Presidente estadual do Cidadania, partido federado com o PSDB e integrado à coligação de Casagrande em 2022, Gandini é um antigo aliado do governador. Em 2014, foi candidato a vice-governador na chapa de Casagrande, derrotado por Paulo Hartung naquele pleito. Em seu primeiro mandato na Assembleia, de 2019 a 2022, o ex-vereador de Vitória foi um aliado importante do governo no plenário, presidindo a poderosa Comissão de Justiça. 

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Para o novo mandato, porém, Gandini chega decidido a manter postura bem diferente em relação ao governo. Arrogando-se “total independência”, afirma: “Vou partir para um mandato cada vez mais autônomo para fazer com que algumas pautas avancem. Isso já é uma decisão tomada. Não tenho mais conexão alguma com o projeto do governo”.

Segundo o deputado, o governo Casagrande não tem mais diálogo algum nem com ele nem com o Cidadania desde as eleições passadas. Esse afastamento ajuda a explicar a sua guinada política, mas há mais.

> A Revolta da Bolsa: base de Casagrande se rebela e impõe derrota ao governo na Assembleia

Reeleito com dificuldades em outubro, Gandini explica que está buscando compreender o recado das urnas e em busca de um novo caminho para dar seus próximos passos políticos. Concluiu que precisa se reposicionar no tabuleiro ideológico brasileiro: 

“Nunca me classifiquei nem como direita nem como esquerda. Mas está ficando difícil ser de centro. O centro, que é a nossa origem, está ficando encurtado. Hoje é preciso ter lado.”

Confira a entrevista do agora dissidente da base governista na Assembleia: 

Ontem o senhor pegou o governo de surpresa apresentando, em plenário, uma emenda a um projeto enviado na véspera pelo Palácio Anchieta e batendo de frente com os representantes do governo em plenário. Foi uma manifestação pontual ou o senhor pretende mudar sua postura em relação ao governo Casagrande nesse novo mandato na Assembleia?

A palavra certa é “independência”. Hoje me julgo um deputado independente e vou discutir tema a tema na Assembleia, sempre com respeito. Vou ampliar as discussões sobre algumas áreas em que infelizmente não estou conseguindo ver avanços, principalmente na questão ambiental, onde o governo tem patinado muito. A Cesan, por exemplo. Na questão do esgoto no Estado, a gente tem percebido uma redução, inclusive no ranking nacional. Nos últimos quatro anos, vim tentando ao máximo através do diálogo, mas não está adiantando. As coisas não estão melhorando como deveriam. Vou partir para um mandato cada vez mais autônomo para fazer com que essas pautas avancem. Isso já é uma decisão tomada. Não tenho mais conexão alguma com o projeto do governo.

O que o senhor está chamando de “projeto” do governo?

A gente não faz mais parte do projeto do governo, até porque a gente não discute mais nada em conjunto. O Cidadania não é mais chamado para nenhuma discussão de políticas públicas. Então decidi que vou tocar o mandato de forma mais independente. Inclusive, devo pedir a saída do Cidadania do bloco parlamentar, logo após o carnaval.

O senhor não se considera mais integrante da base do governo? 

Isso. Não faço mais parte da base.

E o Cidadania? Está ou não está no governo?

O Cidadania já não tem nenhuma discussão partidária com o governo há algum tempo. A última, já na federação com o PSDB, foi em julho do ano passado, para discutir Ricardo Ferraço como candidato a vice-governador. 

O que explica essa “esfriada” na relação após o processo eleitoral? Durante a campanha, o senhor apoiou mesmo a reeleição de Casagrande? Chegou a declarar apoio?

O Cidadania todo apoiou. Como deputado, meu apoio foi para ele. E o Cidadania integrou a coligação, na federação com o PSDB. 

Mas o senhor chegou a pedir votos para o governador, fazer campanha para ele? 

Sim. A aliança era e sempre foi com Casagrande. Mas acho que o Cidadania hoje não está sendo respeitado. Já que foi praticamente incorporado ao PSDB, eles preferem dialogar com o PSDB. Se bem que acho que também não estão conversando muito bem com o PSDB…

Nessa sua decisão e especificamente na “rebelião” ontem em plenário, qual foi o peso da exoneração de Anael Parente do cargo comissionado que ocupava na Secretaria de Estado de Esportes? O ex-líder comunitário de Jardim Camburi, seu reduto, é um aliado histórico do senhor, e foi exonerado pelo novo secretário, o petista José Carlos Nunes. As duas coisas estão relacionadas?

Nenhuma relação. Inclusive, convidei três pessoas que estavam no governo para o meu gabinete na Assembleia. A minha decisão de independência já é uma decisão tomada. Estamos nos afastando do processo, até para ter mais tranquilidade para tomar as decisões, como a que eu tomei ontem em plenário. Esse argumento [sobre Anael] é uma forma de tentarem desqualificar uma conquista que tivemos em plenário [a aprovação da emenda]. Isso nunca interferiu e nunca interferirá em minhas decisões. Se alguém tomou alguma decisão motivada por isso, não fui eu. Ao contrário. Minha clareza é muito grande sobre a decisão que estou tomando. O governo não tem mais nenhuma relação nem com o Cidadania nem com o meu mandato há muito tempo. 

E seus próximos passos? O que podemos esperar do deputado Gandini daqui para a frente? 

Total independência, aprofundando as discussões temáticas importantes que já venho fazendo, como a do esgoto. Esperei todas as composições na Assembleia para ter uma decisão mais clara sobre minha posição em relação ao governo. E estou onde eu queria estar: na presidência da Comissão de Proteção ao Meio Ambiente, além de ser o vice-presidente da Comissão de Educação e da Comissão de Cultura. Inclusive, uma coisa que foi pouco falada: na sessão de ontem, como relator na Comissão de Educação, pedi vista de outro projeto do governo, que muda a composição do Conselho de Educação. Te desafio a ligar para qualquer deputado e perguntar do que é que trata esse projeto. Vou me valer do prazo para relatar. 

Depois de ter se insurgido em plenário, o senhor na certa será chamado por emissários do Palácio Anchieta para conversar, recompor, reagrupar, se é que já não foi. A sua decisão tem volta?

Não. E não é que não tenha diálogo. É claro, do jeito que está hoje, não tem mesmo. Mas, se o governo quiser discutir com o Cidadania, tem o coletivo do partido para discutir. Isso no âmbito partidário. Como deputado, tomei minha decisão de fazer um mandato com total independência. Estou amadurecendo isso há meses, compreendendo também o que a urna me falou.

E o que foi que a urna lhe falou? 

Entendo que houve uma polarização muito grande, é óbvio. Mas preciso achar um caminho de discussão política. E neste momento estou fazendo uma reflexão forte sobre isso. A política brasileira se polarizou e precisamos ter posição. Hoje o pior dos mundos é não ter posição sobre as questões. Nunca me classifiquei nem como direita nem como esquerda. Mas está ficando difícil ser de centro. O centro, que é a nossa origem, está ficando encurtado. Hoje é preciso ter lado.

E qual é seu lado hoje? Como o senhor se posiciona do ponto de vista ideológico?

Estamos fazendo reflexões, enxergando de onde vem o meu eleitor, com quem me comunico melhor. Do ponto de vista de princípios e valores, estou muito alinhado… Não utilizo e nunca utilizei  igreja para nada, mas tenho meus princípios cristãos.

Veremos um Gandini politicamente mais conservador? 

Com certeza, do ponto de vista cristão, não vou abrir mão dos meus valores. Mas ainda vou me posicionar.


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Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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