Coluna Vitor Vogas
Camila Valadão é eleita presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia
Com voto de Coser e em clima tranquilo na medida do possível, ela e Iriny derrotaram a chapa de Assumção e Lucas Polese. Eleição transcorreu em clima de respeito, mas Camila alfinetou o capitão. Primeiras (e profundas) diferenças ideológicas já apareceram, quanto À própria concepção de “direitos humanos”. Saiba o que disse cada um deles
A deputada Camila Valadão (PSol) foi eleita presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, na primeira reunião do colegiado, convocada pela titular mais velha, Iriny Lopes (PT), e realizada às 14 horas desta terça-feira (28), no plenário Judith Leão Castello Ribeiro.
Após dias de polêmica, suspense e até a substituição de um membro efetivo, a eleição transcorreu em clima de bastante tranquilidade, na medida do possível.
Camila terá a própria Iriny Lopes como vice-presidente. A chapa formada pelas duas deputadas de esquerda derrotou a chapa adversária, formada por dois deputados bolsonaristas e filiados ao PL, Capitão Assumção e Lucas Polese, candidatos, respectivamente, a presidente e vice-presidente.
Camila e Iriny venceram a eleição interna por 3 votos a 2. O voto decisivo foi dado pelo petista João Coser, único membro titular que não integrava nenhuma chapa. Correligionário de Iriny e também deputado de esquerda, ele entrou na comissão no lugar de Allan Ferreira (Podemos). O parlamentar de Cachoeiro havia sido escalado inicialmente, mas pediu para deixar o colegiado.
Coser substituiu Allan numa articulação que passou pelo governo Casagrande, para garantir a vitória de Camila e Iriny.
Logo após ser proclamada como nova presidente da comissão, Camila exibiu um cartaz com a mensagem: “Presidenta da Comissão de Direitos Humanos. Vai ter luta!”
Provocação de Camila
A reunião não atraiu a presença de manifestantes na galeria do plenário – um auditório menor da Assembleia.
Foi marcada, logo no início, por uma pequena provocação de Camila a Assumção, começando a dar o tom de polarização ideológica que deve dominar os debates no seio da comissão nos próximos dois anos.
Ao saudar os presentes, Camila exaltou o fato de os trabalhos da comissão se darem em um plenário que leva o nome de uma mulher. Assumção – nome completo: Lucínio Castello de Assumção – aparteou que Judith Leão Castello Ribeiro é sua prima.
A psolista, então, ironizou: “Essa é a tragédia na trajetória da Judith: o grau de parentesco”.
À parte essa alfinetada, a reunião de instalação do colegiado transcorreu em clima de respeito mútuo, equilíbrio e sobriedade.
As mensagens de Assumção e Polese
Derrotados pela chapa de esquerda, Assumção e Polese desejaram sorte e sucesso à presidente eleita, mas marcaram posição. Ambos fizeram falas moderadas.
Assumção afirmou que sua luta será a de levar para os debates na Comissão de Direitos Humanos as vítimas da violência e as pessoas que sofrem com a criminalidade. O deputado mencionou o discurso feito por ele no plenário da Assembleia em 2019, no qual ofereceu a quantia de R$ 10 mil para quem matasse o assassino de uma moradora de Cariacica, morta brutalmente na frente da própria filha, à época com quatro anos.
“O Estado abandonou essa menina”, criticou o deputado, lembrando ainda que o autor desse homicídio nunca foi encontrado e segue em liberdade, enquanto a criança inocente perdeu a mãe.
Por conta do referido discurso, Assumção chegou a responder a um processo aberto na Corregedoria da Assembleia, mas não sofreu nenhuma punição.
Por sua vez, Polese ressaltou que, numa comissão com pouco tempo e poucos recursos, sua prioridade não será a defesa dos direitos humanos de criminosos, mas de cidadãos decentes privados de uma série de direitos. Citou como exemplo os moradores da Serra que têm recebido água suja da Cesan nas torneiras em suas casas.
