Coluna Vitor Vogas
Entrevista (Audifax Barcelos): “Redefini e estou indo para outro campo”
Embora não admita, ex-prefeito é mais pré-candidato que nunca a prefeito da Serra. Para isso, filiou-se no sábado (2) ao PP, partido de direita, completando uma guinada ideológica e buscando se reinventar, após décadas filiado a partidos de esquerda. “Não é narrativa: sou um conservador.” Confira a primeira parte da entrevista

Audifax Barcelos é pré-candidato a prefeito da Serra. Foto: André Toscano
O ex-prefeito Audifax Barcelos acaba de se filiar ao PP (Progressistas), firmando os pés de uma vez por todas no campo da direita conservadora. Ele não se assume como pré-candidato a prefeito da Serra, mas todos os seus gestos e declarações indicam o contrário: está mais firme que nunca na disputa eleitoral da Serra e pretende, sim, buscar o seu quarto mandato contra o atual prefeito, Sérgio Vidigal (PDT), o deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos) e quem mais vier.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
Além de o manter bem vivo na próxima eleição municipal, esse movimento representa a consolidação de uma guinada por parte de Audifax, como ele mesmo, ao seu modo, confirma na primeira parte de sua entrevista à coluna, que você pode ler abaixo. Com essa filiação ao PP, Audifax completa um giro de 180 graus do ponto de vista ideológico em sua longa trajetória política, marcada por três mandatos na prefeitura da Serra. “Redefini e estou indo para outro campo. Não é narrativa: sou um conservador.”
Segundo Audifax, sua filiação e sua história política no PDT, no PSB e até na Rede Sustentabilidade se deram muito mais por uma questão pragmática e circunstancial que propriamente por identidade ideológica. “As escolhas desses três partidos, não estou dizendo isso da boca para fora, estou dizendo a verdade para você e para quem está lendo, foi nesse aspecto. Não foi no aspecto ideológico. Nunca foi. Quem estava do meu lado sabe disso.”
Vamos à entrevista:
No concorrido evento de sua filiação ao PP, no último sábado, o clima foi todo de lançamento da sua pré-candidatura. O presidente estadual da sua nova sigla, Da Vitória, falou que o senhor será o candidato do PP a prefeito da Serra. Só faltou mesmo o senhor se declarar pré-candidato em público. O senhor é pré-candidato?
O que fizemos no sábado foi uma filiação partidária, um passo importante. Nesta nova fase da minha, fiquei muito feliz com a decisão que tomei. Estou muito empolgado, muito feliz, bem de saúde, com a cabeça bacana, com muita energia e muita força. Quero trabalhar e ajudar na construção partidária, com minha experiência. Mas a decisão foi de fazer uma filiação partidária. Passos do ponto de vista de candidatura ou não candidatura vão se dar mais à frente. Vamos conversar com o partido e com outros partidos. Vamos ouvir a cidade, lideranças comunitárias, empresariais, eclesiásticas e a classe política da cidade. Fiquei feliz com a postura do Da Vitória. Agradeço muito a ele, pois me senti honrado e privilegiado. Mas a filiação partidária é um primeiro passo.
Por que o senhor optou pelo PP neste momento da sua trajetória?
A pergunta é muito boa. Existe uma verdade: de uns anos para cá, as coisas mudaram na política no Brasil, no Estado e nos municípios. De seis anos para trás, as coisas não estavam tão divididas do ponto de vista ideológico, “conservador ou não conservador?”, isso agora está no país. E, se você observar a minha história de vida, o meu comportamento, não é oratória, não é nenhuma narrativa, de fato eu entro muito mais no campo do conservador do que no do não conservador. E isso está muito definido. Com essa definição, de alguns anos para cá, eu redefini e estou indo para outro campo, que já está mais definido.
Pode-se dizer que o senhor se descobriu um conservador? Passou a se reconhecer assim do ponto de vista ideológico?
Não. Repito: não é narrativa. Estou há 40 anos dentro de uma igreja [a Igreja Batista]. Estou casado há 32 anos com a mesma esposa [Mara Barcelos]. Repito: não é narrativa. Se você avaliar do ponto de vista da minha vida e do meu testemunho, já que este país está muito dividido nessas questões, então caibo muito mais no campo do conservadorismo.
Então o senhor sempre foi um conservador e agora, dado o estabelecimento do atual cenário político-ideológico do país, com uma polarização muito forte, o senhor passou a sentir uma necessidade maior de se identificar dessa maneira?
Me cabe muito mais no outro campo. E fui cobrado muito pelos nossos eleitores, por quem está nesse campo e conhece minha história, para isso. Então, fiquei feliz de verdade com essa definição pelo PP, que também trabalha nesse campo.
O senhor se sente mais à vontade e mais bem posicionado no campo conservador?
