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Coluna Vitor Vogas

A portas fechadas, Piquet e Casagrande se reúnem e discutem eleição em Vitória

Olho nele: correligionário de Pazolini, Piquet também está no jogo da eleição para a Prefeitura de Vitória. Enquanto isso, governador exercita cenários e pode estar buscando emparedar prefeito eleitoralmente

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Leandro Piquet e Renato Casagrande

O presidente da Câmara de Vitória, Leandro Piquet (Republicanos), foi ao encontro de Renato Casagrande (PSB) na tarde de ontem (27), a convite do próprio governador. Foi um diálogo a portas fechadas. Não foi mera visita de cortesia nem apenas estreitamento da relação institucional com o chefe do Poder Legislativo de Vitória. O conteúdo da conversa foi essencialmente político. Ou, para ser mais preciso, político-eleitoral.

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Sem rodeios, o governador perguntou a Piquet quais são seus planos eleitorais para o ano que vem. O presidente da Câmara respondeu que certamente vai participar do processo eleitoral em Vitória, a princípio como candidato à reeleição. A princípio.

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É preciso estar atento ao movimento político de Piquet. Eventual participação do delegado licenciado na disputa majoritária em Vitória não pode ser inteiramente descartada. Hoje todos têm consciência de que uma candidatura de Piquet ao Poder Executivo da Capital é muito improvável, mais ainda pelo Republicanos, partido do prefeito Lorenzo Pazolini.

Um salto como esse demandaria uma grande combinação de fatores, que hoje não está posta. Mas é aquela história: se daqui a cerca de um ano o cavalo passar arreado… o presidente da Câmara quer estar preparado para montar. E parece empenhado em trabalhar até lá com esse intuito: ser lembrado pelos dirigentes partidários quando chegar a hora e, se essa hora chegar, estar pronto para agarrar a chance.

Piquet, enfim, não pode ser ignorado no jogo… mais ainda com a projeção que já está adquirindo como presidente da Câmara e que só tende a se amplificar no próximo ano.

É preciso estar atento, igualmente, ao movimento político de Casagrande. Institucionalmente, o governador não fechou as portas para Pazolini e não tem se negado a acolher o movimento de reaproximação protagonizado pelo prefeito desde o início deste ano, após um 2022 em que o antagonismo público entre os dois foi levado ao limite.

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Ao menos nas aparências, prefeito e governador realmente elevaram o nível do relacionamento institucional. O governador tem atendido a convites de Pazolini para eventos oficiais, e vice-versa. Tratando-se cordialmente, os dois têm sido vistos juntos em solenidades do governo e posado sorridentes para fotos. Exemplo recente foi o passeio inaugural do primeiro barco do aquaviário. Isso, repito, do ponto de vista institucional.

Política e eleitoralmente, a conversa é muito diferente. Como se diz em inglês, this ship has sailed, este navio já zarpou há muito tempo e já dobrou o Cabo das Tormentas. Já não há aliança política possível de Casagrande com Pazolini, não depois de tudo o que houve, e muito pouca gente duvida que o governador fará o que estiver a seu alcance, discretamente ou nem tanto, para ajudar a derrotar o atual prefeito na eleição municipal em Vitória.

Isso pressupõe, é claro, monitorar continuamente o processo, saber quem são as outras forças no jogo, os potenciais adversários do prefeito (externos e internos), sentir a temperatura e o pulso dos atores envolvidos… o que inclui Leandro Piquet – de novo: até pela visibilidade que ele está adquirindo.

O governador também parece estar batendo na parede política erguida em torno de Pazolini para sentir onde está o ponto mais vulnerável. Está buscando descobrir qual é o elo mais frágil. “Frágil” não o sentido de fraqueza política, mas de predisposição a uma aliança. Dentre os líderes políticos postados em torno do prefeito, quem mostra maior propensão a romper com esse grupo e compor com o de Casagrande? Onde está o tijolo mal encaixado, o furo na fortaleza por onde se pode penetrar?

Nesse aspecto, talvez Casagrande tenha encontrado em Piquet um potencial aliado.

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Pontes e pontes

Desde que assumiu a presidência da Câmara de Vitória, no dia 2 de janeiro, Piquet já tinha recebido e postado fotos com integrantes do primeiro escalão do governo Casagrande. Essa foi a primeira vez que conversou com o próprio governador na condição de chefe do Poder.