“É com esse cidadão que eu me preocupo. Não com o presidiário que reclama que sua marmita está azeda”, exemplificou.
As mensagens de Iriny e Camila
Iriny e Camila também trataram de marcar posição.
A petista disse esperar “debates calorosos” no âmbito da comissão. “Vejo que teremos isso, pela fala inicial do Capitão Assumção e pelo que as pessoas já conhecem do que eu penso. Mas com certeza esta vai ser uma comissão que vai produzir, para a Casa, para a sociedade e para os Poderes constituídos.”
Última a se pronunciar, já na condição de presidente, Camila destacou a própria trajetória como assistente social e na defesa dos direitos humanos e lamentou que, nos dias que antecederam a eleição, tenham sido usados argumentos “inverídicos” sobre ela.
Mas, botando panos quentes na fervura, a socialista disse respeitosamente que é bom contar com a participação de Assumção e de Polese nos trabalhos da comissão, pois as diferenças ideológicas e de concepção sobre direitos humanos serão bem-vindas nos debates.
“Seriedade é a marca da minha trajetória e sem dúvida será minha marca na presidência desta comissão. Não tenho preocupações com divergências políticas e ideológicas. Aliás, fiz pós-graduação em divergências políticas e ideológicas na Câmara de Vitória. Estou muito bem treinada e convencida de que o Parlamento precisa ser o espaço da pluralidade”, afirmou Camila, em referência a seus embates com o então vereador Gilvan (também do PL), agora deputado federal.
“Aqui precisam ser expressas as diferenças políticas que estão colocadas na sociedade. Portanto, quero dizer aos deputados Capitão Assumção e Lucas Polese: que bom que estão na comissão e que poderão trazer debates e concepções expressas na sociedade. E, da minha parte, como presidente desta comissão, garantirei o debate político e a divergência.”
A deputada, contudo, fez questão de demarcar a concepção de direitos humanos que ela mesma defende e que espera que pautem os trabalhos do colegiado:
“Primeiro, a importância de reafirmar os direitos humanos como fundamentais e inalienáveis de toda pessoa humana, sem distinção de nenhuma natureza. Aqui nesta comissão, não trataremos pessoas com menos direitos ou como menos cidadãos. Aqui, todo mundo será cidadão, como preveem os tratados internacionais e a legislação barasileira.”
Manifestantes em peso, mas na véspera
Nos últimos dias, Polese convocou em peso seus seguidores nas redes sociais para comparecem à Assembleia e pressionarem a favor da eleição da chapa dele com Assumção.
Respondendo ao chamado, os seguidores compareceram, mas no dia errado. Esperando que a eleição ocorresse ontem, como Iriny disse inicialmente que pretendia fazer, eles ocuparam parte das galerias do plenário Dirceu Cardoso (o principal), durante as duas sessões plenárias realizadas à tarde.
Afixaram cartazes com dizeres como “Sim à família”, “Direitos humanos só para humanos direitos”, “Tire seu ‘todes’ dos meus direitos” e “Capitão Assumção e Lucas Polese, estamos com vocês”.
Mas voltaram sem poder cumprir a missão, já que a eleição ficou mesmo para hoje.
“Vota em mim, João”
Apesar da tensão que cercava a eleição interna, a reunião também teve um momento descontraído. Logo no início, pouco antes de cada um declarar seu voto, Assumção pediu a João Coser, em tom galhofeiro, para votar nele e em Polese. Coser respondeu com uma risada, respondida por outra do deputado do PL.
Quem foi Judith Leão
Judith Leão Castello Ribeiro (1898-1982) foi a primeira mulher candidata à Assembleia Legislativa do Espírito Santo, em 1934. Foi constituinte estadual em 1947, fundadora da Academia Espírito-Santense de Letras em 1949 e fundadora da Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer em 1952.
Para constar
Agora, as 17 comissões permanentes da atual legislatura na Assembleia estão com presidente e vice-presidente definidos.
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