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Coluna Inovação

Com IA ou sem IA, resolver problema complexo tem que ser fora da caixa

Mesmo com o avanço da inteligência artificial, a resolução de problemas complexos continua sendo uma habilidade essencial e profundamente humana

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Na era da IA, a resolução de problemas complexos ainda exige pensamento humano fora da caixa. Foto: Freepik

Na era da IA, a resolução de problemas complexos ainda exige pensamento humano fora da caixa. Foto: Freepik

Segundo o Fórum Econômico Mundial, a habilidade, ou soft skill,  mais importante que teremos de desenvolver para obter êxito na quarta revolução industrial(parece que a IA está inaugurando a quinta) é a resolução de problemas complexos. Como se faz isso? Se seguirmos o caminho óbvio, a sequência de passos será: analise as causas do problema/crie alternativas/avalie as melhores soluções/implemente o plano/avalie a eficácia. Porém, quando o assunto é resolução de problemas complexos estamos falando em lidar com situações nas quais soluções conhecidas não se aplicam e para as quais os algoritmos de IA ainda não foram treinados. Aliás, IA não sabe resolver situações imprevistas.

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Na minha vida profissional apareceram muitos problemas com essa característica de complexidade e eu diria que as etapas óbvias citadas, embora sempre importantes,  raramente têm essa fluidez. Os problemas complexos podem vir de uma crise ou de uma grande oportunidade a resolver. Nas crises, o pau está quebrando e você tem que agir sem informação adequada, sem tempo, sem recursos e muitas vezes sem apoio. Rememorando situações desse tipo que vivi, os aspectos que mais impactam no surgimento do problema e na sua solução envolvem gente. Alguém entendeu mal, agiu errado, precipitado, desleixado, por incompetência, falta de informação, planejamento ou treinamento(até os algoritmos podem alucinar e fazer bobagem).

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Herdamos de nossos ancestrais uma grande facilidade em aprender quando estamos assustados, lembra Daniel Kahneman no best seller Rápido e Devagar.

Quando o bicho pega e o problema cai no seu colo, a primeira coisa a fazer é ouvir, ouvir, ouvir. Já convivi com pessoas que não ouvem ninguém ou ouvem um e passam a agir imediatamente com assertividade, sem atentar para a frase famosa do jornalista H.L. Mencken: “para todo problema complexo existe uma solução simples, rápida e … errada”. As raposas políticas gostam de dizer que ficam roucos de tanto ouvir e muitas vezes é melhor não se precipitar e deixar o problema decantar. O travesseiro costuma reduzir muitos deles. A primeira-ministra britânica Margareth Thatcher dizia que aprendera uma coisa na política: você não toma uma decisão até que seja necessário.

Quando você ouve muito, passa a perceber qual é verdadeiramente o problema, que chega a você na forma de crise. Os métodos disseminados pelos programas de qualidade no final do século passado continuam relevantes para procurar a causa fundamental do problema, para estancar a sua origem em lugar de atuar nas consequências e para girar o PDCA para corrigir.

Os treinamentos em negociação dão as dicas quando o problema envolve pessoas ou grupos de áreas distintas da empresa ou ainda entre empresas em conflito. Ouvindo muito vai dar para perceber as verdadeiras motivações. A primeira coisa a fazer é identificar os pontos de concordância, tirando-os da discussão e despoluindo o ambiente. Depois descubra os pontos mais sensíveis que cada lado não quer abrir mão. Por fim, se tiver de arbitrar dando razão a um dos lados, é fundamental dar uma saída honrosa para o perdedor, ensinava o Dr. Tancredo Neves.

A habilidade para resolver problemas complexos, de crise ou oportunidade,  passa por uma grande dose de criatividade, muitas vezes reduzida ao etéreo e vago “pensar fora da caixa”. Para isso é preciso conhecer o mundo fora da caixa. Ajuda muito aprender sempre, observar muito, associar visões diferentes, manter um network diverso, transitar por campos diferentes da cultura. A IA pode ajudar a levantar possibilidades. O grande problema da atualidade é o de não só aprender sempre, a vida toda, mas aprender rápido. A explosão de novidades é avassaladora.

Não é fácil identificar essa capacidade de resolver problemas complexos no recrutamento de um novo empregado. Na maioria das vezes isso só aparece na prática. O grande movimento atual para ampliar a diversidade dentro das empresas certamente ajudará muito a entender outros modos de pensar e agir, a pensar o mundo complexo fora da caixa onde cada um nasceu, viveu e moldou seu pensamento.

Evandro Milet

Evandro Milet é consultor, palestrante e articulista sobre tendências e estratégias para negócios inovadores. Possui Mestrado em Informática(PUC/RJ) e MBA em Administração(FGV/RJ). É Conselheiro de Administração pelo IBGC, Membro da Academia Brasileira da Qualidade-ABQ, Membro do Conselho de Curadores do Ibef/ES e membro do Conselho de Política Industrial e Inovação da Findes. Foi Presidente da Dataprev, Diretor da Finep e do Sebrae/ES, Conselheiro do Serpro e Banestes. Tem extensa atuação como empresário, executivo e consultor em inovação, estratégia, gestão e qualidade, além de investidor e mentor de startups, principalmente deeptechs. Tem participação em programas de rádio e TV sobre inovação. É atualmente Presidente do Cdmec-Centro Capixaba de Desenvolvimento Metal-Mecânico.

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