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Coluna Vitor Vogas

Coser entra na Comissão de Direitos Humanos da Ales, disputada por Camila e Assumção

Petista passa a ter o voto de desempate na eleição interna, marcada para segunda-feira (27). Voto de Coser é óbvio, e sua entrada no lugar de Allan Ferreira (Podemos) foi costurada nos bastidores por governistas para garantir derrota da oposição na chapa da direita bolsonarista

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Deputado João Coser (PT) no plenário da Assembleia. Foto: Lucas S. Costa/Ales

O deputado João Coser (PT) é o novo membro titular da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. O petista substitui Allan Ferreira (Podemos), que havia sido escalado entre os cinco membros efetivos, mas pediu para sair do colegiado. Com seu ingresso na comissão, Coser passa a ser o fiel da balança na definição de quem vai ficar com a presidência, disputada por Camila Valadão (PSol) e Capitão Assumção (PL).

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Coser já fazia parte da comissão, mas como membro suplente (sem direito a voto na eleição interna). Na manhã desta sexta-feira (24), o deputado Dary Pagung (PSB), líder do governo Casagrande e do blocão parlamentar mais alinhado ao Palácio Anchieta, protocolou ofício indicando a “promoção” do petista a membro efetivo, na vaga de Allan Ferreira. Para o lugar de Coser na suplência, foi indicado o também governista Tyago Hoffmann (PSB).

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Na prática, por uma questão política e matemática, a transformação de Coser em membro efetivo (com direito a voto) tende a assegurar o comando da comissão para Camila Valadão. Aliás, foi exatamente por esse motivo que o petista foi escolhido para substituir Allan Ferreira.

Das 17 comissões permanentes da Assembleia no atual mandato, 16 tiveram presidente e vice-presidente definidos por consenso e chapa única. A de Direitos Humanos é a única com o comando ainda indefinido e com disputa entre duas chapas pelos cargos de presidente e vice-presidente.

A comissão é formada por cinco titulares. Como em todos os colegiados, as vagas foram distribuídas proporcionalmente ao tamanho dos dois blocos parlamentares formados no início da legislatura, no dia 1º de fevereiro.

O bloco maior, formado oficialmente por 18 deputados e liderado por Dary Pagung, teve direito a indicar três dos cinco titulares. Inicialmente, indicou Camila, Iriny Lopes (PT) e Allan Ferreira.

Já o bloco menor, composto por 10 parlamentares e liderado por Hudson Leal (Republicanos), pôde indicar dois titulares. Foram indicados Assumção e Lucas Polese, ambos do PL. De modo geral, esse bloco é bem menos afinado com o governo Casagrande, além de reunir todos os opositores declarados à administração do socialista, entre os quais Assumção e Polese.

Representando a esquerda, Camila lançou uma chapa à presidência da Comissão de Direitos Humanos, tendo Iriny Lopes como candidata a vice.

Pelo flanco da direita bolsonarista, Assumção lançou a chapa concorrente, com Polese na vice-presidência.

Nesse cenário, caberia a Allan Ferreira dar o decisivo voto na eleição (ainda não realizada), para desempatar a disputa.

Allan, repita-se, faz parte do mesmo blocão em que estão Camila e Iriny. É aliado do governo Casagrande e seu partido, o Podemos, faz parte da coalizão governista, com dois secretários de Estado.

Em entrevista a este espaço no último dia 15, Allan expressou grande desconforto com a situação e com a contaminação ideológica da comissão, antes mesmo de os trabalhos começarem.

O deputado não chegou a antecipar voto na chapa de Camila com Iriny, mas indicou que sua tendência seria essa, em respeito ao que havia sido combinado previamente: falando em “quebra de acordo” (por parte dos deputados do PL), afirmou que a negociação entre os dois blocos, na divisão geral das vagas das comissões, previa a presidência da Comissão de Direitos Humanos para Camila Valadão.

Pelo mesmo acordo, mesmo tendo minoria numérica, deputados do bloco menor (PL-PTB-Republicanos) foram contemplados com a presidência de três das 17 comissões: a de Segurança para Danilo Bahiense (PL), a de Turismo para Coronel Weliton (PTB) e a de Proteção à Criança e ao Adolescente para Alcântaro Filho (Republicanos). Portanto, o “outro lado” já havia sido atendido.

