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Coluna Vitor Vogas

Base bolada de Pazolini na Câmara lavará roupa suja com Aridelmo

Com muitos sinais de insatisfação, recados ao prefeito e boicote a projeto da prefeitura, vereadores pretendem levar pauta com apelos ao novo secretário

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Da esquerda para a direita: Leandro Piquet, Aridelmo Teixeira e Duda Brasil

Alguns dizem que o café da manhã virou bolo. Outros dizem que não foi bem assim. Mas é fato que, na manhã da última quarta-feira (29), houve uma tentativa frustrada de se realizar uma grande reunião de vereadores da base aliada com o agora secretário de Governo e principal articulador político da administração Pazolini em Vitória, Aridelmo Teixeira (Novo).

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Uma fonte chega a falar em “boicote”. Outras minimizam o fato, dizem que o convite foi feito “muito em cima da hora” e não foi possível conciliar a agenda de todos. Mas é ponto quase pacífico: não houve um empenho assim tão grande da parte dos vereadores governistas em atender de imediato à “convocação” para esse encontro na última quarta, mobilizado pelo líder do prefeito na Câmara, Duda Brasil (União Brasil), segundo a versão predominante, ou pela própria prefeitura, segundo a alternativa.

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A falta de urgência em atender ao convite pode ser lida como mais um dos múltiplos sinais acumulados nas últimas semanas que apontam para a mesma direção: enfraquecimento, desunião e, acima de tudo, focos de insatisfação dentro da base do prefeito – estes últimos admitidos pelo próprio Duda.

A frustração do encontro na última quarta se soma, por exemplo, à divisão da base na votação do projeto Escola sem Partido; à disputa no último dia 21 entre três aliados do prefeito (Monjardim, Davi Esmael e Luiz Emanuel) pela mesma vaga no Conselho Municipal de Políticas Urbanas; a uma postura cada vez mais autônoma do presidente da Câmara, Leandro Piquet, materializada no encontro a portas fechadas entre ele e o governador Renato Casagrande, no Palácio Anchieta, na última segunda (27); à convocação, também na última segunda, do secretário municipal de Meio Ambiente para ir compulsoriamente prestar esclarecimentos à Comissão de Meio Ambiente na próxima segunda (3); e a um episódio emblemático ocorrido na sessão da última terça (28).

Se, no caso do não atendimento ao café com Aridelmo no dia seguinte, falar em “boicote” pode ser um exagero, no episódio em questão não cabe a menor dúvida quanto à pertinência do termo. Foi literalmente um boicote da base:

A Prefeitura de Vitória enviou para a Câmara um projeto de lei pedindo autorização para abrir crédito adicional de R$ 335 mil para a Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação (remanejamento de recursos dentro do orçamento municipal). É algo muito corriqueiro. A prefeitura queria votação em regime de urgência. O plenário ensaiou votar a matéria, mas a base se articulou com a oposição, o plenário foi esvaziado, a sessão foi derrubada e o projeto não foi votado.

Deixando a marca da tabelinha da base com a oposição, quem pediu ao presidente a recomposição de quórum (recontagem dos vereadores presentes em plenário, para checar se há número mínimo para prosseguimento da sessão) foi ninguém menos que André Moreira (PSol), um dos mais aguerridos opositores de Pazolini.

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E, se ainda restasse alguma dúvida quanto à aplicação da palavra “boicote” ao caso concreto, foi justamente essa a palavra usada por um dos envolvidos, sob anonimato, para definir a operação em plenário. A Câmara quis passar mais um recado altissonante à Prefeitura, certamente muito bem assimilado pelos ouvidos atentos no prédio vizinho.

A pauta para Aridelmo

Mas a frustração do café com Aridelmo na última quarta não quer dizer que a base não queira ir ao encontro do secretário, tampouco que não haverá mais encontro político algum entre as partes. Os vereadores da base querem, sim, ir falar com Aridelmo, inclusive os descontentes e dissidentes, mas querem ir nos seus termos, com uma pauta muito bem definida de reivindicações “para melhorar a relação”.

Para isso, decidiram que, antes de aceitar qualquer convite e em vez de simplesmente brotar lá diante do secretário, vão reunir-se entre si, para delinear uma pauta de reclames que será apresentada a Aridelmo.

Essa reunião também chegou a quase ocorrer na última quarta. Os vereadores ensaiaram realizá-la após a sessão, no fim da manhã ou à tarde. Segundo relatos, “o encontro preparatório” teria sido articulado pelo próprio Piquet, e a ideia era tê-lo realizado no gabinete da presidência da Câmara.

Mas também esse movimento não deu certo, até porque a sessão pela manhã foi bombástica, com a apresentação de dois projetos deveras polêmicos – o que aumenta o número de vereadores e o que dobra o salário deles a partir de 2025 –, de modo que o clima ficou muito pesado entre os parlamentares, até entre os colegas da base, após as discussões muito ásperas que marcaram a sessão.

Noves fora, segundo Duda Brasil, essa reunião entre eles deve ocorrer na próxima segunda (3). De lá eles pretendem sair com a pauta para apresentar a Aridelmo, em data a marcar.

“Combinamos de marcar uma reunião só entre os vereadores na próxima segunda, após a sessão. Vamos ver um horário melhor com a turma. O motivo da conversa que queremos marcar com Aridelmo é entender bem qual vai ser o formato das tratativas entre o governo e os vereadores da base neste segundo biênio do mandato. O que será necessário? Como vamos caminhar? Como o Aridelmo pensa? Queremos nos aproximar mais”, conta Duda.