Hoje sim.
Mas, ao longo de toda a sua longa trajetória, o senhor sempre esteve filiado a partidos posicionados do centro para a esquerda. Começou sua militância lá atrás, nos anos 1990, no PT, e depois exerceu todos os seus mandatos por partidos de centro-esquerda (nesta ordem, o PDT, o PSB e a Rede). Essa sua migração para o PP agora, na sua avaliação, consolida sua migração para um campo de centro-direita?
Vamos falar de candidaturas. Quando fui para o PDT, lá em 2004, foi muito numa linha da questão do então prefeito [Sérgio Vidigal], que me colocou nesse campo. Quando fui para o PSB [para disputar a eleição a deputado federal em 2010], foi uma questão muito de conta também. Eu era até secretário [estadual de Planejamento] de Paulo Hartung na época. Até conversei com o Paulo, fui na casa dele na Praia da Costa e fiz valer para ele que, nas minhas contas, eu ganhava a eleição muito facilmente no PSB. Ninguém imaginava, é claro, que eu teria aquela votação que até hoje é a segunda maior da história do Espírito Santo para o cargo de deputado federal. Quando fui para a Rede, no meu raciocínio, eu pensava em liderar um partido aqui neste Estado, a necessidade de ter um projeto estadual, como eu tive. E entendi que, se eu não tivesse isso, eu nunca ia ter um projeto, nunca ia ter uma disputa estadual, porque qualquer outro partido já tinha um cacique maior que eu. E a Rede era o único partido que me proporcionava isso. Então as escolhas desses três partidos, não estou dizendo isso da boca para fora, estou dizendo a verdade para você e para quem está lendo, foi nesse aspecto. Não foi no aspecto ideológico. Nunca foi. Quem estava do meu lado sabe disso. Então sempre tive uma vida e vou ter uma vida com prioridade no social. Sempre tive e vou ter uma vida pensando em fazer o melhor para quem mais precisa. Sempre tive na minha vida, tenho na minha vida e vou ter na minha vida a definição de priorizar a população mais carente, independentemente de ser prefeito ou não, e quero continuar na política e vou continuar na política, se Deus quiser. Você sempre vai ver, no meu comportamento, a questão de priorizar quem mais precisa, principalmente a população de menor renda.
Postura essa que é mais identificada com a esquerda, mas não é prioridade da esquerda…
Exatamente! Eu sempre falava para os meus filhos que tem gente boa e gente ruim em todo lugar. Do ponto de vista de serviço público, na minha vida, não só com mandatos, mas quando eu era secretário ou como funcionário público, sempre entendi que é pela política que você pode ajudar e fazer por quem mais necessita, melhora a vida das pessoas, principalmente quem mais precisa. E vou continuar assim. Ponto. Agora, nas questões do conservadorismo, isso eu também sempre tive na minha vida.
Na agenda de costumes?
Exatamente. Nessa pauta, se você fizer uma retrospectiva da minha vida, volto a dizer: não é narrativa. Como também não é narrativa as questões que sempre defendi para ajudar quem mais precisa. Você, para ser prefeito da cidade da Serra, que é uma das cidades que tem a menor renda per capita, e fazer o que fizemos, isso é revolucionário para a cidade. Se você comparar a Serra hoje com o que era 30 anos para trás, é uma outra cidade. Não fiz sozinho, reconheço isso. Mas nossa contribuição foi grande para mudar a cara da cidade, que era “o quintal de Vitória”, o “Patinho Feio” da Grande Vitória. A gente mudou isso. E tenho clareza, com humildade, mas com sinceridade, que contribuí para mudar isso.
Para encerrarmos esse tópico, então… Vou deixar o PT de fora, como um capítulo à parte, porque foi lá nas suas origens e o senhor nem sequer chegou a ser candidato pelo PT. Mas, tomando PDT, PSB e Rede, o senhor está dizendo então que sua filiação e sua construção de trajetória política nesses três partidos foram algo muito mais circunstancial e por fatores pragmáticos do que propriamente por identidade ideológica?
Sim! É claramente isso. Se você levantar, você vai ver isso. Agora, repito, sempre tive e terei, se Deus quiser, um comportamento de entender que é pela política que posso melhorar a vida das pessoas.
Então onde o senhor está hoje no espectro ideológico? Como identifica a si mesmo? Direita? Centro-direita?
Nosso país hoje vive muito da linha da pauta de costumes. Dentro dessa pauta de costumes, me considero na linha do conservadorismo.
Centro-direita?
Falo pela terceira vez: não é narrativa. Se você observar a minha vida, vai observar que a minha pauta é a do conservadorismo, na pauta de costumes.
O senhor se identifica hoje, então, como um líder político de centro-direita, tal como o PP?
É isso. Trabalho nessa perspectiva.