O porquê da troca nos bastidores

Allan, porém, preferiu sair da sinuca de bico. Estava no lugar errado na hora errada. Presidente da Comissão de Cooperativismo, ele não tem, em primeiro lugar, identificação direta com a pauta dos direitos humanos.

Em segundo lugar, mesmo sendo da base de Casagrande e do mesmo bloco de Camila e Iriny, o deputado tem perfil mais de centro-direita, além de ser de Cachoeiro de Itapemirim, reduto do bolsonarismo no Espírito Santo.

Se sobrasse mesmo para ele o voto de Minerva na eleição interna da comissão, ele estava, sim, propenso a votar em Camila, por coerência, lealdade ao blocão e respeito ao acordo firmado. Mas poderia ficar numa situação ruim, desconfortável junto ao próprio eleitorado, a quem essa posição poderia desagradar.

Por tudo isso, em conversa com Dary e Tyago Hoffmann, respectivamente líder e vice-líder do governo, Allan pediu para se retirar. A decisão do deputado não só foi compreendida como ajudou o governo Casagrande a resolver o problema.

Dary e Tyago conversaram ontem (23) com Coser, que aceitou de bom grado a missão.

Diferentemente de Allan, Coser é muito mais ligado à agenda de direitos humanos, representa um voto firme e seguro na chapa de Camila e Iriny e fará isso sem o menor constrangimento, muito pelo contrário, já que esse voto vai agradar a seu eleitorado.

Do mesmo modo, após a instalação da comissão, Coser também deve ajudar muito mais Camila, Iriny e o governo Casagrande durante os trabalhos do grupo, garantindo ali inalterável hegemonia numérica, no lugar de um Allan que talvez pudesse oscilar para o lado de Assumção e Polese, a depender da pauta.

Em tempo: para assumir a titularidade na Comissão de Direitos Humanos, Coser decidiu renunciar à vaga de efetivo na Comissão de Segurança e Combate ao Crime Organizado.

Iriny: eleição é na segunda

Como titular mais velha da Comissão de Direitos Humanos, Iriny Lopes tem a prerrogativa de convocar a primeira reunião do grupo, justamente para realização da votação e escolha do/a presidente e do/a vice-presidente.

Iriny informou à coluna que fará isso na tarde da próxima segunda-feira (27), em horário a ser definido após conversa com o presidente da Assembleia, Marcelo Santos (Podemos).

A petista avalia que, com a entrada de Coser no lugar de Allan entre os cinco efetivos, a chapa dela com Camila será eleita sem dificuldades, por uma questão de lógica.

“Acho que sim, porque a gente montou um bloco parlamentar exclusivamente para a eleição de comissões, e a Camila é a candidata à presidência do bloco majoritário. Não acho que teremos problemas com o resultado. Agora, se vai ser tranquilo, se vai ser agitado, só na hora a gente vai saber. Ninguém pode antecipar nada, mas tem aí uma lógica que impera. Nitidamente, a nossa maioria é explícita, inegável e inconteste.”

A deputada ainda confirma que a substituição de Allan por Coser, costurada nos bastidores, também visou garantir uma margem de segurança maior: ainda que o deputado do Podemos estivesse propenso a votar na chapa Camila/Iriny, Coser tem ligação muito mais forte com os direitos humanos e, obviamente, com as duas colegas, por ser um deputado de esquerda e correligionário de Iriny.

Segundo esta, a presença do companheiro de partido representa maior segurança não só na eleição do comando, mas no próprio funcionamento da comissão.

“A troca passou por esse raciocínio. O Allan conversou comigo e falou que tendia a acompanhar a nossa chapa. Ele me disse que, apesar de o Capitão Assumção o ter procurado antes da Camila, o bloco constituído por nós precisava ser respeitado. Agora, no seu perfil, no dia a dia, na história de vida e na história política, o Allan não tem muita identificação com os direitos humanos. O João tem. Com ele na comissão, teremos um funcionamento mais tranquilo.”


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