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Enquanto esse café da manhã não chega, o bule na base pazolinesca segue fervendo.

Sin duda nos es fácil

O líder do prefeito na Câmara admite a existência de focos de tensão e de descontentamento entre os seus colegas de base. Como líder, o ex-jogador de futebol de areia está buscando fazer o meio de campo (o que pensando bem nem existe na modalidade), isto é, exercer o papel de mediador entre as partes:

“É justamente o que vamos fazer: entender as dificuldades relatadas por cada vereador. Por isso achei melhor ter uma conversa com o secretário Aridelmo, para ver se a gente consegue sanar esses desentendimentos.”

Duda também reconhece que, nesta segunda metade do mandato, sem dúvida – em espanhol, sin duda –, o relacionamento da Câmara com a Prefeitura será naturalmente mais difícil, até porque os vereadores já entram no modo reeleição, são mais cobrados pelas respectivas comunidades e, na mesma proporção, querem mostrar mais serviço (com entregas e resolução de problemas).

“Não será um biênio fácil. Agora, começa uma cobrança maior das comunidades por ações. Os vereadores precisam pontuar para o secretário o que é necessário em suas comunidades.”

Assumindo-se como autor da operação adiada para levar os vereadores a Aridelmo, Duda acredita que a relação, embora estremecida, está longe de ter entrado na UTI e pode muito bem ser restaurada com a criação de um bom canal de diálogo com o novo articulador político do prefeito:

> Assembleia cria cargos e mais R$ 14,7 milhões em gastos até 2025

“Como líder do governo, identifico que às vezes pequenos problemas podem ser resolvidos com diálogo antes que se tornem grandes. Aí a gente começa a criar um caminho mais tranquilo. São pequenas coisas que dá para ajustar. Quando está ruim é que não dá para ajustar mesmo.”

Afinal, quantos vereadores tem a base hoje?

Afinal, quantos vereadores de Vitória realmente estão 100% fechados com a gestão de Pazolini hoje, dia 31 de março de 2023?

Para Duda, a conta é simples. Nos dois primeiros anos do mandato, eram 13 dos 15 vereadores. Apenas Karla Coser (PT) e a agora deputada estadual Camila Valadão (PSol) faziam oposição ao prefeito. Agora, segundo o líder, são 12, descontados os três vereadores oposicionistas: a Karla Coser juntaram-se André Moreira e Vinicius Simões (Cidadania), empossados em janeiro.

Com relação à primeira parte do raciocínio, não cabe a menor duda. A gestão Pazolini realmente nadava de braçada na Câmara. Quanto à contagem atual, há fortíssimas controvérsias.

De oposição declarada mesmo, só há os três citados representantes da esquerda, aliás bem integrados. Mas vereadores como Aloísio Varejão (do partido de Casagrande, o PSB) e Anderson Goggi (PP) têm assumido postura muito mais independente e até se aproximado da oposição de esquerda em algumas situações. Goggi teria saído há poucos dias do grupo de vereadores da base no Whatsapp.

Suplente do afastado Armandinho Fontoura (Podemos), Chico Hosken (Podemos) também veio do PT e tem muita afinidade com a esquerda.

> Piquet: “Sou contra mais vereadores em Vitória. Número é suficiente”

Luiz Paulo Amorim (Solidariedade) é um antigo aliado de Casagrande. Preside a Comissão de Meio Ambiente, responsável por convocar o secretário de Meio Ambiente de Pazolini, Tarcísio Föeger, para prestar informações sobre o esgoto lançado no mar.

Com origens na esquerda, Luiz Emanuel (sem partido) tornou-se um bolsonarista de quatro costados, mas, após a derrota retumbante sofrida pela Frente de Direita na votação do Escola sem Partido, disse na sessão, para quem tivesse ouvidos, que passaria a repensar se seguiria votando com a prefeitura em plenário. Foi o autor da proposta de convocação do secretário de Meio Ambiente. À coluna, acusa uma “comunicação muito ruim” de secretários da prefeitura com a própria base.

Vereadores a princípio de direita, mas sem um posicionamento ideológico muito bem definido (espécie de “Centrão” da Câmara), como Dalto Neves (PDT) e Maurício Leite (Cidadania), também têm tomado, segundo colegas, um caminho de maior independência.

E até Leonardo Monjardim (Patriota), substituto de Gilvan da Federal (PL) após o TRE lhe cassar o mandato, já andou votando com os três vereadores de oposição – contrariando orientação da prefeitura. O agora patriota, que já passou por PT, PDT e pela administração de João Coser (PT), também afirmou à coluna que, se o projeto for bom, votará a favor, ainda que venha do PSol ou de qualquer representante da esquerda.

De Davi a Piquet

Embora seja ex-líder de Pazolini e correligionário do prefeito no Republicanos, o presidente Leandro Piquet é outro que se mostra cada vez mais afastado (por vontade própria ou empurrado para mais longe) e pouco satisfeito com a articulação política da prefeitura, o que se reflete na maneira como tem conduzido o Legislativo, de maneira não subserviente.

Se não chega a ser uma condução absolutamente independente, é sem dúvida muito menos ligada politicamente à gestão de Pazolini do que foi a Câmara nos últimos dois anos sob a presidência de Davi Esmael (PSD) – este, sim, um aliado inseparável e incondicional do prefeito.


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