Como presidente da Câmara, Piquet tem se apresentado continuamente como “ponte”. Quando indagado sobre a reaproximação da prefeitura com o governo estadual, declara que quer servir como ponte entre os dois entes para ajudar a reconstruir a deteriorada relação.

Mas a conversa de ontem não teve nada a ver com ajudar a reerguer a ponte entre Pazolini e Casagrande. A ponte que se começou a erguer é direta mesmo: entre Piquet e o governador. Ponte institucional entre Câmara de Vitória e Governo do Estado, mas sobretudo ponte político-eleitoral entre as duas pessoas físicas.

Preferência é de Pazolini, mas todos exercitam cenários

O delegado licenciado da Polícia Civil é filiado ao Republicanos, de Pazolini. No início do atual mandato (2021), Piquet foi o primeiro líder do prefeito e colega de carreira na Câmara de Vitória, função hoje desempenhada pelo vereador Duda Brasil (União Brasil).

No Republicanos, em se tratando da eleição para a Prefeitura de Vitória, todos sabem que a preferência é toda de Pazolini, como atual ocupante do gabinete. O prefeito não comenta o tema reeleição nem admite pré-candidatura. Quando indagado sobre o tema, diz-se 100% focado na gestão. Faz parte do jogo a esta altura, para evitar desgaste desnecessário com a possível associação de iniciativas da prefeitura a interesses eleitorais.

Mas, se daqui a cerca de um ano Pazolini quiser buscar a reeleição, ele é o candidato natural do Republicanos, e parece impossível que a direção do partido negue legenda a um prefeito no exercício do mandato, algo que no Espírito Santo só encontra precedente na Serra em 2008.

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(Naquela eleição municipal, Audifax Barcelos não obteve do PDT a legenda para disputar uma reeleição tida como certa, mas o caso era muito diferente: o PDT é (e segue sendo) controlado no Espírito Santo por Sérgio Vidigal, que queria ser (e foi) o candidato a prefeito da Serra no lugar de Audifax.)

Enfim, a avaliação geral é que hoje, independentemente das chances de vitória nas urnas, se Pazolini quiser ser candidato à reeleição por seu partido, a legenda do Republicanos será dele. Mas isso não impede atores políticos do próprio Republicanos e outros diretamente interessados em Vitória, como o próprio governador, de realizar exercícios com cenários alternativos.

E é aí que Piquet entra no jogo, assim como outros azarões. Pazolini pode sair do Republicanos e se lançar por outro partido? Piquet pode sair do Republicanos na próxima janela partidária? O próprio Republicanos pode buscar alternativas a Pazolini, como o presidente da Câmara? No plano das hipóteses, são exercícios válidos, e nada pode ser desprezado.

Piquet x Casagrande: mágoas passadas

Não se pode esquecer que Piquet também já protagonizou seus desentendimentos públicos com o governo Casagrande. E não faz muito tempo.

Em janeiro deste ano, logo após se tornar presidente da Câmara, ele anunciou a decisão de se licenciar do serviço como delegado da Polícia Civil (subordinada à Secretaria de Estado de Segurança Pública, portanto a Casagrande). Até então, ele seguia exercendo suas funções como policial e acumulando-as com o exercício do mandato.

Em outubro de 2021, por decisão superior, ele foi transferido da Delegacia Especializada de Pessoas Desaparecidas (DEPD) para o plantão do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória.

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Na oportunidade, Piquet chegou a gravar um vídeo em que classificava a transferência como “represália” e “perseguição política” promovida pela “velha política”. E endereçou-se a Casagrande: “Governador, ainda dá tempo de rever sua decisão. Me deixe trabalhar!”

Segundo Piquet, a transferência lhe impossibilitava conciliar as duas atividades, em razão dos horários dos turnos.

Em nota emitida por ocasião do episódio, a Polícia Civil informou que, no mesmo ato, havia transferido Piquet e outros dois delegados “por decisão administrativa” e “por motivos estritamente operacionais em decorrência da necessidade de otimizar a distribuição de efetivo policial, visando ao melhor atendimento à população”.

Na mesma nota, a Polícia Civil argumentou o contrário de Piquet. Como adjunto da DEPD, ele precisava cumprir 40 horas semanais em horário de expediente administrativo, das 8h às 18h, conflitante com o cumprimento das obrigações como vereador. Já o plantão na DHPP permitiria “flexibilidade de horários” e seria “compatível com as atividades legislativas”.


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